MINHA VIDA É UM PALCO

MINHA VIDA É UM PALCO
Somos como atores neste palco que é o mundo, as cenas são os dias e noites, e o roteiro quem escreve é a VIDA!A vida depois dos 60. É começar novo, novos horizontes, um mundo diferente e muito mais LEVE! A gente está sempre começando, sempre aprendendo...E aos 60 anos, a gente nasce de novo! A minha Infância da Maturidade! COMO SERÁ NOS 70?Na minha ADOLESCÊNCIA da Maturidade...CHEGUEI! Cheguei chegando imaginando a vida toda...70 ANOS! BÓRA LÁ QUE A VIDA TÁ PASSANDO!!!E até uma PANDEMIA!Nunca pensei ...De repente, ficar presa em casa, sozinha. Se sair, o CORONA VÍRUS pega. Horrível todo mundo sem se tocar.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

O SEQUESTRO


Passou um ano. O medo ficou.Ou trauma.
Isso nunca vai acontecer comigo - É o que todo mundo pensa; eu também assim pensava, até que aconteceu. Só agora consigo registrar. As palavras concretizam as imagens.
As figuras são ainda muito nítidas; todo entardecer, se estou na rua, a sensação é de pânico. Parece que vai acontecer tudo de novo.Foi assim:
   Dezoito horas, voltando pra casa, cheguei na Droga Raia,esquina da rápida com Água Verde hora de muito movimento, comprei meus remédios novos, eu estava muito feliz, minha labirintite finalmente seria resolvida com o novo medicamento. Fui ao estacionamento da farmácia, abri a porta para entrar no carro e dois homens me empurram pra dentro, um deles apontava uma pistola daquelas de filme, tipo Luger alemã, continuou me empurrando para o lugar do carona,tomou o lugar de motorista.
- O que é isso? - eu falava sem parar - o homem mandou eu calar a boca, se quisesse ver meus filhos...O outro homem já estava no banco de trás.
Estou num sequestro - devo ter pensado.
 Tudo muito rápido, o carro saiu de ré, o homem dirigindo, eu nem sei o que eu dizia. Um mundo estranho dentro do carro, parecia que eu estava sendo abduzida, tentava gritar, o homem dizia "Cala a boca, se quiser ver a família".
    - Pode levar o carro, mas me largue na minha casa, eu não posso caminhar.    " Cala a boca, está me deixando nervoso". O outro, no banco de trás, empurrou uma arma no meu pescoço, "fique calma que nada vai lhe acontecer". O meu motorista sequestrador estava muito raivoso, entrou numa rua calma, subiu na calçada, parou quase num muro, mostrou a arma novamente e gritou   "Cala a boca, está me deixando nervoso" e pegou a arma da cintura.
 Na minha mente,  surgiram as palavras Nunca Reaja a Um Assalto. Tentei me concentrar. Estava a poucas quadras de minha casa.
    - Me deixe na minha casa!
Que bobagem eu ia fazer! O Homem perguntou"onde é?" .Nesse momento me dei conta do perigo.
    - Na padaria, moro em cima - menti.
Pensei que lá estava cheia de gente, o bandido não teria como parar lá.
  "Liga para os filhos".
    - Não tenho ninguém aqui, me abandonaram, os cretinos,moram em outro país, só tenho uma velhinha que me acompanha - pensei em apelar para os sentimentos dos bandidos - como se bandido tivesse sentimento! 
   O carro correu até uma rua escura, quase na Delegacia de Roubos, ironia, isso.
   Minha bolsa já estava explorada, meus cartões com eles - por azar meu, nesse dia tive pagamentos e andava com o cartão do banco e o de crédito...
     Uma caneta e um papel,  "escreve as senhas, se estiver tudo certo vou te largar"...
Eu já estava calma, raciocinando, mas com muito medo.
  " Qual o caixa mais perto?"
