MINHA VIDA É UM PALCO

MINHA VIDA É UM PALCO
Somos como atores neste palco que é o mundo, as cenas são os dias e noites, e o roteiro quem escreve é a VIDA!A vida depois dos 60. É começar novo, novos horizontes, um mundo diferente e muito mais LEVE! A gente está sempre começando, sempre aprendendo...E aos 60 anos, a gente nasce de novo! A minha Infância da Maturidade! COMO SERÁ NOS 70?Na minha ADOLESCÊNCIA da Maturidade...CHEGUEI! Cheguei chegando imaginando a vida toda...70 ANOS! BÓRA LÁ QUE A VIDA TÁ PASSANDO!!!E até uma PANDEMIA!Nunca pensei ...De repente, ficar presa em casa, sozinha. Se sair, o CORONA VÍRUS pega. Horrível todo mundo sem se tocar.

quinta-feira, 31 de março de 2011

DON'T WORRY

Não tem como. "Não se preocupe". Não tem como. A Mirinha inventou que vai embora do Cassino. Passa o dia todo falando nisso. Me liga 10 vezes e nas 10 diz que vai embora. É que ela é muito sugestionada. Tem muitas amigas, da geração dela, que estão indo. Uma delas, de Bagé, foi pra lá, Bagé, de mala e cuia ( isto é: de mudança e tudo), tem toda a família lá, a de Bagé é aposentada como nós, estava morando aqui, no Cassino, a maior e mais tranquila praia do mundo, brigou com o namorado e se sentiu muito só. Foi-se.
A outra amiga vai de volta pro Alegrete, pra casa da mamãe, velha e doente( a mãe), e tem muitas amigas de infância lá ( se já não morreram), mas esta não brigou com o namorado: ele morreu, era marido. Viuvou, como dizem. E a neta, que morava com ela, foi pro Rio de Janeiro morar com a mãe e tem um maninho lá - imaginem se uma adolescente prefere o Cassino ao Rio - só se tivesse um namorado aqui, mas ela é muito adolescente, ainda. Então, essa amiga da Mirinha, tá de muda. Já fez dezenas de despedida, regadas a  lágrimas e churras e cevas. E em cada despedida, a Mirinha chora, se abraça em mim e diz: é como se fosse a minha(despedida). A outra da turma, guria como nós, se arranjou. Encontrou um namorado tudo a ver com ela. Apaixonou-se. Não tem mais tempo pra andar com a Mirinha pra cima e pra baixo. Agora, pra cima e pra baixo é com o namorado. Uma outra, resolveu que vai só cuidar de netos, nunca tem tempo pra um chá ou chaveja.En-netou( en-netar - verbo: só falar em netos, só viver com netos). Não que seja defeito, é opção. Então. A Mirinha anda se sentindo sozinha, solitária. Sobrou pra mim.
Mas eu sempre dou-lhe sábios conselhos: " Vai morar com teus filhos, vai... Sabe o que é aguentar as músicas deles, comer na hora que eles comem, pior:  ver os programas de TV deles? E se genros e noras disserem uns desaforos pros teus filhinhos de ouro, ou deixar neto ou neta de castigo, vais aguentar? "
 Eu sei muito bem como a Mirinha é. Vai desintegrar.
Ops! O telefone. É a Mirinha de novo. E como "DON'T WORRY?" Não me preocupar... Só se eu fosse esse aí...

