MINHA VIDA É UM PALCO

MINHA VIDA É UM PALCO
Somos como atores neste palco que é o mundo, as cenas são os dias e noites, e o roteiro quem escreve é a VIDA!A vida depois dos 60. É começar novo, novos horizontes, um mundo diferente e muito mais LEVE! A gente está sempre começando, sempre aprendendo...E aos 60 anos, a gente nasce de novo! A minha Infância da Maturidade! COMO SERÁ NOS 70?Na minha ADOLESCÊNCIA da Maturidade...CHEGUEI! Cheguei chegando imaginando a vida toda...70 ANOS! BÓRA LÁ QUE A VIDA TÁ PASSANDO!!!E até uma PANDEMIA!Nunca pensei ...De repente, ficar presa em casa, sozinha. Se sair, o CORONA VÍRUS pega. Horrível todo mundo sem se tocar.

sábado, 28 de dezembro de 2013

CRISE DE IDENTIDADE DA MIRINHA





           Olho pela janela o meu vizinho, deve estar por aí, setenta e tantos, ninguém diz “Vô” Walter. O “Seu” Walter está na ativa, tem um táxi, não que precise de dinheiro, ele me confessou que é pra se livrar da casa, a mulher fica torrando sua paciência, querendo que ele limpe o jardim, leve o cachorro a passear, essas coisas insanas. Sempre de bom humor, ele não tem tempo de sentir as dores do reumatismo, nem de ser tratado como um traste. 

            Quem sabe, eu compro um táxi, sou muito boa na direção. Li num livro que  velhice não mata, o que mata é doença. Tem razão, o Seu Walter não tem nem gripe, e nem toma vacina. Está entrando na Quarta Idade com tudo de bom, principalmente bom humor. Vou colocar isso também no meu táxi. Bom Humor.

            Se a expectativa de vida aumentou, precisamos renovar os valores, essa coisa de vovozinha esperando doces é pra história de Lobo Mau. Hoje, o Lobo Mau come a vovozinha e ficam bem felizes, tudo bem. Nem tem perigo de uma gravidez de Lobo.
          Tem uma vizinha no 711 que usa salto 15, isso mesmo, está nos setenta e mais alguns,  cabelos com luzes vermelhas, vai ao teatro, tem namorado, e nada de cuidar de neto, cuida mesmo é do grisalho dela. Acho que ela não tem nenhum filho que fique regulando “não come isso”, “eu te levo, não vai dirigindo, é perigoso”, isso quando o filho pode, está sempre trabalhando muito, e a gente fica dependendo.

            Por isso, vou trocar meu carro usado  por um zero, táxi que nada, trabalhar nunca mais, vou me mandar pra praia, está chegando o verão, a galera já deve estar no Bar do Biruca, chimarrão e geladas, batata e camarão,   jogando bocha ou sem fazer nada. Férias da família. Só preciso fazer óculos novos, bem grandes, tipo Sophia Loren  ou  Gisele Bündchen. Crise de idade? Cho, chô, chô, vai embora. Não deixo a vida me levar, eu é que vou levar a vida...

            Quarta Idade. Eu chego lá.

  




E tomara que esteja como a vizinha, aí do lado, quase 90,  TRI!

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

MAIS É MELHOR QUE MENOS


Chegando final de ano, o Natal com toda sua magia, retrospectivas em nossas vidas e avaliação de o que foi certo ou errado. Todo ano a mesma história, mas com enredos diferentes, personagens novos em cena e personagens que desapareceram assim, simplesmente se foram deste contexto físico que chamamos de Planeta Terra. Eu estava pensando em contar uma história de quando eu era pequena (não em Barbacena, mas em Uruguaiana Grande) quando Mirinha - sempre minha amiguinha doida - me arrastou para o cinema. Fomos ver "A Última Viagem a Vegas", com eles, aí:

