MINHA VIDA É UM PALCO

MINHA VIDA É UM PALCO
Somos como atores neste palco que é o mundo, as cenas são os dias e noites, e o roteiro quem escreve é a VIDA!A vida depois dos 60. É começar novo, novos horizontes, um mundo diferente e muito mais LEVE! A gente está sempre começando, sempre aprendendo...E aos 60 anos, a gente nasce de novo! A minha Infância da Maturidade! COMO SERÁ NOS 70?Na minha ADOLESCÊNCIA da Maturidade...CHEGUEI! Cheguei chegando imaginando a vida toda...70 ANOS! BÓRA LÁ QUE A VIDA TÁ PASSANDO!!!E até uma PANDEMIA!Nunca pensei ...De repente, ficar presa em casa, sozinha. Se sair, o CORONA VÍRUS pega. Horrível todo mundo sem se tocar.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

ACADEMIA?


Segunda-feira, academia ao ar livre pela manhã. Baita sol em Curitiba, um dia com céu de brigadeiro, sem nuvens,  o Parque Barigui - mais citado na Literatura como a "Praia dos Curitibanos", pois o mar fica atrás da Serra do Mar - isso é o que a Mirinha sempre diz. 
Depois de duas voltas no parque, nós - eu e Mirinha - nos jogamos no campinho ao lado do açude (tradução: nos jogamos na grama ao lado do lago) como no filme "A Culpa é das Estrelas", só que não vimos estrelas, mas um azul lindo de morrer. O sol queimava,a Mirinha começou a se pelar, tirou a camisa, tirou a leg, surgiu um shortinho e uma blusinha bem pequeninha. 
      - Por favor, Mirinha, não estás no Cassino, isto não é praia, é um parque urbano, de uma capital cheia de gente muito certinha.
       - Bella, até em New York eu tomei banho de sol e de lua só de biquíni,em pleno Central Park,  por que não aqui? Deixa de ser puritana, estás um saco, cada vez mais chata. Vai pegar um picolé de uva pra mim, vai...
       Pensei em ir e sumir, todo mundo fazendo que não via, passando, passando,caminhando, como caminha essa gente! Em plena segunda, será que ninguém trabalha? Ou tudo aposentado, como nós. Quase meio-dia e cada vez mais gente  a  Mirinha espichada, lagarteando, quase nua e eu morta de vergonha.
       - Mirinha, e se for atentado ao pudor? Vais presa, guria...Por favor, põe a camisa! 
        Nada. Resolvi me sentar de costas, fingindo que nem conhecia aquela pessoa.
        E ela toda "se achando", desde que leu os tons de cinza ficou assim.
         - Tô nem aí, tô nem aí, ninguém me conhece aqui... - Mirinha levantou, falando alto -  cambada de vagabundos, arrodiando sem parar, essa gente não trabalha? Hoje é segunda...Onde está meu picolé de uva?         - Deu, Mirinha. Vou'mimbora - a gente andava no meu carro - E tu, amiga, vai de táxi! Tem gente filmando, vão fazer um vídeo e tu vais parar no You Tube. Que chato, teus filhos vão te esganar. "A Tarada do Barigui", tô até vendo...
         - Gente idosa não fica nessa hora no sol - falei. 
         - Idosa? Velha, antiga, imprestável, desusada, antiga, é isso que pensas de mim?
          - Credo, Mirinha! Isso é horrível!Nem tanto...
          A Mirinha pegou o picolé, fiquei arrependida, acabei com a alegria da amiga.
           Ela em silêncio, aí vem bomba, pensei.
                   - Relíquia - ela falou, separando as sílabas.
           - Quê? 
           - Eu não sou idosa - gritou Mirinha, fazendo pose de top model, todo mundo parou pra olhar, a doida dançando quase pelada. Eu sou uma relíquia. Sou uma relíquia: antiga e valiosa! Relíquia. Relíquia. Relíquia. VALIOSA!

                 Mais uma para o dicionário das SEXAS: RELÍQUIA!
                               Sabe tudo essa guria!
                                      Ganhei o dia!






