MINHA VIDA É UM PALCO

MINHA VIDA É UM PALCO
Somos como atores neste palco que é o mundo, as cenas são os dias e noites, e o roteiro quem escreve é a VIDA!A vida depois dos 60. É começar novo, novos horizontes, um mundo diferente e muito mais LEVE! A gente está sempre começando, sempre aprendendo...E aos 60 anos, a gente nasce de novo! A minha Infância da Maturidade! COMO SERÁ NOS 70?Na minha ADOLESCÊNCIA da Maturidade...CHEGUEI! Cheguei chegando imaginando a vida toda...70 ANOS! BÓRA LÁ QUE A VIDA TÁ PASSANDO!!!E até uma PANDEMIA!Nunca pensei ...De repente, ficar presa em casa, sozinha. Se sair, o CORONA VÍRUS pega. Horrível todo mundo sem se tocar.

sábado, 7 de dezembro de 2013

A NOVA TERCEIRA IDADE



                  Estou em busca do que fazer nesta maravilhosa aventura de ter tempo e poder tudo. E a Mirinha também,  é minha melhor amiga, mais de sessentinha e também professora aposentada e viúva, como eu, só que ela é uma desvairada sem censura, inventa cada coisa que eu me apavoro. Resolvi contar algumas de nossas histórias, muitas trágicas, outras cômicas, quase verídicas. Mas quem tem coisas interessantes, mesmo, é a Mirinha,  que não escreve porque não consegue ficar sentada na frente do computador, ela é hiperativa, nunca vi pessoa mais agitada.

            A Mirinha diz que agora tem o direito de fazer tudo que lhe der na telha, “não preciso mais dar satisfação à sociedade, a patrão, a padre e a pastor, nem a filhos ou pai-de-santo, só quem pode mandar em mim sou eu e o meu médico”, assim ela justifica as loucuras a que me obriga a participar. Para meu total prazer, e para ter material para meus contos.

            Essa epopeia toda iniciou quando ela fez seus sessenta anos. E como eu tenho mania de escrever, fiquei encarregada de contar suas – e minhas -  histórias. Esta primeira é dela, acho que é tudo invenção, mas qualquer semelhança com a ficção é mera coincidência.

             “Já faz anos, mas me lembro bem, juventude a mil, perto dos trinta,  trabalhando doze horas por dia, eu ficava com uma raiva quando entrava na enorme fila do banco ao meio-dia, hora da refeição que eu não fazia, para poder receber meu salário e pagar as contas, e tinha aquela quantidade de velhos e velhas, tudo aposentado, sem nada pra fazer nem em casa nem em lugar nenhum, e ficavam lá, passando na frente de todo mundo, parece que faziam de propósito, e demoravam até pra guardar a papelada e dinheiro na carteira. Tinha que ter paciência, e eu respeitava – mesmo com vontade de estrangular um a um ou mandar todos sentar na praça a olhar pombinhas. Ainda não tinha os salvadores caixas eletrônicos!

            Jurei pra mim mesma que no dia que fizesse sessenta anos seria a primeira a usar meus direitos de sexagenária, passar na frente de todo mundo, e demorar bastante no caixa. 
            Comemorei meus 60 e minha  aposentadoria tudo junto, numa festa “de arromba”, com muito rock’n roll, valsa, marchinha, bolero, sertanejo e funk, álcool y otras cossitas más. No outro dia, corri para o banco, com toda a emoção de uma primeira vez, a carteira de identidade na mão para mostrar que eu tinha 60. Peguei a senha de PRIORITÁRIO, fui chamada quase imediatamente, olhei para ver quantas pessoas  iriam gritar: “Você não pode entrar no caixa dos idosos, você não tem idade”, nem barriga eu tenho, ou passaria por grávida. Silêncio. Ninguém reclamou. A primeira surpresa. Pensei naquele instante: “Ora, essa, será que já pareço com uma senhora da terceira idade? Ainda me sinto com cinquenta e nove, uso todos os cremes para alisar as rugas, visto jeans e Adidas, todos os cabelos brancos escondidos nas mechas avermelhadas, qual a diferença? – quase gritei, totalmente ignorada pela fila dos normais.