 Quatro amigos de infância, agora na Melhor Idade(?) que vão à despedida de solteiro do único solteirão, lindo e rico e enrugado. Cada um com um problema. Muito bem cuidados pelos familiares (menos o solteirão, só na farra,querendo casar pra ficar igual aos outros). Não conto filme, é legal, quem quiser saber, que pague.     Difícil foi aguentar a Mirinha,todo o tempo me cutucando:
"Viste? O filho enche o saco do pai, não pode fazer nada!" Realmente, na família era um tédio: remédios, descanso, sopinhas...Até que foram pra Las Vegas e se largaram...
E a Mirinha saiu do cinema com a mesma ladainha: "Filhos só regulando, que saco!"
    No outro dia, eu e a chatinha, saindo da hidroginástica, Mirinha continuou se comparando com o pessoal de Hollywood.
Uma colega que ouvia os choramingos da Mirinha, olhou bem na cara dela, colocou a mão no ombro da minha amiga e falou: 
"Feliz de você que seus filhos se preocupam. Tem gente, como eu, que nem vejo meus filhos. Moram no mesmo bairro que eu, posso até morrer, eles nem se dignam a telefonar. Já fiquei com labirintite quase três dias, pensa que foram me ver? Nada."
    Mirinha calou. Vi que ficou chocada. 
    - Viste, guria? Não reclama de boca cheia. Mais é melhor que menos.
      Esta é a reflexão de Natal para os pais que reclamam dos excessos de cuidados dos filhos. É excesso de AMOR. 
     Tudo bem, é um saco ser tratado como imbecil, mas até que MAIS é melhor que NADA.

(Quem sabe, Mirinha, nós vamos pra Las Vegas, também.Com esse quarteto à solta por lá...)
 


domingo, 22 de dezembro de 2013

FELIZ NATAL? FELIZ NATAL!

Estou sem criatividade. 
Então, copiei de alguém do Face a mensagem acima. Linda.Se na minha casa tem um pedaço do céu, uma felicidade, uma estrela de amor, está bom!
        Na verdade, Natal é uma data tão importante que a gente fica assim, pensando no que quer dizer aos amigos. 
E ficar pensando no Nascimento de Jesus. Quanta verdade? Quanta crença? Quanto de realidade? Ou apenas uma coisa inventada para as pessoas pararem um pouco e refletirem sobre o que importa, realmente.
Presentes? E quem nunca vai poder comprar? Ou nem sabe o quê essa data representa?
Alguém, quem sabe o Prêmio Nobel de Publicidade (que ainda não existe), deve ter criado essa data ou lenda ou quem sabe o quê.
                  Mas quem tem uma criança em casa, e que tem grana pra comprar um presente, quem sabe um peru ou um chester                             (tu já viste um chester vivo? Eu, não), está dentro da história.E a neve, aquela no pinheiro...Quem tem um pinheiro de verdade? Quantas florestas derrubadas...
O que a gente quer, de verdade, é ter nossas pessoas queridas junto conosco.
            Se não tiver peru, pode ser um frango assado.
       Se não tiver presente, um abraço, bem apertado.
O que importa é o momento. E saber que se existe um Jesus, existe uma esperança.
 

                   Se alguém matar a esperança, ela renasce,sempre.
                   Porque a gente somos teimosos.
    A gente quer comida e bebida, e muito mais que isso, a gente quer AMOR. 
                               Natal é AMOR.
           Vamos nos abraçar e nos beijar? MUIIIITO!
                                 Feliz Natal!
               Mesmo que seja virtual. Muito virtual. 
                        O NOVO NATAL!
 

            AMOR, PAZ E AMIGOS:                         FELIZ NATAL! 

                                                             
         Bellabereg 2013
                                                                          
                                              

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

ONDE FOI QUE EU ERREI?


