MINHA VIDA É UM PALCO

MINHA VIDA É UM PALCO
Somos como atores neste palco que é o mundo, as cenas são os dias e noites, e o roteiro quem escreve é a VIDA!A vida depois dos 60. É começar novo, novos horizontes, um mundo diferente e muito mais LEVE! A gente está sempre começando, sempre aprendendo...E aos 60 anos, a gente nasce de novo! A minha Infância da Maturidade! COMO SERÁ NOS 70?Na minha ADOLESCÊNCIA da Maturidade...CHEGUEI! Cheguei chegando imaginando a vida toda...70 ANOS! BÓRA LÁ QUE A VIDA TÁ PASSANDO!!!E até uma PANDEMIA!Nunca pensei ...De repente, ficar presa em casa, sozinha. Se sair, o CORONA VÍRUS pega. Horrível todo mundo sem se tocar.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

NESTA VIDA TUDO É SEXO



NESTA VIDA TUDO É SEXO
            Oi, eu sou Bella, nascida antes da década de cinquenta, professora aposentada, viúva, quase virgem de novo, sem cachorro, moro sozinha, a vida é minha! Finalmente posso ler quanto quiser, na hora que desejar, sem horários a dirigir minha vida. Li quase todos os clássicos, de românticos a realistas, nacionais e estrangeiros, alegres e brochantes, enfim, agora quero ler só para me divertir.  Adoro best seller com todas as novidades da lista dos mais vendidos. Inclusive, com tantos comentários sobre um tal de 50 tons, fiquei curiosa. E minha sobrinha advogada ganhou um volume do namorado, também advogado, muito sérios, ela  disse: “Tia, é bem teu tipo, vais gostar” – fiquei meio-assim, advogados, deve ser coisa de leis, aquelas teorias chatas...Mas fiquei bem curiosa por ela ter dito que era do meu tipo. Qual é meu tipo?
            Voltando pra casa, na livraria do aeroporto, o livro “do meu tipo” me olhou como dizendo “me compra”. Comprei.
            Comecei a ler no avião. A cada página, o vermelhão da minha cara e uns calores no corpo, olhei para os lados, vá que alguém me pegue com o livro, escondi a capa com uma revista da Tam, a aeromoça me perguntava se queria uma bebida, pedi “com bastante gelo”, e o homem do livro continuava mexendo os dedos, a mocinha do livro desmaiando, bem o que estão pensando, o pior é que eu não podia parar de ler.
            - Senhora, chegamos – a aeromoça me chamava e eu dentro do livro – nem vi que o avião estava vazio, a leitura me envolveu demais.
            Já em casa, nem abri a mala e me joguei na cama, sempre lendo o romance “bem o meu tipo”, quando toca o telefone:
            - Mãe, como foi de viagem? Que estás fazendo?
            - Estou toda molhadinha.
            - Que é isso, mãe? Compraste alguns aparelhinhos? – ela sempre pensa que uso coisas, sabe como é, sou viúva, fico só na imaginação.
            - Nada, filha. Estou lendo um livro que tua prima me recomendou, o hit da moda,campeão de venda, são três volumes, estou no primeiro,  tudo que é mulher anda lendo. É a história de um homem lindo, bilionário, um CEO, tarado total, acho que tem um trauma, pois dá palmadas na namorada, tem milhões de algemas, um quarto erótico cheio de coisinhas interessantes e sádicas...
            A pobrezinha da minha filha nem sabia da existência desse livro, é professora, tadinha, passa o dia ensinando os filhos dos outros, chega em casa tem o próprio filho e o marido pra organizar, nem tem tempo.
            - É, filha, tens que te atualizar, essa leitura é trilegal, sexo total, bem que sempre te falei que tudo na vida é sexo.
            - Mãezinha querida – aí vem bomba, pensei ao ouvir o “inha querida”- vai caminhar, sai de casa, vai pra hidroginástica, ou pra psicóloga, ela te entende, toma teus ansiolíticos, para de pensar nessas coisas – para os filhos, depois dos sessenta parece que me aposentei da cintura pra baixo.
            Fechei o livro. Por pouco tempo. Abri o livro.  Atravessei a noite lendo.
            Precisei de um esforço para me manter acordada.  A mocinha não era mais virgem, nem usava mais calcinha, para poupar tempo, o moço bonito muito bem dotado de todas as qualidades, uma felicidade só, os dedos sempre  exercitados.
            No outro dia, falei do livro – melhor, do que dizia no livro – para minhas coleguinhas todas como eu, mais de sessenta, uma briga pra quem vai ler primeiro, fiz um rodízio. A Candinha ficou dois dias, devolveu,  disse que não leu, é muito comportada, mas tenho certeza que leu, sim, anda toda alegre...e o marido dela também. A Rutinha também disse que não vai ler, mas eu sei bem que mandou pedir pela internet os três volumes, só não quer dar o braço a torcer que está entusiasmada por umas bolinhas de prata, que também comprou pela internet. A Miriam devolveu, disse que não é a leitura do tipo dela, mas que fez um sacrifício – e também leu tudo. Mas a Dorinha assumiu que leu e gostou. Erótico, não pornográfico, falou. Uma nova visão das relações. Concordo. Pelo sucesso desse tipo de leitura nos dias atuais,  ( meu tipo, de acordo com a sobrinha), renovei minhas ideias.
            Desta vez, minha teoria fica provada: Tudo é sexo nesta vida bela. Vejamos: por que esse cuidado excessivo com o corpo, com a roupa, o perfume, os cabelos? Pra ficar em casa? Não e não. É pra chamar a atenção de determinada pessoa, o caçador, a caçadora, que estão ali,esperando... Aquele biquíni pequenininho, comprou pensando em quem? As langeries cada vez mais ousadas, usar pra quem? Um carrão, o som bem alto, excelente pra chamar a atenção para quem está dentro, o caçador. E tem esmaltes coloridos, calças muito justas, decotes, brincos imensos, aquela mexida no cabelo, olhares com faíscas, finalmente a química que rola entre duas pessoas, como um instinto animal. É o “OLHE e PEGUE”, “estou aqui, veja”, a incessante busca do parceiro ou parceira, até o fim dos tempos. E a música? Tem algo mais erótico que o funk?  Só o bolero, quando a gente dançava com o rosto colado e com todo o corpo assim, encostadinho, ai como era bom! É isso mesmo: Sexo. A mais explosiva e democrática das artes. O exercício natural para a salvação da raça humana.
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            Depois dessa inegável justificativa de minha teoria “Tudo é Sexo”, a constatação de que   Freud continua atual, a libido – o impulso sexual, a energia vital do ser humano – é quem manda na nossa vida. Em todas as coisas que fazemos, está lá, o sexo.  Não só em cinquenta tons. Até me desconcentrei do que estava falando.
            “Os sentimentos são maiores que nossas ideias”- um pensador falou. Realmente. Mexe demais. Com as ideias. Com os sentimentos.  E com o corpo, é claro. 
                         (Conto 1 dos Talentos da Maturidade 2013)

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