"Há dias que a gente se sente, como quem partiu ou morreu, a gente estancou de repente..."
A Mirinha me ligou ontem, eu dormindo. " Estás dormindo?" - perguntou. Não sei que mania têm as pessoas de acordar a gente para perguntar se estava dormindo. Dã!
- Não, Mirinha, ainda não estou - respondi com um peso nos olhos. Então, ela cantou "Roda Viva".TODA."Arrodiei" total. Leva a roseira pra lá, leva o samba pra lá, leva o destino pra lá, leva o saco também. Anos 70. Chico. Tropicália? - Eu era mais Jovem Guarda, Mirinha, e agora, nesta nossa nova fase, é melhor evitar música brochante. Vai olhar "Rock in Rio", de preferência os mascarados de vermelho Slipknot, do heavy metal, imagina tu te jogando lá de cima do palco num monte de gente, imagina... Ou os velhos Motörhead se esforçando, eles não desistem...E o Guns N Roses, lembras do Axl Rose? Outro véio gordo e está lá, no show...Tu tinhas um pôster bem grande, o viking saradão de lencinho vermelho na cabeça, umas coxas...
Não adiantou. Mirinha só fala em fazer exames, cismou que tem uma doença muito grave.
" Todo mundo me liga para saber o que eu tenho, leram no teu blog que vou pro hospital".
- Muito bom, Mirinha, estou trifeliz com isso.
" Puxa! Como podes estar feliz com minhas doenças?"
-Não é com as supostas doenças, Mirinha... É porque tem gente que lê meu blog...
Nem comentei que minhas amigas gaúchas me ligaram pra saber da Mirinha.
- "Intão" tá, vamos continuar filosofando em cima da Roda Viva...
Final de domingo. Depois da meia-noite. E eu ouvindo a Mirinha explicar cada verso do Chico. Só com uma boa dose de whisky. Ou uma garrafa de vinho ( aliás, O vinho). Ou os dois. Roda Viva. " Mas eis que chega a roda viva e carrega a gente pra ..."
(Acho que o Axl da Mirinha está assim, agora.)
A vida começa aos 60 anos. ATUALIZANDO...a vida começa aos 74. Agora, já estou com 75. A pandemia do Corona Vírus passou. A COVID se transformou em doença, que precisamos tomar vacina todos os anos, o vírus se transformou em coisa igual sarampo. POR ENQUANTO, estou escrevendo, copiando crônicas que escrevi nesses tempos de estranheza numa realidade de idosa. QUANDO eu ficar velha, talvez não tenha vontade de escrever mais.
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