Mirinha me ligou de novo quase de madrugada. Essa mania da Mirinha de não dormir depois de um domingo é uma doença grave. Ela fica com insônia, bebe champagne, fica ansiosa e toma uns remedinhos para dormir. É claro que acontece o contrário: liga, ligadona, ligadérrima, e sobra pra mim. Passado de meia-noite, atendo o telefone imaginando que alguém morreu - sempre se pensa o pior nessas horas.Era a Mirinha. Ia se suicidar, ou viajar para a Chechênia, ou formar uma torcida de futebol radical, ainda não sabia.
- Bella, onde foi que eu errei?
Eu estava tonta de sono, tentando ver um programa de humor ridículo na TV.
                         - Mirinha, fala tudo de uma vez. Errou o quê?
- Criei meus filhos com a máxima liberdade, sempre fizeram tudo que queriam, e eu dei tudo que podia. E agora, eu sou a errada.Será que estou caduca? Essa coisa de terceira e quarta idade estão me matando...
                         Fiquei em silêncio. Crise de idade. A conversa ia ser longa. Deixei que desabafasse.
- Fui acusada de influência negativa com os netos. Só porque calcei minhas botas caubói, a calça jeans e a camisa xadrez e cantei "O caubói vai te pegar". Pronto: estou estragando a criança, meu neto. Meu filho me disse isso, com todas as letras. A mulher dele cochichava, a nora amada,  atrás dele, tenho certeza que estava incentivando a briga. Tive vontade de morrer!
                        - Mirinha, não esquenta, esquece, isso é coisa de momento.
- Não é não. Acho que querem se mandar no Natal e estão encontrando uma desculpa pra deixar a velha de lado. Tô nem aí. Compro uma passagem e vou no navio do Chitãozinho e Xororó. Desapareço. E pra completar, o outro filho se ofendeu quando mandei sair um pouco pra se divertir, está sempre estressado.Me atirou na cara que vive trabalhando, não tem tempo nem pra família, e eu disse que qualquer dia ele vira corno. Pra quê! A mulher - a outra nora amada - se ofendeu, mas bem que gostou da ideia. E os dois filhos começaram uma discussão que pensei que ia acabar em morte. Nem sei por quê, até agora não entendi. Acho que foi pelo que falei... Agora falo coisas sempre erradas...Juro que fecho minha boca para sempre. Lacrada. Nunca mais falo nem canto nem fumo  nem transo. Eles, todos e  todas não têm tempo, vivem cansados, chegam correndo, comem e saem correndo, vou inventar umas receitas que possam ser devoradas em segundos...Fora os netos, que chegam de cara amarrada, almoçar na vó é sacrifício, já são grandes,queriam ficar dormindo até às três da tarde, então,  ficam todo tempo grudados nos IPads, ou no celular, esperando a sobremesa pra saírem correndo, não sei mais nem como é a voz deles.
                       - Mirinha, podes dormir em paz. isso  acontece nas melhores famílias. (Principalmente na Terceira Idade da Vó).  Fim de ano, correria, pega um lápis e um papel e programa a lista de presentes, encomenda um bufê e Feliz Natal, amiga! Aposto que todos estarão meia-noite pra comer e receber os presentes...
 - Bella, me diz, minha amiga: ONDE FOI QUE EU ERREI?




In Histórias das Insônias da Mirinha ou Crises de Sexagenárias - 2013

domingo, 8 de dezembro de 2013

A NOVA QUARTA IDADE




Outra da Mirinha. Dessa vez, ela me garantiu que não fumou nem bebeu! Escrevi até os suspiros.

                  "Sempre pensei que iria morrer aos setenta, oitenta como meus pais e tios. Mas ando já com sessenta e uns e passo em todos os exames de laboratório de sangue, fezes e urina. Meu médico diz que vou aos cem, será? Mas minha poupança deve acabar daqui a pouco, viagens, festas, presentes pros netos, pílulas, plásticas, academia, isso custa, me programei para viver até os oitenta, sem pedir nada pra ninguém, sempre uso uns pilas da poupança cada vez que me passo nos cartões, fiz muito bem as contas, dá bem pra viver até os 80. Mas só até os 80. Aí, se não morrer, faço o quê? Depois de usar toda a pequena e calculada poupança, nem poderei pedir empréstimo, pagar como? Minha aposentadoria dá certinho pra luz, água, comida e remédios - e gasolina e álcool. Vou fazer o quê da minha vida? Ficar em casa, fazendo tricô e vendo novela? Essa não!

