A vida começa aos 60 anos. ATUALIZANDO...a vida começa aos 74. Agora, já estou com 75. A pandemia do Corona Vírus passou. A COVID se transformou em doença, que precisamos tomar vacina todos os anos, o vírus se transformou em coisa igual sarampo. POR ENQUANTO, estou escrevendo, copiando crônicas que escrevi nesses tempos de estranheza numa realidade de idosa. QUANDO eu ficar velha, talvez não tenha vontade de escrever mais.
domingo, 5 de janeiro de 2014
CUECAS E ESCOVA DE DENTES
Zuleica não aguentava mais. Toda vez que tocava o celular,João Henrique se escondia para atender. Disfarçava, falava "mais um engano,número errado, toda hora é essa chateação, qualquer dia jogo fora esta bosta".Zuleica se remoía de desconfiança. Devia ser alguma sirigaita atrás do marido. João Henrique era tudo de bom: forte,trabalhador,dedicado à famíla. Mas ultimamente andava nervoso, sempre com um compromisso na rua,parecia que estava com o bicho carpinteiro. Olhava o relógio toda hora, e ainda o perfume...Nunca deu bola pra perfume, agora anda comprando uns importados falsificados, será que virou gay? E na hora de dormir,inventa qualquer coisa, um filme, um jogo na TV,Zuleica com camisola de seda e tudo e ele nada. Mais o chiclete. De menta. Mascando aquela coisa gosmenta, nem bebia mais, se bebesse não podia sair.
Zuleica comentou tudo isso com a Mirinha, "estou achando que João Henrique está me traindo". Mirinha não é especialista em traição, mas já viu tanta novela que sabe tudo de safadeza.
- Olha aqui, Zuleica: Tem um esquema infalível. Pega o celular, anota os números repetidos e liga, mas tem que ter um ship novo pra não descobrirem que és tu chamando...Se uma mulher atender, inventa uma desculpa, diz que é da Renner e quer mandar um presente. Pega o endereço.
Foi fácil demais. Nem precisou do presente da Renner.A voz inconfundível da Izabelita disse alô. Zuleica quase morreu. Izabelita.
- Mirinha, a sirigaita é a Izabelita, mulher do Adroaldo da padaria. Com três filhos. Safada. O marido amassando pão e ela sovada pelo MEU marido. É hoje que boto aquele cachorro pra fora de casa! Atiro as roupas pela janela. E chamo o Adroaldo. Eu quero sangue!
- Calma, Zuleica.Tem uma vingança maior.Pega as cuecas e a escova de dentes do João Henrique e leva pra Izabelita.Ela que usa o caralho, ela que lave as cuecas do garanhão.E diz que depois vais mandar as malas. E os filhos do Pedro Henrique pra morar com ela.Me conta, depois da visita.Sempre funciona.
Zuleica fez bem assim.
- Mirinha, ela abriu a porta e ficou disfarçando, grande amiga, ela. Eu não dei nem tempo de ela abrir a boca - a Zuleica contou tudo, telefonema demorado, esse - fui logo atirando as cuecas e a escova de dentes na cara dela, ela que lavasse as cuecas do sem-vergonha - a vagabunda chorou, pediu perdão, jurou nunca mais ver o Pedro Henrique, tinha sido uma vez só, ela e o padeiro Adroaldo viviam bem, tinham filhos, não podia estragar a vida.
- Zuleica, tu perdoaste? Agora és uma chifruda e santa?- Mirinha sabia o fim da história. Foi assim com a Paula Maria.Com a Nereida Marta. E com a Eva Cristina. Elas, as cornas, sempre perdoavam.
- Deixa eu te contar o resto, Mirinha.-Zuleica estava cheia de razão- Cheguei em casa, disposta a jogar as malas do safado do Pedro Henrique pela janela,ele entrou como um furacão, olhar de assassino, de certo tinha falado com a vagabunda, quis ganhar no grito, que eu estava louca. Mandei "cala a boca que o padeiro vai saber agora mesmo". Pedro Henrique murchou, Adroaldo era grandão, o rei do pão,ia fazer farinha do Pedro Henrique.
Pedro Henrique chorou, que me amava, que estava na crise dos cinquenta, e a família, tudo que tinha,perdão, pediu, se ajoelhou, que foi a Izabelita que se atirou pra cima dele...Virou um traste, anda que nem zumbi pela casa, jogou o celular no lixo ( que eu guardei). Fiquei com pena dele. Traste. Desgraçado.Culpa daquela Izabelita, aquela correntina. Gorda.
Mirinha já sabia que seria assim. Quem tem pena é galinha, Zuleica. E chifre só dói quando nasce.
Zuleica,a corna, perdoaria Pedro Henrique. Adroaldo, o padeiro corno, nunca saberia. A sagrada família estava salva.
Pois a receita da Mirinha é infalível. Nenhum caso de traição resiste a juntar escovas e lavar cuecas.
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