Pensei no Festval, mas tinha muita gente perto do caixa 24  horas, perigoso no caso de um tiroteio, no Wall Mart era mais tranquilo...e na entrada sempre tinha guarda...Indiquei como chegar, acabar logo com isso,  o carro entrou no estacionamento, paramos na frente do caixa 24 horas, o motorista-bandido desceu com meus cartões: "Se ela se mexer, mete bala nela"  - falou para o bandido do banco de trás...o cara enterrou a arma nas minhas costelas e falou: "Se a senhora ficar calma, "ele" não vai fazer nada, mas é muito nervoso, não faça nada...Ele não vai matar a senhora se ficar calma...Mas é ex-presidiário, cuidado".
Olhei pelo retrovisor, era um rapazinho, talvez até menor, pensei em abrir a porta e gritar, ele leu meu pensamento, "não se mexa, não quero machucar a senhora". 
    Então...já que estou sequestrada, vou negociar com o sequestrador,lembro que parecia uma série de TV...Continuei olhando pelo retrovisor, um jovem, não parecia bandido, roupas pobres, mas uma arma...
O bandido motorista voltou, reclamando que faltava uma letra para acessar o cartão.
-Não lembro.Nem tem dinheiro nesse banco. Não uso.
Era verdade. Uma conta no Banco do Brasil que foi poupança, eu devia ter encerrado...
- Dá um jeito,liga pra casa...
- Só tem uma velha surda que não sabe de nada, deve estar na vizinha, vendo novela.
Acho que já eram mais de vinte horas.
Dessa vez, olhei bem meu sequestrador. Um moreno magro, cabelo bem cortado, meio calvo, brincos brilhantes, jaqueta azul com colchetes prata, olhar de mau...Sustentei o olhar:
     - Me larga, já tens cartões ativos e as senhas, esse não presta, não tem nada.Está perdendo tempo. 
   Ele me olhou diferente, duvidando, mas bateu a porta e se foi, entrou novamente no supermercado.O bandidinho me disse " Ele vai fazer compra, fique calma." Mexia no meu celular: " Quem é Elenir?"
 - É uma amiga que mora na Argentina - respondi, me achando muito esperta.
   " Quem é Juliana?"
    - É enfermeira.Moço, por favor, me devolva o chip, se acontece alguma coisa comigo, só tenho essa agenda, não tenho ninguém em Curitiba, e esse celular nunca tem crédito...
Surpresa quando ele me deu o chip, a bolsa e meus documentos. " Não diga pra ele."- e me senti cúmplice do bandidinho.
     - Deixa eu ir embora!
" Fique calma que ele vai largar a senhora quando acabar tudo."
Pegou a arma, novamente, como dizendo " Acabou a trégua". Pessoas passavam e ninguém olhava para dentro do carro. Quem poderia imaginar que havia uma mulher e seu sequestrador?
O bandidão voltou com um carrinho cheio de compras, abriu o porta malas e encheu de coisas. Passar cartão com chip é fácil. Vai saber...
Saímos com as câmeras filmando, o bandidão colocou o braço na frente da cara para inserir o cartão e abrir a cancela. Fácil, assim. E eu na esperança que me largasse...Mas não foi ainda.
Tive que orientar qual a rua que levava até o Shopping Água Verde, dali ele sabia...mas não acertou. Queria ir para Tarumã, fomos parar no Jardim Botânico, eu falei que estávamos no caminho, mas ele não me ouviu, disse que sabia ir por outro trajeto.
- O senhor deve ter mãe. Imagina se ela é sequestrada.
" Tudo é culpa de vocês que votaram no Lula" - o homem falou.
- O que isso tem a ver com sequestrar uma idosa? O senhor não sabe em quem votei. Parece mentira? Mas eu lembro como se fosse agora. Eu estava negociando?
" Vou entregar essas compras pra uma família que não tem o que comer, culpa do governo e de vocês."Não sei por que o homem continuava falando...
- Minha culpa? Trabalhei muito toda minha vida, o senhor não sabe...
" Quieta. Fique quieta."
- Estou com sede, preciso tomar remédio, estou com enjoo - falei.Já estava perdendo a paciência. Pensando em abrir a porta e me jogar.
