Lord Byron, o poeta do "Mal do Século", romântico, curtiu uma tuberculose para morrer aos 21 anos, para que lessem na sua lápide, na floresta esquecida, " foi poeta, sonhou e amou na vida". Quanta sensibilidade e sabedoria. Um lord inglês de verdade. Fantástico. Imortal.
E foi esse o nome do cachorro mais conhecido por mais de uma década no Cassino. Na mudança, entre caixas e sacolas, encontrei as fotos desse cão muito inteligente e que fez história pelas peripécias, mais que o Marley do filme. Não era meu; pertencia aos Lus que foram para a Oceania e não dava pra levar um cachorro daquele tamanho. Weimaraner. Cheio dos pedigrees quando nasceu. Raça pura.Recebia conselhos para se comportar bem dos donos. Mas pulava qualquer muro e até os bombeiros ajudavam a procurá-lo, toda a FURG era mobilizada, faziam-se reuniões na Larus...Nem sei quantos 50 pila foram pagos de recompensa, essa foto era pronta para os "Procura-se", colocados nas escolas, nos bares, nos postes.
Mas o cachorro cresceu e virou um negão. Existe Weimaraner negão? O Byron era. Fiz canil à prova de cão fujão. Não adiantava. Ele entrava pela casa e pulava a janela. Dez dias nas dunas, namorando, voltava pra casa estropiado.
Quando o Byron não andava no bobódromo ( lugar onde os bobos caminham no Cassino), me ligavam: "O que houve com o Byron? Está doente?" E ele aprontava.* Disfarçando, veio devagarinho e pulou em cima de um collie lindíssimo. - Tarado, gritava a dona do collie todo penteado(então despenteado).
Eu fingi que nem conhecia o cão.*Um dia, apareceu com uma paleta de ovelha na boca - crua - de onde? Fiquei esperando a visita de algum açougueiro. Outro dia, trouxe um grande osso de rês, comecei a ficar apavorada: será que o Byron anda matando os bichos? Até hoje ficou o mistério.*Eu tinha o Barthy e a Bonnie( os cookers das filhas que foram pro Paraná e eu fiquei com os malas). A Bonnie era muito respeitada, pequena, marron, delicada e furiosa. Nenhum cão que ela não quisesse chegava perto dela. O Barthy, coitado, todo dia apanhava do Byron - mas também não se entregava até o dia em que cheguei em casa e encontrei o Barthy descadeirado, não conseguia caminhar. "Foi o tarado", falou chorando a guria. Tive vontade de matar o Byron. Mandei pra rua. Dessa vez ele não saiu da frente de casa. Chorou até eu ficar com peninha: - Olha aqui, ó negão safado, outra dessa e eu te mando pra Pelotas pra fazerem sabão...
*Minha irmã veio me visitar e deitou-se no sofazão da varanda, pensou que era o marido dela que se jogou também, hora da sesta - mas era quem? O Byron! Que susto quando ela se virou e lá estava, o Byron, espichado, roncando...
*Eu trabalhava na Escola Silva Gama, pois o cão entrava não sei como, e ficava escondido atrás da minha mesa - com a cumplicidade de uma colega, a Mara, que também gostava de cachorro."Fica quieto, Byron, lá vem ela" e ele entendia. Eu entrava na minha sala e lá estava, esparramado, ninguém tinha coragem de entrar lá, e eu ficava roxa de vergonha - não é lugar de cachorro - aquele bicho imenso. Tamanho assustador. Cara de brabo. Mas o cachorro mais inteligente e carinhoso que conheci. Capaz de ficar estátua toda a noite junto com as visitas ou nas festas do Cassino. Diziam que ele era um gentleman. Hoje alguém me perguntou onde está o Byron.
"No fundo de casa, com a Bonnie e o Barthy.Com lindas folhagens em cima."
( Os cookers Bonnie e Barthy - viveram 17 e 18 anos)
*Chuva e vento no Cassino. Arrumar os álbuns de fotos. Dia de recordar coisas boas.
farás uma bela viagem, com páginas da vida passadas a limpo... e novas páginas para escrever. tinta e papel não te faltam.
ResponderExcluirbeijo.
Delícias de recordações, como é bom fazer parte disso tudo!!!!
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