Zuleica não aguentava mais. Toda vez que tocava o celular,João Henrique se escondia para atender. Disfarçava, falava "mais um engano,número errado, toda hora é essa chateação, qualquer dia jogo fora esta bosta".Zuleica se remoía de desconfiança. Devia ser alguma sirigaita atrás do marido. João Henrique era tudo de bom: forte,trabalhador,dedicado à famíla. Mas ultimamente andava nervoso, sempre com um compromisso na rua,parecia que estava com o bicho carpinteiro. Olhava o relógio toda hora, e ainda o perfume...Nunca deu bola pra perfume, agora anda comprando uns importados falsificados, será que virou gay? E na hora de dormir,inventa qualquer coisa, um filme, um jogo na TV,Zuleica com camisola de seda e tudo e ele nada. Mais o chiclete. De menta. Mascando aquela coisa gosmenta, nem bebia mais, se bebesse não podia sair.
Zuleica comentou tudo isso com a Mirinha, "estou achando que João Henrique está me traindo". Mirinha não é especialista em traição, mas já viu tanta novela que sabe tudo de safadeza.
- Olha aqui, Zuleica: Tem um esquema infalível. Pega o celular, anota os números repetidos e liga, mas tem que ter um ship novo pra não descobrirem que és tu chamando...Se uma mulher atender, inventa uma desculpa, diz que é da Renner e quer mandar um presente. Pega o endereço.
Foi fácil demais. Nem precisou do presente da Renner.A voz inconfundível da Izabelita disse alô. Zuleica quase morreu. Izabelita.
- Mirinha, a sirigaita é a Izabelita, mulher do Adroaldo da padaria. Com três filhos. Safada. O marido amassando pão e ela sovada pelo MEU marido. É hoje que boto aquele cachorro pra fora de casa! Atiro as roupas pela janela. E chamo o Adroaldo. Eu quero sangue!
- Calma, Zuleica.Tem uma vingança maior.Pega as cuecas e a escova de dentes do João Henrique e leva pra Izabelita.Ela que usa o caralho, ela que lave as cuecas do garanhão.E diz que depois vais mandar as malas. E os filhos do Pedro Henrique pra morar com ela.Me conta, depois da visita.Sempre funciona.
Zuleica fez bem assim.
- Mirinha, ela abriu a porta e ficou disfarçando, grande amiga, ela. Eu não dei nem tempo de ela abrir a boca - a Zuleica contou tudo, telefonema demorado, esse - fui logo atirando as cuecas e a escova de dentes na cara dela, ela que lavasse as cuecas do sem-vergonha - a vagabunda chorou, pediu perdão, jurou nunca mais ver o Pedro Henrique, tinha sido uma vez só, ela e o padeiro Adroaldo viviam bem, tinham filhos, não podia estragar a vida.
- Zuleica, tu perdoaste? Agora és uma chifruda e santa?- Mirinha sabia o fim da história. Foi assim com a Paula Maria.Com a Nereida Marta. E com a Eva Cristina. Elas, as cornas, sempre perdoavam.
- Deixa eu te contar o resto, Mirinha.-Zuleica estava cheia de razão- Cheguei em casa, disposta a jogar as malas do safado do Pedro Henrique pela janela,ele entrou como um furacão, olhar de assassino, de certo tinha falado com a vagabunda, quis ganhar no grito, que eu estava louca. Mandei "cala a boca que o padeiro vai saber agora mesmo". Pedro Henrique murchou, Adroaldo era grandão, o rei do pão,ia fazer farinha do Pedro Henrique.

Mirinha já sabia que seria assim. Quem tem pena é galinha, Zuleica. E chifre só dói quando nasce.
Zuleica,a corna, perdoaria Pedro Henrique. Adroaldo, o padeiro corno, nunca saberia. A sagrada família estava salva.
Pois a receita da Mirinha é infalível. Nenhum caso de traição resiste a juntar escovas e lavar cuecas.
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