" Vou comprar água, fica calma". Voltou para o centro da cidade e parou num Mercadorama. Mais compras. Estacionamento. Chuva. Dessa vez, um homem até olhou para o carro, coloquei minha mão no trinco, mas o bandidinho estava alerta:
" Não se mexa". Dessa vez, a voz soou diferente.Não me mexi.
O bandidão trouxe garrafas de água e cheeps, abriu a porta e nos entregou. Voltou para o supermercado. O bandidinho me passou as águas e um saco de cheeps de cebola.
" A senhora gosta de cheeps de cebola?Ele só comprou isso."
- Gosto, obrigada. Tu és filho dele?
Sem resposta, quem cala consente.
- O que vai acontecer agora?
" Ele vai entregar as compras e depois larga a senhora. Mas fique quieta. Nada vai lhe acontecer. Mas fique quieta."
Mais compras. Papel Higiênico, fardão, coca-cola, muitos sacos, encheu porta-mala e o banco de trás, o bandidinho ficou apertado. Um saco com cigarros. Saímos. Gente passando ao lado do carro e eu sem poder me mexer. O bandidinho abriu pacote de cigarro, passou para o bandido, acenderam e eu falando:
- Não acredito que vão fumar aqui dentro, eu nunca deixei ninguém fumar no meu carro!
O moreno abriu um pouco as janelas.Já estávamos na linha verde.
" Abaixa a cabeça. Não olha para os lados. "
Eu sabia que era a linha verde pelas obras. O carro pulava nos buracos.
- Não corre - falei - queres quebrar meu carro? E se a polícia te obrigar a parar?
O bandidão se acalmou.
" Mais um cigarro, pai?"
Ah, então era pai. Bem que eu pensava.
" Agora não".
Imaginei que era por minha causa. Será que eu estava com a síndrome da amizade entre sequestrado e sequestrador?Tanto tempo dentro do carro, que eu já estava amiga dos bandidos...
Depois de muito tempo correndo na estrada o homem avisou:
" Vou entregar as compras pra quem está com fome e volto pra pegar vocês. Qualquer coisa, usa a arma."
Desci com o bandidinho numa parada de ônibus numa estrada deserta.
"A senhora fique olhando pra baixo, se chegar alguém, diga que está esperando o ônibus. Só."
Entendi. Não queriam que eu soubesse onde era a casa dos pobres que estavam com fome. Olhei para minha mão. O anel da minha mãe estava ali, sempre meu talismã, tirei-o e guardei-o no bolso da calça. Vá que quisessem meu anel de proteção.
- Não tens aula, hoje? perguntei para o bandidinho.
" É de manhã."
- Por que estás nessa vida? Nunca acaba bem.Fui professora e muitos alunos conseguiram se salvar. Viver sem ter que fugir da polícia todo o dia.
" Professora de quê?"
- De Literatura.
" Não gosto."
- Que pena. Literatura ensina a viver. Gostas de quê?
" De Matemática. Agora fique quieta."
Um carro se aproximou. Passou. Ninguém olhou.
- Estou cansada e com frio. Até quando vamos ficar aqui?
   Pensei que se eles me matassem, podiam me jogar no rio que passava por baixo de onde estávamos, só dariam por minha falta em dois ou mais dias, afinal, essa hora eu devia estar em casa, vendo Saia Justa. E nem pensar em fugir, era mato e estrada. Nenhuma casa.Apenas uma luz na parada.
- Até que horas vamos ficar aqui? Estou gelada.
" Vou ligar" - e pegou o celular.
" Mãe? O pai já chegou? ... Quem está aí contigo? ...Tá. Dez minutos?..."
" Daqui a pouco ele está aqui."
Realmente, em seguida chegou, mandou entrar depressa, saiu correndo, eu não tinha coragem de perguntar: E agora?
Rodamos, contornos, rotatórias, era bem pra eu me perder, li "Pinhais"numa placa...Falei:
- Já fez tudo, colaborei, agora me larga.
Nada.
Outro lugar estranho, uma rua escura com casinhas e luzes apagadas, devia ser quase meia-noite.
