Acordei com Fabrício Carpinejar: "Mas de longe todo morcego é um pássaro". Nada contra morcegos, respeito a importância deles no ecossistema, me fascinam os vampiros e também nem todo pássaro é passarinho, os abutres vão comer meus olhos. Saí para a vida a procurar alguém para discutir o tema. De longe, todo morcego é pássaro.
Praça Osório, centro do centro
de Curitiba, dali vê-se a praça, a Boca Maldita e tudo que tipo de gente;
confeitaria antiga que hoje é por quilo, mesa da janela, a mulher de longe era
uma artista. Roupa preta, uma echarpe meio xadrez extravagantemente grande
enrolada no pescoço, cabelos à Amy Hinehouse com mechas escabeladas longas
caindo nos ombros e a boca imensa, vermelho carmim (palavra antiga:
CARMIM: substância corante, em vermelho vivo, extraída da
cochonilha-do-carmim; magenta, ou seja, vermelho muito vermelho). Uma bolsa também preta, imaginei o
mundo inteiro dentro daquela bolsa imensa. Eu queria demais conversar com ela.
Vou não vou, acabei não indo e enfiando minha boca numa língua ao molho. Ou a
língua ao molho na minha boca. E a mulher lá, acabara de comer e parecia estar
dando um tempo. Eu também. Vi que me cuidava, de revesgueio (REVESGUEIO:
expressão do sul,igual a de soslaio, disfarçadamente).
Peguei um
cafezinho, paguei a conta, ela também, no elevador: "A senhora vai
descer?"eu segurei a porta. Ela entrou com um meio sorriso, a bolsa
enfiada no braço, um batom na mão, não deu tempo de se pintar.
- Gosta de
poesia? - ela me perguntou assim, na lata.
- Gosto.
- Vou a um
encontro da Academia Feminina de Letras, homenagem a dois poetas e aniversário
de uma amiga poetisa. Queres?
Saímos do
elevador e no saguão do prédio nos apresentamos, eu curiosa por uma história,
ela com uma história pra me contar.
Estou com o DVD da mulher que de longe era
uma artista.
Às vezes, o
morcego de longe é um pássaro. Às vezes, a mulher de longe parece uma artista e
de perto É uma artista.
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