 

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

MIRINHA NA UNIVERSIDADE



Depois de muito me encher a paciência, concordei com a Mirinha em me matricular com ela na Universidade da Maturidade. 
Primeira aula, e eu louca de medo de participar dessa aventura, voltar a estudar. Na minha idade, eu quero é ficar lendo, tudo que posso e que não tinha tempo antes.
 Depois que me aposentei, fiquei aposentada (de verdade, da cintura pra baixo). Só que a Mirinha não.
 Enquanto eu tenho labirintite,  a  Mirinha diz que está de "afliceta", nem preciso explicar o que é isso, a palavra é explícita... 
E a Mirinha acha que pode encontrar um gato na Universidade.
 Expliquei: 
- Mirinha, nessa faculdade vais achar gente da nossa idade, se queres um moreno alto+bonito+sensual+garotão tens que ir aos barzinhos, tá entendendo? E pagar por isso, imagina como está a concorrência, as gurias de hoje são tudo redesenhadas...
- Bella - ela me respondeu - eu tenho charme, sex-appeal, e sei coisas que elas não sabem...
Meu desconfiômetro ligou total, vou desistir dessa universidade.
Saí da sala antes que o professor iniciasse os trabalhos, decidida a fugir dali, bem na hora que a maluca ia se apresentar pra turma. Estava naquela hora em que cada um diz o nome e a que  veio, ou foi, estão contando a vida, todo mundo parece que combinou dizer a mesma coisa, tipo "Estou aqui pois fiquei sozinha e preciso encontrar pessoas".
 Eu já estava na porta, quando ouvi a Mirinha: "Estou aqui por causa da minha amiga Bella, que está um saco e eu queria tirá-la da frente do computador, imaginem, depois dos sessenta, a Bella acha que a vida acabou. Atenção, pessoal, ela, a Bella, está fugindo, segurem minha amiguinha, está lá na porta!"
Quem imagina o que é vergonha? Pois multipliquem por mil, todo mundo se virando e me olhando, as mãos se estendendo, "coitada", deviam estar pensando...

Eu estava vermelha, paralisada, a Mirinha correndo e me puxando, "Volta, Bella, nós vamos te ajudar".A Mirinha já estava de dona da turma.
 Sentei na primeira cadeira vaga, eu parecia uma débil mental, a voz saiu baixinho, "Tudo bem, eu fico", falei, bem como o D.Pedro I no Dia do Fico.
 A Mirinha gritava"Palmas para ela, pessoal, ela fica!"
Era um sonho dantesco tudo aquilo. Sabe aquela coisa de que "Quanto mais mexe mais fede"? Por isso, fiquei imóvel, bem quietinha.
Então tá. Remediado, remediado está.
E até estou gostando de ser aluna de novo, pois não é  que a Mirinha me fez um bem?
Por sorte fiquei na turma B. 
A Mirinha ficou na A. 
Acalmou-se até da "afliceta".
A turma foi definida por sorteio. Sorteio, que vem de sorte. Pela primeira vez na vida ganhei algo no sorteio. Sorte é ficar longe da Mirinha. Até a hora da saída. Ela enche o carro com  colegas e sai por aí, borboleteando. Universitárias. 
Bixos. 
Vamos ter muitas histórias nessa nova fase de estudantes...


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

DESENCHIMENTO


Tem uma hora que é preciso esvaziar. Desencher. 
Parece estranho, mas é desencher, mesmo. Sabe quando está cheio, mas muito cheio? Tão a ponto de não aguentar mais? É assim com o coração. Ninguém dá bola, tem gente que morre quando explode. O coração. 
Quando a gente nasce,começa o enchimento. Pessoas vão se amontoando, algumas mais espaçosas, pegam os melhores lugares. No coração. As queridas. São as que se dizem proprietárias. Tipo mãe.Primeira dona. Ninguém escolhe, é ela e pronto. Tem também o pai. E aquele montão que vai aparecendo, como epidemia. E vão entrando, sem pedir licença.
E o coração fica assim, batendo, batendo, sua função é bater. Enquanto bate, vai enchendo. 
Tem até as não queridas, que ficam nos lugares de não-queridas. E tem as pessoas que ficam brigando pra ocupar os melhores lugares.
 As pessoas estranhas não têm vez, nem são conhecidas.
 O pior é quando chega um ladrão que rouba o coração. Na verdade, se espalha ali dentro e parece que não tem mais lugar pra ninguém. É o ser amado. Mas não adianta proibir a entrada. Entra de qualquer jeito e se espalha. Se adona.
Continua a invasão: criança, velho, sentimento, amigo, até cachorro. Até mortinho fica ocupando lugar.  
Quanto mais o tempo passa, mais vai enchendo.
Estou pensando como parar de encher este meu coração. Não consigo, cada dia surgem mais habitantes. Tem uns que entram sem esperar.
 E tem uns ainda muito pequeninos, entrando devagarinho... 
Pensei em fazer uma cirurgia, mas o médico disse que não tem como evitar que entrem. Só se parasse de bater.
Então, quem sabe eu posso desencher. Colocar aonde? Não vai ter lugar...
Talvez um transplante. 
Será?