" Não vai dar parte na polícia, nem ligar pra ninguém. Entendeu?  Desce."
- Como desce? Prometeste que eu ia voltar pra casa, eu não sei onde estou...
" E o anel?"
- Que anel?
" O anel, passa, e os brincos..."
- Tudo bijuteria....Com tristeza, mas sabendo que ele poderia de dar uma coronhada, sei lá o que faz um bandido, até ali ninguém tinha me tocado.
" Passa, depressa."
- Como eu volto pra casa? Vocês ficaram com minha carteira.
"Quanto tinha na carteira?"- falou o pai bandido para o bandidinho filho.
" Vinte reais, só".Respondeu o filho.
"Passa."
Me deu os 20,00, disse:"Ali na frente passa ônibus, tem que pegar o que vai pra Curitiba, entendeu? Agora desce."
 - E meu carro?
" Desce."
Desci. Minha bolsa com o chip do celular e documentos,da carteira sô os vinte reais.
" Seus remédios." Me passou a sacola da farmácia com os remédios que eu tinha comprado.
" Sua muleta" - o filho do ladrão me passou a muleta que eu carrego atrás no carro se precisar numa crise aguda de joelho.
Vi meu carro branco ir embora.Fiquei assim,sem saber onde estava, com uma muleta,um saco plástico com remédios, uma bolsa com minha habilitação e meu chip do celular, sem o anel que minha mãe me deu antes de morrer,  numa rua escura, cercada por casinhas apagadas, uma quadra dali uma estrada ou avenida iluminada com movimento, até onde eu devia ir.Devia ser meia-noite. Estava frio.E eu estava viva. Ou não?
Comecei a caminhar, em direção à luz. Um cachorro latiu, uma porta se abriu:"Passa, cachorro!", uma mulher gritou e eu também gritei:
- Me ajude, fui assaltada!
A porta se fechou, para se abrir de novo, e uma mulher recortando a luz com um rapaz atrás dela.
- Senhora, levaram meu carro, por favor, me socorra!
Ouvi o moço dizer " Mãe, tinha um carro branco parado ali."
A mulher foi até o portão, abriu-o e eu já estava na luz.
"Entre, venha, o que aconteceu?"
- Fui sequestrada numa farmácia em Curitiba, não sei onde estou, desde a tardinha os ladrões estavam comigo dentro do carro, me largaram aqui.
A única cadeira da casa foi trazida pra mim. O moço estava fritando rodelas de berinjela, me convidou para jantar com eles. A mulher pegou o celular, perguntou se eu queria chamar alguém, eu não sabia onde estava, como chamar minha família? Pedi que chamasse a polícia. Passei meus dados, a placa do carro. Mandaram que eu esperasse ali. Pediram o endereço da mulher. Ela foi na vizinha trazer um maracujá para fazer suco pra mim.
" O que roubaram da senhora?"
- Meus cartões do banco, o celular e o carro e o anel da minha mãe.
Um menino de terno preto camisa branca e gravata preta, e pés descalços, estava com um caderno e caneta num colchão de casal no chão, levantou-se e veio até onde eu estava, com uma Bíblia na mão. Muito loiro, olhos azuis. "A senhora quer que eu leia a Bíblia? A senhora aceita? Vai fazer bem, fique tranquila agora, vamos cuidar da senhora." 
A mãe explicou que recém haviam chegado da igreja. " Vou ser pastor" - falou o menino - " estou estudando, fazendo a lição da escola.A senhora é da igreja?"
- Sou católica, mas gosto muito de todas as igrejas e leio a Bíblia - falei, como se estivesse há anos com aquelas pessoas.
" Minha avó também é católica, mora em Porto Alegre, mas carrega o cartão do banco assim" - fez um gesto para dentro do paletó, na altura do peito.