quarta-feira, 30 de março de 2011

COVA DA ONÇA

Irresistível. Preciso escrever sobre a COVA DA ONÇA. Alguém no Face Book me perguntou o que era. Eu sou totalmente apaixonada. Vermelho, a cor do meu sangue ( mesmo que meu pai dissesse que temos sangue azul de reis, mas podem confundir com outras coisas azuis).
Cova da Onça era um bairro muito pobre e perigoso na Tiradentes. Teve até um episódio, lá,  em que um soldado baleou uma moça que lhe jogou água, os brinquedos tão comuns - e como era bom molhar todo mundo, principalmente os argentinos/correntinos. No carnaval da antiguidade, quando eu era pequena, os blocos carnavalescos, gente pequena e grande, mascarados, tambores e latas e cornetas mas muita animação, saíam a pedir dinheiro com um estandarte cheio de alfinetes para gastar em comida e bebida, enchendo o saco nas casas, enquanto não ganhassem algum, não saíam.
( Acho que a tal de Halloween em que crianças fantasiadas pedem doces, lá nos States, foi copiado dessa nossa festa.Ksksksksks. )
Com o carnaval carioca de escolas de samba organizadas, trazido para dentro de nossas casas pela TV, as cidades brasileiras  tentaram fazer o seu carnaval.  Em Porto Alegre , era uma coisa muito engraçada, tribos e tribos de índios saíam às ruas. Alguns bem pobrezinhos, dava pena. Não era samba, era batuque.
Pelotas tinha o mais rico carnaval do RS, salões chiquérrimos, até hoje acontecem os concursos de fantasias de luxo.
 Em Uruguaiana, fronteira com Paso de Los Libres (dos correntinos),  a coisa começou assim: No Clube Comercial, os blocos dos ricos BIGBEM e PICHICHÊ ( acho que se escreve assim) rivalizavam com os blocos dos remediados do  Clube Caixeiral, CONFETI e PIF PAF. Sempre dava briga quando, no final dos bailes, saíam para a praça, já de manhã. Penso que daí surgiram as escolas de samba Rouxinol e Cova da Onça, que levaram muita gente dessas duas "facções" inimigas. Sei que antes e depois dessas duas, havia grandes escolas,falarei depois,  mas foi na COVA DA ONÇA que, pela primeira vez, pude sair na avenida. ACOMPANHANDO OS FILHOS!!!!! Meu pai não deixava " me juntar com essa gente", meu marido não deixou eu sair nem na ala das baianas, então, "botei meu bloco na rua" com meus três filhos pequenos ainda, lindos, fantasias maravilhosas,  desfilando, e eu do lado,vestida de mãe-que-acompanha-os-filhos, acompanhando e de vez em quando dando umas sambadinhas.E a Cova foi Campeã.  E agora, num CARNAVAL FORA DE ÉPOCA DE URUGUAIANA, cheio de luxo, o 2º maior do Brasil, para nós, mais emocionante que o do Rio, minha escola é de novo CAMPEÃ!
COVA DA ONÇA EU TE AMO!!!!
CAMPEÃ 2011!! Até vou colocar a foto do meu irmão gêmeo que é da diretoria.

