Domingo é um dia em que a TV não é boa, mas fiquei muito interessada por um programa não sei de quem nem em qual canal, o apresentador, um professor de teatro e um sociólogo. Nem os nomes guardei, pois me vi escrevendo a lápis no bloquinho - daqueles bem antigos, pra não esquecer.A conversa devia ser sobre "o que se pode e o que não se pode falar", coisas como politicamente correto, discriminação, preconceito, censura, mas o que surgiu de novo na discussão foram conceitos novos e antigos sobre Honra, Dignidade, Fé. Assim, com letra maiúscula. Uma frase que foi dita e me recordou o meu pai, que sempre dizia: "Prefiro morrer de pé a viver de joelhos" - para exemplificar que Dignidade é ser correto, é manter a cabeça levantada, garantida por uma vida cheia de bons princípios, não aceitar "tudo por dinheiro". E que parece fora de moda, tem muita gente que perde a moral, mas não perde dinheiro, e a Honra também passa a ser apenas uma palavra. O jogador safado, traficante, marginal, é ovacionado porque faz gols. Não interessa o exemplo que ele passa aos nossos filhos e netos. O que importa é o dinheiro, a fama.E chegamos onde comecei: O sobrenome, hoje, tem valor? Aquela pergunta que se fazia antes: De que família tu és? - parece ridícula. Mas não é. Ter orgulho do pai, da mãe, do avô e avó, tio. Porque eles são exemplos de Honra e Dignidade.
Quando eu era pequena ( muito tempo atrás), meu pai açougueiro - eu era pobre e não sabia - minha mãe do lar, mas o trabalho era muito valorizado, não tinha dinheiro sobrando mas a gente tinha tudo que podia. Como eu enchia a boca pra dizer: Sou filha do fulano DE TAL e da fulana DE TAL Esse DE TAL, o sobrenome, enchendo a boca. Com todo o respeito por serem pessoas reconhecidas pelo trabalho, pela honestidade.
Certa vez, falando em profissões com meus alunos, cada um dizia qual a profissão do pai e da mãe. Carroceiro, artesão, advogado, professor, comerciante. E com a ingenuidade da infância, o menino falou: meu pai é ladrão de bicicleta. Nenhum comentário tive coragem de fazer, segui a atividade. Quando esse menino cresceu, não sei como ele falou sobre o pai, se era filho do fulano de tal, eu o perdi de vista, ou ele foi embora, não sei. E o filho de quem desvia milhões do povo, publicamente, todo mundo sabe, como vê o pai? Será que tem orgulho de ser filho do ladrão? Ou o ladrão tem tanto dinheiro que compra até a opinião do filho e do povo? A sociedade de espetáculo quer ver a celebridade, o minuto de fama. A memória coletiva anestesiada. Tudo passa a ser relativo. Partidos se vendem por cargos. Ideologia deixa de ser requisito. Despersonalização.
SER OU NÃO SER: EIS A QUESTÃO. Shakespeare nunca foi tão atual.
Dignidade. Honra. Fé. Acreditar no que não posso provar. É abstrato, mas existe.
Concretamente? O EXEMPLO. O exemplo é concreto e tem Nome e Sobrenome.
A vida começa aos 60 anos. ATUALIZANDO...a vida começa aos 74. Agora, já estou com 75. A pandemia do Corona Vírus passou. A COVID se transformou em doença, que precisamos tomar vacina todos os anos, o vírus se transformou em coisa igual sarampo. POR ENQUANTO, estou escrevendo, copiando crônicas que escrevi nesses tempos de estranheza numa realidade de idosa. QUANDO eu ficar velha, talvez não tenha vontade de escrever mais.
Bem dito, uma verdade atual que me entristece...
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