A mulher me mostrou um pote de creme para limpeza que ela produzia. " É isso que agora eu faço", ela falou. O menino contou que a mãe era viúva, mas tinha um namorado que queria casar com ela, mas ela não queria. O outro rapazinho foi na geladeira tirar uma fatia de berinjela para fritar pra mim.  " Lê uma passagem da Bíblia pra ela".Chegaram uns homens, que também vinham da igreja, olharam com desconfiança para mim.Dois eram também filhos da mulher. Nádia. Nome dela.
Ruído de carro chegando, a polícia, saímos todos pra frente da casa.
Policiais registrando tudo, boletim de ocorrência, estranharam eu ter minha habilitação.
Resumi a história. Perguntaram se eu tinha sido agredida. Em nenhum momento , a não ser a arma apontada sempre.
" Encontramos seu carro. Quando recebemos o chamado dessa senhora, uma viatura perseguia um carro branco, o qual foi abandonado aqui perto, a placa confere. Vamos levar a senhora até lá.
Abracei Nadia e seus filhos, pedi o número de seu celular para agradecer, ela veio com o pote de produto de limpeza, ali estava um rótulo com o número do celular, eu quis dar os 20 reais em pagamento ela não aceitou, o menino me disse " É um presente pra senhora não ficar triste."
Saí no carro da polícia, aquelas pessoas ficaram acenando, como uns anjos que apareceram na minha vida. Como se um capítulo da novela tivesse um desfecho.

Meu carro estava estacionado frente a um campo de futebol, acho, um muro comprido, fechado, sem a chave. Os policiais me aconselharam a trazer o carro, para evitar todo o transtorno de apreender para o depósito e no outro dia ir até Piraquara. Pois eu estava em Piraquara! Só tinha um jeito: buscar minha chave reserva em Curitiba.
Liguei para meu genro do celular de um dos policiais. Minha filha atendeu o telefone, de madrugada, e eu dizendo:
- Fica calma, fui sequestrada, estou em Piraquara, a Brigada e a Polícia estão comigo, preciso falar com meu genro.
Não tinha outra forma de falar, já era madrugada. Eles tinham dois bebezinhos, mas eu precisava de ajuda.
A chave estava num lugar fácil de achar,no meu apartamento. Meu genro ouviu eu falar, disse:
" Se estiveres com o sequestrador, dá uma tossida".  Nessas alturas, desconfiou.
- Tudo certo aqui, vou passar para o inspetor para dizer o endereço - falei.
Fiquei sabendo depois que meu genro telefonou para a polícia para confirmar a veracidade, eu podia estar ainda com os bandidos.Já estava tudo registrado.
Hora e meia depois, chega meu genro com a chave. Um abraço nervoso, mas como foi bom aquele abraço!Chamou o guincho da seguradora, eu não tinha condições de vir dirigindo até Curitiba.
Brigada e Polícia de Piraquara todos muito atenciosos, ficaram sempre comigo.
Chegada em Curitiba, filhas me esperando, muito abraço, muito choro,não sabiam como eu estava, se estava ferida ou estuprada...Aquela madrugada marcou um período de retomada de valores, vida repensada, momentos de medo, constatação de que o perigo anda junto. Todo esse ano que passou foi marcado por muito medo de que aconteça tudo de novo. Nesse episódio levaram meu dinheiro e a nossa paz. Amigos e familiares todos me confortam, " ainda bem que não te fizeram nada", e tenho que agradecer todos os dias pela minha vida.
Cada vez que entro no carro, parece que tem gente esperando. O entardecer me dá pânico. Sair de carro à noite, só na emergência. Toda minha família na preocupação. Pois a vida segue e temos que continuar.
Sei que o tempo cura tudo.E as pessoas me acalmam,dizem que eu fiz bem em não reagir, ou poderia estar morta. Nunca vou esquecer o bandido pai falando " Se queres ver tua família amanhã, fica calma". E eu queria. Às vezes, me culpo por não ter reagido. Idosos são alvos fáceis aos criminosos, pois faltam forças.
     Em toda essa história, muitas lições sobre atenção, segurança,cuidados todos aprendemos, mas preciso cultivar a imagem da família que me socorreu e me fez acreditar mais uma vez que ANJOS existem.
                                                           Curitiba, 1 de junho de 2018.