            Ontem fiquei lendo as histórias da Bella, Invisível, esse tal preconceito que velho não serve pra nada...aposentado vira supérfluo...e tive uma inspiração para existir de novo.

            Já estou com tudo na cabeça: vou abrir um comércio para a Nova Terceira Idade. Faixa etária, 60/80, direto da Fashion Week, pele de cobra, oncinha, zebrinha, brilhos, jeans, shortinhos, isso mesmo, shortinhos.... E outro, esse negócio sim, é novidade, não tem nada assim por aí, é a Moda para a Quarta Idade: dos 80 aos 100! Essa, só eu pensei – com direito a roupas indianas, americanas, caribenhas, reviver as hippies que existem dentro de cada uma. Ou direto de Miami, onde tem milhares de coisas pra velho gordo e magro, coisa bonita de se ver. Com certeza, vai ser um enorme sucesso. Falei pra Bella, pensei que ninguém estava prestando atenção, nunca me ouvem, sempre estão apressados, mas tinha gente nos ouvindo:

            - Vou roubar sua idéia -  gritou uma das noras, aquelas malas que sou obrigada a carregar, pois são as mães dos meus netos.

          - Não falei contigo - gritei pra mala, delicadamente, um beijinho de biquinho pra ela não se ofender - não quero sociedade, isso de Quarta Idade é minha ideia, minha e da minha amiga Bella, vou patentear hoje mesmo!

            - Podemos anunciar: “Roupas lindas para a melhor vovó do mundo!”- de novo a norinha tão queridinha...

            Estragou tudo. Eu não disse que é mala? Roupas pra Vovó, só que seja a vó dela. Por que não: “Roupas descoladas para uma mulher espetacular”? Que mania horrorosa essa de chamar tudo que é velha de vovó? Até meus filhos me chamam de vovó. Por acaso, alguém fala “Vovó Dilma” para a presidente?

                        Quarta Idade. Preciso escrever sobre isso. Criar até um  Caixa Prioritário Extraordinário  a partir dos oitenta. Vagas para Idosos I e Idosos II. E a Loja da Quarta Idade, tudo lindo, brilhos, cores, sem degraus, muitas poltronas, modelos desfilando, quem sabe até Tatoo. Sou ou não sou fantástica?"
              Essas ideias da Mirinha até que são boas, já temos até um modelo,  estou até pensando na sociedade...

        In TALENTOS DA MATURIDADE 2013, de Bellabereg.

sábado, 7 de dezembro de 2013

A NOVA TERCEIRA IDADE



                  Estou em busca do que fazer nesta maravilhosa aventura de ter tempo e poder tudo. E a Mirinha também,  é minha melhor amiga, mais de sessentinha e também professora aposentada e viúva, como eu, só que ela é uma desvairada sem censura, inventa cada coisa que eu me apavoro. Resolvi contar algumas de nossas histórias, muitas trágicas, outras cômicas, quase verídicas. Mas quem tem coisas interessantes, mesmo, é a Mirinha,  que não escreve porque não consegue ficar sentada na frente do computador, ela é hiperativa, nunca vi pessoa mais agitada.

            A Mirinha diz que agora tem o direito de fazer tudo que lhe der na telha, “não preciso mais dar satisfação à sociedade, a patrão, a padre e a pastor, nem a filhos ou pai-de-santo, só quem pode mandar em mim sou eu e o meu médico”, assim ela justifica as loucuras a que me obriga a participar. Para meu total prazer, e para ter material para meus contos.

            Essa epopeia toda iniciou quando ela fez seus sessenta anos. E como eu tenho mania de escrever, fiquei encarregada de contar suas – e minhas -  histórias. Esta primeira é dela, acho que é tudo invenção, mas qualquer semelhança com a ficção é mera coincidência.

