Ele me pediu para vestir aquele vestido muito justo, muito curto, com um decote grande na frente e imenso atrás. Os pais dele tinham saído. A casa vazia. Casa antiga. Um corredor no meio. De um lado, a sala. De outro, o quarto do casal. As portas muito altas. Ele colocou uma música relax, apenas tocada. Me pediu que eu fizesse cenas de Marilyn. Eu só enxergava a silhueta dele na outra peça, aquela, depois do corredor.Ele se mexia. Mas eu me mexia muito mais, sozinha num sofá, fazendo caras e bocas, espichando a perna pra cima, puxando o vestido, revelando tudo o que podia.Afinal, eu era uma menina de 14.Poses de Marilyn, eu era a protagonista, a artista.Sexy. Vi nos filmes. Dedo na boca. Pernas perfeitas, vestido assim, puxando pra cima.
Nem sei quanto tempo a gente ficou assim, brincando de Hollywood. Eu era apenas uma menina. E ele já era um homem. Hoje eu entendo o que eram aqueles movimentos de braços e mãos.Depois...me levou pra casa.Pra minha casa. Um beijo rápido. Eu era apenas uma
menina. E ele, um homem que me amava.Puramente. Totalmente.
A vida começa aos 60 anos. ATUALIZANDO...a vida começa aos 74. Agora, já estou com 75. A pandemia do Corona Vírus passou. A COVID se transformou em doença, que precisamos tomar vacina todos os anos, o vírus se transformou em coisa igual sarampo. POR ENQUANTO, estou escrevendo, copiando crônicas que escrevi nesses tempos de estranheza numa realidade de idosa. QUANDO eu ficar velha, talvez não tenha vontade de escrever mais.
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