Sábado depois do carnaval. A turma toda se´preparou para o "Enterro dos Ossos". Para quem não sabe, é a despedida da orgia que é o carnaval. Uma festa em que pierrôs e colombinas não dançam mais nos salões, mas vão para as ruas alegrar quem se dispõe a levar as cadeirinhas de praia para a avenida e participar de um desfile de blocos organizados por foliões que se agrupam para esse fim: dançar, cantar, divertir-se, espantar todos os fantasmas ou levá-los para a rua. Não é em todo o Brasil que isso acontece.
No Rio de Janeiro, o comércio transformou o carnaval numa grande empresa, tendo os turistas como os clientes principais e as celebridades para vender cerveja. E é um teatro lindo de se ver. Talvez a maior festa de "carnival" do mundo!
Mas neste aqui, no sul do sul, o povo que está a fim cai na folia literalmente.
Mas... sempre tem alguém que não quer sair de casa, sábado, novela das 9, um saco! depois, desfile do Rio, o Roberto Carlos vai passar na Beija Flor, tem que esperar até madrugada.
Mirinha ( aquela das moscas que morrem em 20 horas!) está se preparando para comer uns picadinhos e sentar-se à frente da TV. Vai enterrar os ossos. Quem sabe, num copo de cerveja. Sabe que não vai aguentar até o Roberto passar.
Buzinas em frente de casa. " Mirinha! Mirinha! Tamo indo pra avenida! Vem!"
Puxa, a gente nem pode ver TV, esses loucos estão sempre a mil! Olha, gente, vai chover!
" Hei Mirinha, és de açúcar? Vamos, guria!"
Não adianta. Se eu não for vão ficar aí gritando, ainda bem que os vizinhos se foram, as aulas dos filhos já começaram.
" Tamo tudo com uma cevas bem geladas, te mexe".
Mirinha desligou a TV, pegou o latão de BRAHMA- presente da outra filha que mora longe- encheu com as latinhas ( latões) que beberia na frente da TV e saiu.
Tcharãrãrãrãrãrã...tarararatarararã...
Enterrar os ossos.
Enterrar as coisas ruins, boas, felizes, tristes...Tudo é carnaval neste país abençoado por Deus e bonito por natureza...
Agora, é esperar para que não chova, que a avenida floresça, que a gente se esbange, que logo amanheça, que a gente amorteça, que os mascarados se amem... - nem rimou!
" Vai passar, nesta avenida um samba popular...ai que vida boa, olerê..." Vãombora, pessoal! Que não esfrie a alegria, tão grande, tão necessária como o futebol pra este povo tão estrambótico, que chora e que ri, que vibra tanto com tão simples coisas, e tão fantasiado de felicidade num carnaval.
E Mirinha saiu feliz, cantando o hino universal dos carnavalescos do Brasil:
"Mas é carnaval, não me diga mais quem é você
amanhã tudo volta ao normal
seja você que for
seja o que Deus quiser.
...
o que você pedir, eu lhe dou
seja você quem for
seja o que o que Deus quiser."
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