             “Já faz anos, mas me lembro bem, juventude a mil, perto dos trinta,  trabalhando doze horas por dia, eu ficava com uma raiva quando entrava na enorme fila do banco ao meio-dia, hora da refeição que eu não fazia, para poder receber meu salário e pagar as contas, e tinha aquela quantidade de velhos e velhas, tudo aposentado, sem nada pra fazer nem em casa nem em lugar nenhum, e ficavam lá, passando na frente de todo mundo, parece que faziam de propósito, e demoravam até pra guardar a papelada e dinheiro na carteira. Tinha que ter paciência, e eu respeitava – mesmo com vontade de estrangular um a um ou mandar todos sentar na praça a olhar pombinhas. Ainda não tinha os salvadores caixas eletrônicos!

            Jurei pra mim mesma que no dia que fizesse sessenta anos seria a primeira a usar meus direitos de sexagenária, passar na frente de todo mundo, e demorar bastante no caixa. 
            Comemorei meus 60 e minha  aposentadoria tudo junto, numa festa “de arromba”, com muito rock’n roll, valsa, marchinha, bolero, sertanejo e funk, álcool y otras cossitas más. No outro dia, corri para o banco, com toda a emoção de uma primeira vez, a carteira de identidade na mão para mostrar que eu tinha 60. Peguei a senha de PRIORITÁRIO, fui chamada quase imediatamente, olhei para ver quantas pessoas  iriam gritar: “Você não pode entrar no caixa dos idosos, você não tem idade”, nem barriga eu tenho, ou passaria por grávida. Silêncio. Ninguém reclamou. A primeira surpresa. Pensei naquele instante: “Ora, essa, será que já pareço com uma senhora da terceira idade? Ainda me sinto com cinquenta e nove, uso todos os cremes para alisar as rugas, visto jeans e Adidas, todos os cabelos brancos escondidos nas mechas avermelhadas, qual a diferença? – quase gritei, totalmente ignorada pela fila dos normais.

            O caixa de prioridades, um bancário especialista em pessoas idosas, falava devagar, num tom mais alto que os dito normais ( é normal se não é  grávida, ou deficiente, ou velho), indicava com a caneta onde eu devia assinar; ainda ontem apenas empurrava o documento, eu que me virasse. Agora eu sou uma imbecil, surda e cegueta? Triste constatação: eu não apenas pareço, eu SOU uma senhora da terceira idade. Caixa prioritário. Nunca mais entro nessa, nem que fique horas esperando. Quero ainda ser normal.

            Saí frustrada. Olhei para o guarda do banco, com medo que ele viesse me ajudar a sair pela porta giratória. Queria ser poeta, poeta não tem idade, o Vinicius fazia poesia, teve 8 mulheres, vivia na orgia, morreu com quase 70. Drummond com quase 80, ninguém dizia “o velho Drummond”, diziam “o poeta maior”.  Ou se eu fosse  artista,  o Gilberto Gil, o Caetano, o Milton, o Paulinho da Viola, todos estão nos setenta, ninguém atira em cara a idade. A Vera Fisher tem minha idade. Até a Suzana Vieira é mais velha que eu, taí, casada com um garotão e bem gatona. E a Dilma? Mais velha do que eu e todo mundo puxa o saco dela, com aquela peruca ridícula...E os homens...esses não têm idade, ou será que só ficam idosos se a conta do banco murcha, com as outras coisas? 
              Então, por que esta sensação? Só por causa da fila do banco? Acho que nenhuma celebridade idosa vai ao banco, se for, nem entra em fila, o gerente faz um atendimento especial.

            Talvez eu esteja vendo coisas. Será?

            Sou muito inteligente, estudei e ensinei Português toda a vida, duvido que você saiba o que é uma oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de particípio. Eu sei. Sei tudo de metáfora, de locução verbal, de vírgula, até o sujeito oculto eu acho em qualquer lugar, e agora, aonde enfio tudo que tenho bem aqui na minha prodigiosa memória? Vai pra terra, alimentar os vermes que hão de me comer? (bem que eu queria ser comida, e em vida, mas  não pelos bichinhos).

