Levei os exames de rotina para meu médico olhar. Estava meio preocupada, mesmo passando em quase tudo, fiquei em recuperação em alguns colesteróis e triglicerídio. Prontinha pra receber umas reprimendas: não comer gordura, nem carne, fazer exercícios, essas coisas que não gosto. Uma senhora ao meu lado conversou comigo, na sala de espera. Pose de baronesa, sedas e cabelos azulados, uma dama. Entre mosquitos da dengue, limpeza de caixa d'água, gostar mais de química ou história, eu esqueci de física e amo literatura, ela adora matemática e não gosta de idiomas, que é que tu fazes hoje? ela perguntou. Eu escrevi um livro. Como é o nome? POLIMERASE. O quê? POLIMERASE. O que é isso? É uma enzima. Por que esse nome? Porque é um código para uma experiência científica que pesquisa a cura de Parkinson. É verdade? Não, é ficção. Pois veja que coincidência, eu tenho Parkinson, está no início, estou me tratando, mas é muito difícil imaginar o que vai acontecer comigo. Céus, pensei, um outro Alan Lewis...
O médico chamou a senhora. Ainda bem. Saí do consultório sem mostrar meus exames. Não queria ver a senhora. A vida imita a arte. É difícil. Amanhã volto. Se puder, fico calada.
A vida começa aos 60 anos. ATUALIZANDO...a vida começa aos 74. Agora, já estou com 75. A pandemia do Corona Vírus passou. A COVID se transformou em doença, que precisamos tomar vacina todos os anos, o vírus se transformou em coisa igual sarampo. POR ENQUANTO, estou escrevendo, copiando crônicas que escrevi nesses tempos de estranheza numa realidade de idosa. QUANDO eu ficar velha, talvez não tenha vontade de escrever mais.
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