Muito interessante isso de mandar a mudança e ficar numa casa quase vazia. Foi o que aconteceu com a Mirinha. Perguntei por que ela não mandou a mudança no dia em que ela também vai pra outra cidade.
" É que eu não quero estar no apê quando minhas bagunças chegarem lá, assim, meus parentes vão ter que receber e deixar cada caixa no lugar.
Mas, Mirinha - perguntei - e se não for como gostarias? Já pensaste se misturarem livros e discos, alhos e bugalhos?
" Não são loucos em abrir minhas caixas; está tudo numerado, identificado, com um aviso diabólico:"NÃO ABRA! PERIGO!" em vermelho cintilante. Sala, quarto, escritório, cozinha, cada caixa em seu novo LAR!... Eles me conhecem e sabem como sou maniática com minhas coisas..."
Essa é a Mirinha, pensei. É louca, mas não é burra. Trabalho pros outros - como é ruim fazer mudança...
E agora está ali, na casinha, no Cassino, casa vazia... Deixou o quarto, todinho, para os inquilinos, banheiro e cozinha - tudo arrumadinho. Os ferros de mexer no fogo ao lado da lareira. As cadeiras e a mesa de plástico do pátio. O rádio do carro a mil, retumba na garagem, Pretinho Básico - da Atlândida - ela gosta de bobagens, diz que é inteligente. Sem TV. Só o computador sempre na caixa de entrada, esperando as mensagens e e-mails de filhos e amigos.
Nunca pensei que alguém poderia viver sem TV. A Mirinha pode. Ouvindo o rádio da carro na garagem. Um baita frio, com vento e chuva no Cassino.
Vocês viveriam sem TV? 10 dias, como a Mirinha. Numa casa quase vazia. Uma boa reflexão. Eu não sei; se isso acontecesse comigo, eu iria pra casa de alguma amiga, "vim visitar tua TV", e ela entenderia. A TV é a acompanhante necessária. Principalmente pra quem fica quase todo dia em casa. Quem fica, me entende bem. Tem gente que até briga pelo controle. Os homens, então, se consideram donos do controle da TV, experimentem esconder essa coisinha para ver o que acontece... Já vi casal quase se separar por causa do "controle remoto", sem querer a mulher pisou no indispensável artefato e ele - o homem - teve um chilique... Como fazem todos os homens, bateu a porta e saiu, foi ver TV no bar ...Foi bem assim.
Às vezes, nem estamos assistindo à , mas ela está ali, ligadona, um ser. Semblante e falante. Faz mais falta que pessoas.
Ficar sem TV.
A Mirinha é muito estranha.
A vida começa aos 60 anos. ATUALIZANDO...a vida começa aos 74. Agora, já estou com 75. A pandemia do Corona Vírus passou. A COVID se transformou em doença, que precisamos tomar vacina todos os anos, o vírus se transformou em coisa igual sarampo. POR ENQUANTO, estou escrevendo, copiando crônicas que escrevi nesses tempos de estranheza numa realidade de idosa. QUANDO eu ficar velha, talvez não tenha vontade de escrever mais.
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