            Vamos às estatísticas: A média de vida do brasileiro aumentou; comodidades, planos de saúde, geriatras extremamente dedicados, boa mesa e bons vinhos. Se não morrer num assalto, numa bala perdida ou num acidente de carro, ou se nenhum avião entrar pela janela, o cidadão pode bem chegar a setenta, oitenta, até 90 ou 100. Se o Ulisses Guimarães não se explodisse num helicóptero, teria festejado o centenário com o Oscar Niemeyer, que morreu com mais de cem. Mas a discriminação é que mata os velhos, muita gente acha que  nossa capacidade de pensar despenca com o físico. Ficam nos escanteando. Como coisas desnecessárias, não prestamos mais pra nada. A não ser cuidar de netos.

            Vejamos a moda: as lojas descobriram a Moda Tamanho Especial ( eufemismo pra gordo), o maior sucesso, tudo três vezes mais caro e sem graça, além de gordo, desbeiçado. E as roupas pra Melhor Idade? Só pra mulher, será que homem não envelhece? Sem coloridos, sem brilhos, tudo solto, do cinza ao cinza chumbo. Marrom. Grená ( quem sabe que cor é grená?).

            Vou me rebelar, quero voltar a ser respeitada, o caixa do banco vai me mandar para o gerente, conta especial, a família voltará a me chamar para as festas da noite, agora só me levam em café colonial e me oferecem chá... Bolachinhas e meias e chinelos e casaquinhos de presente, parece que estou em estado terminal. Terceira Idade. Melhor Idade. Melhor pra quê?”

             Isso tudo foi a história da Mirinha. Quanta sabedoria, minha amiga disse tudo que também eu e minhas amigas aposentadas, as da hidroginástica e as do coral sentimos. Eles, os guris, não sei. Mas a gente "se acha"...

