A vida começa aos 60 anos. ATUALIZANDO...a vida começa aos 74. Agora, já estou com 75. A pandemia do Corona Vírus passou. A COVID se transformou em doença, que precisamos tomar vacina todos os anos, o vírus se transformou em coisa igual sarampo. POR ENQUANTO, estou escrevendo, copiando crônicas que escrevi nesses tempos de estranheza numa realidade de idosa. QUANDO eu ficar velha, talvez não tenha vontade de escrever mais.
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
ONDE FOI QUE EU ERREI?
Mirinha me ligou de novo quase de madrugada. Essa mania da Mirinha de não dormir depois de um domingo é uma doença grave. Ela fica com insônia, bebe champagne, fica ansiosa e toma uns remedinhos para dormir. É claro que acontece o contrário: liga, ligadona, ligadérrima, e sobra pra mim. Passado de meia-noite, atendo o telefone imaginando que alguém morreu - sempre se pensa o pior nessas horas.Era a Mirinha. Ia se suicidar, ou viajar para a Chechênia, ou formar uma torcida de futebol radical, ainda não sabia.
- Bella, onde foi que eu errei?
Eu estava tonta de sono, tentando ver um programa de humor ridículo na TV.
- Mirinha, fala tudo de uma vez. Errou o quê?
- Criei meus filhos com a máxima liberdade, sempre fizeram tudo que queriam, e eu dei tudo que podia. E agora, eu sou a errada.Será que estou caduca? Essa coisa de terceira e quarta idade estão me matando...
Fiquei em silêncio. Crise de idade. A conversa ia ser longa. Deixei que desabafasse.
- Fui acusada de influência negativa com os netos. Só porque calcei minhas botas caubói, a calça jeans e a camisa xadrez e cantei "O caubói vai te pegar". Pronto: estou estragando a criança, meu neto. Meu filho me disse isso, com todas as letras. A mulher dele cochichava, a nora amada, atrás dele, tenho certeza que estava incentivando a briga. Tive vontade de morrer!
- Mirinha, não esquenta, esquece, isso é coisa de momento.
- Não é não. Acho que querem se mandar no Natal e estão encontrando uma desculpa pra deixar a velha de lado. Tô nem aí. Compro uma passagem e vou no navio do Chitãozinho e Xororó. Desapareço. E pra completar, o outro filho se ofendeu quando mandei sair um pouco pra se divertir, está sempre estressado.Me atirou na cara que vive trabalhando, não tem tempo nem pra família, e eu disse que qualquer dia ele vira corno. Pra quê! A mulher - a outra nora amada - se ofendeu, mas bem que gostou da ideia. E os dois filhos começaram uma discussão que pensei que ia acabar em morte. Nem sei por quê, até agora não entendi. Acho que foi pelo que falei... Agora falo coisas sempre erradas...Juro que fecho minha boca para sempre. Lacrada. Nunca mais falo nem canto nem fumo nem transo. Eles, todos e todas não têm tempo, vivem cansados, chegam correndo, comem e saem correndo, vou inventar umas receitas que possam ser devoradas em segundos...Fora os netos, que chegam de cara amarrada, almoçar na vó é sacrifício, já são grandes,queriam ficar dormindo até às três da tarde, então, ficam todo tempo grudados nos IPads, ou no celular, esperando a sobremesa pra saírem correndo, não sei mais nem como é a voz deles.
- Mirinha, podes dormir em paz. isso acontece nas melhores famílias. (Principalmente na Terceira Idade da Vó). Fim de ano, correria, pega um lápis e um papel e programa a lista de presentes, encomenda um bufê e Feliz Natal, amiga! Aposto que todos estarão meia-noite pra comer e receber os presentes...
- Bella, me diz, minha amiga: ONDE FOI QUE EU ERREI?
In Histórias das Insônias da Mirinha ou Crises de Sexagenárias - 2013
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