Um baita frio, quase inverno, vontade de ficar assim, tapada até as orelhas.
Mas tem gente que não se toca...ou melhor, se desentoca. Só posso estar falando da Mirinha. Ela mesma.
Entrou na minha casa como um furacão. Bota, casaco, calça tudo de couro preto.
- Não vai mais sair o baile do cabide, imagina com esse frio, nem o Jorjão topou, diz-que fica tudo murcho.
Fiquei feliz, imagina, eu ter que me pelar com esse frio.
- Ô Mirinha, pega um chá bem quente ou um chimas e te aprochega - desde que fomos ver o Guri de Uruguaiana estou com ataques de grossura, coisa boa falar o dialeto dos pampas.

Fiquei de boca aberta, dizer o quê? Vou me comprometer...a Mirinha tem o dom de manipular as palavras...Nem precisei falar, ela continuava:
- Então, vai ser um barato, tá na internet, milhões de pessoas, um programa gratuito pra esse domingo gelado, simbora!
Será que minha amiga andou fumando uns? Tentei argumentar:
- Olha só a nossa idade pra ir numa passeata, num baita frio, domingo à tarde, e a gente nem é usuária, nossos filhos vão nos interditar - nessas alturas, eu até preferia o baile do cabide.
- Flor da idade, isso sim. Bella, desse jeito vais ficar entrevada. Sai desse sofá, guria! No Uruguai é tudo liberado, acho que vou me mudar pra lá.
Quase fui. Não pro Uruguai. Mas para a Marcha da Maconha.Quase.
Fui salva (?) pelo celular.
- Mãe, estou aqui na frente com a gurizada, querem ficar na vó antes do jogo, quem sabe, sai uns bolinhos de chuva...
Mãe é mãe, vó é vó e vaca é vaca...Entre maconha e bolinhos de chuva, ficamos nos bolinhos. Juro que fiquei com peninha da minha amiga, quase chorou.
Mirinha, prometo que na próxima eu vou, tá, amiga?
Nenhum comentário:
Postar um comentário