      De Bellabereg - 2013 - in TALENTOS DA MATURIDADE 2013

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

NESTA VIDA TUDO É SEXO



NESTA VIDA TUDO É SEXO
            Oi, eu sou Bella, nascida antes da década de cinquenta, professora aposentada, viúva, quase virgem de novo, sem cachorro, moro sozinha, a vida é minha! Finalmente posso ler quanto quiser, na hora que desejar, sem horários a dirigir minha vida. Li quase todos os clássicos, de românticos a realistas, nacionais e estrangeiros, alegres e brochantes, enfim, agora quero ler só para me divertir.  Adoro best seller com todas as novidades da lista dos mais vendidos. Inclusive, com tantos comentários sobre um tal de 50 tons, fiquei curiosa. E minha sobrinha advogada ganhou um volume do namorado, também advogado, muito sérios, ela  disse: “Tia, é bem teu tipo, vais gostar” – fiquei meio-assim, advogados, deve ser coisa de leis, aquelas teorias chatas...Mas fiquei bem curiosa por ela ter dito que era do meu tipo. Qual é meu tipo?
            Voltando pra casa, na livraria do aeroporto, o livro “do meu tipo” me olhou como dizendo “me compra”. Comprei.
            Comecei a ler no avião. A cada página, o vermelhão da minha cara e uns calores no corpo, olhei para os lados, vá que alguém me pegue com o livro, escondi a capa com uma revista da Tam, a aeromoça me perguntava se queria uma bebida, pedi “com bastante gelo”, e o homem do livro continuava mexendo os dedos, a mocinha do livro desmaiando, bem o que estão pensando, o pior é que eu não podia parar de ler.
            - Senhora, chegamos – a aeromoça me chamava e eu dentro do livro – nem vi que o avião estava vazio, a leitura me envolveu demais.
            Já em casa, nem abri a mala e me joguei na cama, sempre lendo o romance “bem o meu tipo”, quando toca o telefone:
            - Mãe, como foi de viagem? Que estás fazendo?
            - Estou toda molhadinha.
            - Que é isso, mãe? Compraste alguns aparelhinhos? – ela sempre pensa que uso coisas, sabe como é, sou viúva, fico só na imaginação.
            - Nada, filha. Estou lendo um livro que tua prima me recomendou, o hit da moda,campeão de venda, são três volumes, estou no primeiro,  tudo que é mulher anda lendo. É a história de um homem lindo, bilionário, um CEO, tarado total, acho que tem um trauma, pois dá palmadas na namorada, tem milhões de algemas, um quarto erótico cheio de coisinhas interessantes e sádicas...
            A pobrezinha da minha filha nem sabia da existência desse livro, é professora, tadinha, passa o dia ensinando os filhos dos outros, chega em casa tem o próprio filho e o marido pra organizar, nem tem tempo.
            - É, filha, tens que te atualizar, essa leitura é trilegal, sexo total, bem que sempre te falei que tudo na vida é sexo.
            - Mãezinha querida – aí vem bomba, pensei ao ouvir o “inha querida”- vai caminhar, sai de casa, vai pra hidroginástica, ou pra psicóloga, ela te entende, toma teus ansiolíticos, para de pensar nessas coisas – para os filhos, depois dos sessenta parece que me aposentei da cintura pra baixo.
            Fechei o livro. Por pouco tempo. Abri o livro.  Atravessei a noite lendo.
            Precisei de um esforço para me manter acordada.  A mocinha não era mais virgem, nem usava mais calcinha, para poupar tempo, o moço bonito muito bem dotado de todas as qualidades, uma felicidade só, os dedos sempre  exercitados.
            No outro dia, falei do livro – melhor, do que dizia no livro – para minhas coleguinhas todas como eu, mais de sessenta, uma briga pra quem vai ler primeiro, fiz um rodízio. A Candinha ficou dois dias, devolveu,  disse que não leu, é muito comportada, mas tenho certeza que leu, sim, anda toda alegre...e o marido dela também. A Rutinha também disse que não vai ler, mas eu sei bem que mandou pedir pela internet os três volumes, só não quer dar o braço a torcer que está entusiasmada por umas bolinhas de prata, que também comprou pela internet. A Miriam devolveu, disse que não é a leitura do tipo dela, mas que fez um sacrifício – e também leu tudo. Mas a Dorinha assumiu que leu e gostou. Erótico, não pornográfico, falou. Uma nova visão das relações. Concordo. Pelo sucesso desse tipo de leitura nos dias atuais,  ( meu tipo, de acordo com a sobrinha), renovei minhas ideias.
            Desta vez, minha teoria fica provada: Tudo é sexo nesta vida bela. Vejamos: por que esse cuidado excessivo com o corpo, com a roupa, o perfume, os cabelos? Pra ficar em casa? Não e não. É pra chamar a atenção de determinada pessoa, o caçador, a caçadora, que estão ali,esperando... Aquele biquíni pequenininho, comprou pensando em quem? As langeries cada vez mais ousadas, usar pra quem? Um carrão, o som bem alto, excelente pra chamar a atenção para quem está dentro, o caçador. E tem esmaltes coloridos, calças muito justas, decotes, brincos imensos, aquela mexida no cabelo, olhares com faíscas, finalmente a química que rola entre duas pessoas, como um instinto animal. É o “OLHE e PEGUE”, “estou aqui, veja”, a incessante busca do parceiro ou parceira, até o fim dos tempos. E a música? Tem algo mais erótico que o funk?  Só o bolero, quando a gente dançava com o rosto colado e com todo o corpo assim, encostadinho, ai como era bom! É isso mesmo: Sexo. A mais explosiva e democrática das artes. O exercício natural para a salvação da raça humana.
(
            Depois dessa inegável justificativa de minha teoria “Tudo é Sexo”, a constatação de que   Freud continua atual, a libido – o impulso sexual, a energia vital do ser humano – é quem manda na nossa vida. Em todas as coisas que fazemos, está lá, o sexo.  Não só em cinquenta tons. Até me desconcentrei do que estava falando.
            “Os sentimentos são maiores que nossas ideias”- um pensador falou. Realmente. Mexe demais. Com as ideias. Com os sentimentos.  E com o corpo, é claro. 
                         (Conto 1 dos Talentos da Maturidade 2013)