Olho pela janela o meu vizinho, deve
estar por aí, setenta e tantos, ninguém diz “Vô” Walter. O “Seu” Walter está na
ativa, tem um táxi, não que precise de dinheiro, ele me confessou que é pra se
livrar da casa, a mulher fica torrando sua paciência, querendo que ele limpe o
jardim, leve o cachorro a passear, essas coisas insanas. Sempre de bom humor, ele não tem
tempo de sentir as dores do reumatismo, nem de ser tratado como um traste.
Quem sabe, eu compro um táxi, sou
muito boa na direção. Li num livro que velhice não mata, o que mata é doença. Tem
razão, o Seu Walter não tem nem gripe, e nem toma vacina. Está entrando na
Quarta Idade com tudo de bom, principalmente bom humor. Vou colocar isso também
no meu táxi. Bom Humor.
Se a expectativa de vida aumentou,
precisamos renovar os valores, essa coisa de vovozinha esperando doces é pra história de Lobo
Mau. Hoje, o Lobo Mau come a vovozinha e ficam bem felizes, tudo bem. Nem tem perigo de uma gravidez de Lobo.
Tem uma
vizinha no 711 que usa salto 15, isso mesmo, está nos setenta e mais alguns, cabelos com luzes vermelhas, vai ao teatro,
tem namorado, e nada de cuidar de neto, cuida mesmo é do grisalho dela. Acho
que ela não tem nenhum filho que fique regulando “não come isso”, “eu te levo, não
vai dirigindo, é perigoso”, isso quando o filho pode, está sempre trabalhando muito,
e a gente fica dependendo.
Por isso, vou trocar meu carro usado
por um zero, táxi que nada, trabalhar
nunca mais, vou me mandar pra praia, está chegando o verão, a galera já deve
estar no Bar do Biruca, chimarrão e geladas, batata e camarão, jogando bocha ou sem fazer nada. Férias da
família. Só preciso fazer óculos novos, bem grandes, tipo Sophia Loren ou
Gisele Bündchen. Crise de idade? Cho, chô, chô, vai embora. Não deixo a
vida me levar, eu é que vou levar a vida...
Quarta
Idade. Eu chego lá.
E tomara que esteja como a vizinha, aí do lado, quase 90, TRI!
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