MINHA VIDA É UM PALCO

MINHA VIDA É UM PALCO
Somos como atores neste palco que é o mundo, as cenas são os dias e noites, e o roteiro quem escreve é a VIDA!A vida depois dos 60. É começar novo, novos horizontes, um mundo diferente e muito mais LEVE! A gente está sempre começando, sempre aprendendo...E aos 60 anos, a gente nasce de novo! A minha Infância da Maturidade! COMO SERÁ NOS 70?Na minha ADOLESCÊNCIA da Maturidade...CHEGUEI! Cheguei chegando imaginando a vida toda...70 ANOS! BÓRA LÁ QUE A VIDA TÁ PASSANDO!!!E até uma PANDEMIA!Nunca pensei ...De repente, ficar presa em casa, sozinha. Se sair, o CORONA VÍRUS pega. Horrível todo mundo sem se tocar.

quarta-feira, 19 de março de 2014

SOU GAY 3 - ENTREGANDO OS PONTOS



SOU GAY 3 – ENTREGANDO OS PONTOS


Mirinha declarou para a família que é gay. ( Ver SOU GAY 1). Todo mundo se indignou com ela. ( Ver SOU GAY 2).

Hoje a coisa ficou pior: o sobrinho da Mirinha que mora em São Chico - baita grosso - se veio de lá de mala e cuia e arranjou uma consulta com uma psicóloga daqui de Curitiba. Nem preciso dizer que foram os filhos da Mirinha que chamaram o primo. E, como sempre,  sobrou pra mim: se reuniram todos na minha casa, como se a mais maluca de minhas amigas estivesse em estado terminal.

- Tia - o sobrinho da Mirinha me chama de tia - tem que haver um jeito de levar tia Mirinha para uma sessão – não, não é sessão espírita, por enquanto. Vamos primeiro nessa psicóloga, diz-que cavoca lá nos fundos dos sentimentos  e descobre o que anda remexendo nos miolos da veia.

Os filhos da Mirinha concordavam em tudo com o guri, que já tem seus quarenta,  e que se acha entendido das psico pois fez análise, nem sei o motivo, mas sabe tudo de Freud.

- É aí que me refiro, se eu chego assim, tia Mirinha não vai aceitar se tratar. A tia Bella, a Senhora convence tia Mirinha? A consulta é hoje, às 3 da tarde. Aqui perto, no Água Verde.
Eu já estava preparada: tudo que é bomba, estoura na minha mão.

- Olha aqui, gurizada - olhei bem na cara deles - vocês vão falar com Mirinha. Se ela topar, eu vou com ela, tá? Eles me abraçaram, até com lágrimas nos olhos ( só podia ser nos olhos, né?). Sairam os três, eu mais atrás, meus joelhos doendo, nem na hidro tenho ido desde que começou essa função. A surpresa foi enorme com a reação da Mirinha, nem eu esperava, ela olhou bem na nossa cara e disparou:  
- Psicóloga? Tá. Que horas? Aonde? - eu nem acreditava no que estava vendo e ouvindo.

Os guris se olharam, nem precisava ter chamado o primo. Ou será que a Mirinha se assustou com a chegada do sobrinho? Esse guri é famoso por andar armado e com faca, e é o mimoso da doidinha.

O que importa é que às 3 da tarde não fui só eu; parecia uma procissão. Nem tinha lugar no consultório. A psicóloga arregalou os olhos quando viu o monte de gente. Deu uma olhada meio enviesada e fixou-se em mim. 

- A Mirinha é ela - apontei, minha amiga toda chic, perfume Chanel 5, colar da moda desses que parece uma gola.

A moça da recepção nos mostrou poltronas como dizendo pra sentar e calar, Mirinha levantou o nariz e saiu pisando forte, na frente da pessoa que iria resolver seus ( e nossos) problemas. Minha situação cada vez se complicava mais. Eu bem sabia que tudo era uma invenção, mas não podia trair minha amiga. E ela conseguiu chamar a atenção de toda a família. Os rapazes  nos  celulares,  mandando mensagem até para o Papa, i-Pads, i-Phones, dedilhavam os brinquedinhos sem parar, que mania essa de celular, ninguém conversa ao vivo, acho até que estavam mandando mensagens para eles mesmos,  assunto não faltava. E que suspense! O tempo não passava, era uma hora de consulta.

Finalmente, ABRE-SE A PORTA DO CONSULTÓRIO. Beijinho de longe na psicóloga, um tchauzinho bem comportado pra moça, a cara da Mirinha era de cinema! 
            - Vamos? - Olhou pra nós, fazendo caras e bocas.

Saímos em fila indiana, silêncio total. E fomos assim até a casa do pivô de toda essa novela.

- E daí, tia? - o sobrinho de São Chico teve coragem, falou forte, mal entramos no carro.

- Em casa conversamos - Mirinha falou apenas movendo os lábios, uma estátua, como nos filmes de Hitckoch, muito séria. 

Chegamos. Noras, netos, cachorros, acho que até vizinhos, parecia festa de aniversário - ou velório, nem sei. Mirinha se jogou no sofá e começou uma choradeira coletiva, os netos aproveitando pra comer os bombons da mesa, cachorros pulando em todo mundo, uma bagunça, a tia surda dizia que era encosto.

- Preciso de mais algumas consultas - Mirinha gritou. Estou entrando em depressão, vocês me confundem. Nem sei mais quem sou eu. EU SÓ SEI QUE NADA SEI!   ( essa frase ela ouviu ontem num programa de TV, tenho certeza).

- Bueno, tia, se é pra ficar boa, então tá - falou o sobrinho mucho macho. Mas essa coisa de...

- De gay? É isso que preocupa vocês? Então, podem ficar sossegados. Não quero mais nada de nada. Fico assim, jogada às traças, como uma pobre velha que não curte mais nada. Curtir, agora, só no FACE. Tá bom assim?

Palmas, abraços, beijos, suspiros... O tradicional ataque à geladeira. Na cozinha, picavam um charque do primo pra fazer um carreteiro. Alguém foi comprar cerveja gelada, os netos enforcando o cachorro, o controle da TV sumiu, a tia surda queria ver a novela. 
Família é tudo igual. 
Escândalos à parte, Mirinha conseguiu o que queria. Casa cheia, centro das atenções, bem como ela gosta. Atirada no sofá, me olhou com uma cara de safada, piscou um olho, eu sem saber se ria ou chorava. Só quero ver qual vai ser a próxima. Essa coisa de querer mais sessões com a psicóloga...alguma coisa Mirinha está programando. Pra todos os casos, o pessoal pensa que ela voltou pro armário. Que entregou os pontos. Só quero ver a Mirinha frequentando uma psicóloga,  não vai prestar.

Pobre da psicóloga...

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