Em "Vidas Secas", Graciliano Ramos escreve um capítulo sobre " a mudança". Fabiano, Sinhá Vitória, o filho mais velho e o filho mais moço ( nunca descobri o nome deles), Baleia - a cadela, com nome - um papagaio, um naco de carne de sol, e os pertences: algumas trouxas, com certeza, carregadas por Sinhá, um cantil com água.. Só o que sobrou depois de trabalhar de sol a sol num trabalho ingrato. E de ser roubado por um soldado amarelo. O sol escaldante do nordeste, a caatinga como cenário. Tiveram que comer o papagaio, tão grande a fome.
Essa mudança é uma mudança de gente.
O que leva as pessoas a se mudarem? Fabiano e família. Fugindo da seca, da exploração, da miséria, sem saber o que encontrariam num destino ignorado, e a seca secando tudo, idéias, corpos, sentimentos.
Mas tem situações bem diferentes.
Lembram da Mirinha? Me surpreendi com o que ela fez.
Situação: - A pessoa está bem instalada, levanta à hora que quer, academia, caminhadas, comendo bastante - até demais - bebendo o que gosta, fazendo o que tem vontade, amigosamigosamigosamigos de verdade, uma casa de sonho, uma santa para até lavar a fé, e um mar, mas um mar tão imenso, mas tão tão tão, que engole toda a tristeza, e a água com gosto de sal e visão de eternidade recarrega as energias num olhar apenas. E a pessoa faz A MUDANÇA. Assim como Fabiano.
Mudança é mudança.
A Mirinha viu um caminhão imenso sair da frente da casa dela, levando suas coisas. Os álbuns e as fotos, livros, CDs, DVDs, a cadeira giratória, os tapetes, a xilogravura de cima da lareira, os copos de cerveja, o home theater, até as cadeiras de praia e o rolo de massa. E a sala de rattan... aquela, que comprou bem perto das ondas do mar. Mirinha viu sair uma história que ela escreveu com a vida. No Cassino. A maior praia do mundo.
Eu não disse que a Mirinha andava estranha? Pois é. Tá indo embora. Fazendo uma mudança de coisas.
Bem que ela queria levar as pessoas, cachorro, papagaio, como o Fabiano. Mas está indo.
De repente, não mais que de repente.
As gaivotas também se mudam. Mas elas sempre voltam.
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