            O caixa de prioridades, um bancário especialista em pessoas idosas, falava devagar, num tom mais alto que os dito normais ( é normal se não é  grávida, ou deficiente, ou velho), indicava com a caneta onde eu devia assinar; ainda ontem apenas empurrava o documento, eu que me virasse. Agora eu sou uma imbecil, surda e cegueta? Triste constatação: eu não apenas pareço, eu SOU uma senhora da terceira idade. Caixa prioritário. Nunca mais entro nessa, nem que fique horas esperando. Quero ainda ser normal.

            Saí frustrada. Olhei para o guarda do banco, com medo que ele viesse me ajudar a sair pela porta giratória. Queria ser poeta, poeta não tem idade, o Vinicius fazia poesia, teve 8 mulheres, vivia na orgia, morreu com quase 70. Drummond com quase 80, ninguém dizia “o velho Drummond”, diziam “o poeta maior”.  Ou se eu fosse  artista,  o Gilberto Gil, o Caetano, o Milton, o Paulinho da Viola, todos estão nos setenta, ninguém atira em cara a idade. A Vera Fisher tem minha idade. Até a Suzana Vieira é mais velha que eu, taí, casada com um garotão e bem gatona. E a Dilma? Mais velha do que eu e todo mundo puxa o saco dela, com aquela peruca ridícula...E os homens...esses não têm idade, ou será que só ficam idosos se a conta do banco murcha, com as outras coisas? 
              Então, por que esta sensação? Só por causa da fila do banco? Acho que nenhuma celebridade idosa vai ao banco, se for, nem entra em fila, o gerente faz um atendimento especial.

            Talvez eu esteja vendo coisas. Será?

            Sou muito inteligente, estudei e ensinei Português toda a vida, duvido que você saiba o que é uma oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de particípio. Eu sei. Sei tudo de metáfora, de locução verbal, de vírgula, até o sujeito oculto eu acho em qualquer lugar, e agora, aonde enfio tudo que tenho bem aqui na minha prodigiosa memória? Vai pra terra, alimentar os vermes que hão de me comer? (bem que eu queria ser comida, e em vida, mas  não pelos bichinhos).

            Vamos às estatísticas: A média de vida do brasileiro aumentou; comodidades, planos de saúde, geriatras extremamente dedicados, boa mesa e bons vinhos. Se não morrer num assalto, numa bala perdida ou num acidente de carro, ou se nenhum avião entrar pela janela, o cidadão pode bem chegar a setenta, oitenta, até 90 ou 100. Se o Ulisses Guimarães não se explodisse num helicóptero, teria festejado o centenário com o Oscar Niemeyer, que morreu com mais de cem. Mas a discriminação é que mata os velhos, muita gente acha que  nossa capacidade de pensar despenca com o físico. Ficam nos escanteando. Como coisas desnecessárias, não prestamos mais pra nada. A não ser cuidar de netos.

            Vejamos a moda: as lojas descobriram a Moda Tamanho Especial ( eufemismo pra gordo), o maior sucesso, tudo três vezes mais caro e sem graça, além de gordo, desbeiçado. E as roupas pra Melhor Idade? Só pra mulher, será que homem não envelhece? Sem coloridos, sem brilhos, tudo solto, do cinza ao cinza chumbo. Marrom. Grená ( quem sabe que cor é grená?).

            Vou me rebelar, quero voltar a ser respeitada, o caixa do banco vai me mandar para o gerente, conta especial, a família voltará a me chamar para as festas da noite, agora só me levam em café colonial e me oferecem chá... Bolachinhas e meias e chinelos e casaquinhos de presente, parece que estou em estado terminal. Terceira Idade. Melhor Idade. Melhor pra quê?”

             Isso tudo foi a história da Mirinha. Quanta sabedoria, minha amiga disse tudo que também eu e minhas amigas aposentadas, as da hidroginástica e as do coral sentimos. Eles, os guris, não sei. Mas a gente "se acha"...

      De Bellabereg - 2013 - in TALENTOS DA MATURIDADE 2013

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