domingo, 27 de março de 2011

BRUNA SURFISTINHA X IVO RODRIGUES

Um filme que está fazendo sucesso e polêmica ( mais polêmica que sucesso) é "BRUNA SURFISTINHA". Uma mocinha que resolve ser prostituta pois dá mais grana, só pra ser breve. E não é que ela fosse pobre, não. Estava se dando mal na escola ( particular, classe média), dava trabalho estudar. Trocou a escola pelas baladas e entrou para a mais antiga profissão do mundo. E nem foi corrida de casa. Bonitinha, um corpicho daqueles, rebolado " tomara que me c...", SE DEU, como dizem lá na fronteira. Programa com quem pagasse bem, pra que passar trabalho na vida? Uma dormidinha, e ganhava mais que qualquer executivo. E é real, a protagonista é a Rachel, escreveu a autobiografia e saiu o filme.Tem uma passagem do livro assim: "Transas enlouquecidas, surubas, muitos homens ( e mulheres) diferentes por dia, noites quase sem fim. O que pode ser excitante para muitas garotas como eu, na efervescência dos 20 anos, para mim é rotina. É meu dia-a-dia de labuta." Isso a Rachel escreveu. Ou seja: Ela gostava muito da coisa. Ficou muito rica, o livro vende muito, o filme tem grande bilheteria. Safadeza faz  sucesso. Não vi o filme, não li o livro, apenas olho as críticas. Mas que o exemplo é fantástico para todas as jovens que estão em dúvida quanto à carreira: ser prostituta fina. Se fosse homem, podia ser jogador de futebol: chutar bem na bola( ops!) e entrar num time rico- só que não é tão fácil... A polêmica é: Quanto pode influenciar nas cabecinhas das bonitinhas essa "sugestão" de futuro?E aí, gurias?
Lá na fronteira, quando eu era pequena ( na idade e no corpo ), qualquer suspeita de que a filha estivesse "tendo um  caso" ( hoje é ficando)ou "se perdido" ( quer dizer: perdido a virgindade) ou engravidado ( cruzes!), o pai botava a guria pra fora de casa, na rua, mesmo.A vergonha da família.  E era aí que as mocinhas "se perdiam", sem condições de viverem na fina flor da sociedade, iam pra "zona do meretrício", onde estavam os cabarés, as casas de luz vermelha. Por um prato de comida e um teto, a moça virava "china", prosti, meretriz. Quanto mais bem frequentado o cabaré, melhor. Mas tinha os "bagacêra", e as gurias da zona passavam muito trabalho, sujeitas a tudo, a surras, a doenças. Exploradas ao máximo. Foi aqui, neste trecho, que me lembrei do IVO RODRIGUES. Tenham paciência, que a postagem de hoje é longa, mas eu preciso contar a história que eu acompanhei, conheci o Ivo e ouvi suas histórias do próprio.
Minha tia era a melhor costureira de Uruguaiana. De manhã, as esposas dos ricos iam lá,em carros próprios com chofer ( motorista),  fazer tailleurs e vestidos para as filhas debutantes, à moda Dior - francesa - cópias das revistas Vogue e Labore,  ou o costureiro das débs, Rui, o de Porto Alegre, chic na época. 
À tarde, ( pois com o trabalho noturno, dormiam de manhã) iam as chinas , mas só as muito finas,que podiam pagar bem,  discretas, chegavam num auto de praça ( táxi), e as roupas que minha tia modista costurava, me enchiam os olhos. Eu fiquei ao lado da máquina de costura da minha tia madrinha - e aprendi a costurar muito bem - desde que nasci,só saía quando minha mãe chamava ( comida, colégio, armazém, essas coisas comuns) e quando comecei a trabalhar com meu pai nos açougues ( mais ou menos aos 8 anos). Vi e ouvi cada coisa,poderia escrever a história das mulheres e das amantes dos senhores da época...Mas vou falar só do Ivo. O Ivo Rodrigues foi o primeiro fresco reconhecido e assumido publicamente no Brasil - hoje se diz drag queen. Fresco. Isso mesmo. Lá na fronteira, "gay" é FRESCO. O cabaré do Ivo era ponto turístico. Ia gente de todo Brasil, Argentina, Uruguai, até da Europa ( EUA não era referência para a sociedade na década de 50, mas tinha muito gringo que aparecia lá). Casa cor-de-rosa, antiga propriedade de estancieiro, centro ( na Flores da Cunha), em frente à Delegacia de Polícia.  Podia ter lugar mais respeitado? Decoração bem de fresco, cheio de cortinas de cetim, flores, sofás de veludo vermelho, espelhos importados da França até no teto, cama redonda ( uma excentricidade!), o quarto dele cheio de bonecas, daquelas de tamanho de criança de ano e cara de porcelana, louças e cristais finíssimos, frequentadores cheios de grana. As moças do Ivo eram selecionadas. Até francesa, tinha. Educadas, algumas muito caras, ele - o Ivo - levava pra minha tia fazer os vestidos delas, só coisa boa( os vestidos). Chegava sempre  à tardinha, numa carroça que chamavam de Vitória, aquelas que tem cocheiro num banco da frente, sem cobertura, e atrás  uma cobertura preta alta, tipo daquelas de "O Vento Levou".Dois cavalos bem gordos, bem tratados, arreios de couro, só faltava a pluma na cabeça. Mas quem descia dessa Vitória-carruagem era um homem imenso, quase dois metros de altura, uns cento e cinquenta quilos, calças compridas e camisa largas,sempre de alpargatas de couro, cabelos ralos encaracolados, uma cara imensa com uns beiços grandes,  olhos meio puxados. Ninguém conseguiu dizer qual a procedência. Dizem que foi criado por um estacieiro muito rico e muito fino. Tinha um desgosto: era analfabeto. Ficou emocionado às lágrimas quando eu aprendi a ler e escrever e escrevi e li uns poemas pra ele.
Esse era o Ivo. Na rua, era um homem. Furioso se alguém ofendia. Tinha um facão pra correr quem se metesse com ele. Naquele tempo, preconceito, discriminação se resolvia com facão.Só desmunhecava quando estava dentro da sala de costura da minha tia. Então desenrolava finos brocados, tecidos trazidos das Índias, ou de Buenos Aires( que era a Londres ou Paris  da América) , eu ficava maravilhada com os bordados que as bordadeiras faziam, dias e noites naqueles vestidos imensos para aquele personagem da minha infância, que eu amava como se fosse um super-herói, os sapatos, ah, os sapatos, mandados fazer na Europa, alguns em Novo Hamburgo, talvez número 50, com plataforma e saltos altos, e ele levava as perucas, quantidades, do platinado ao cabelo preto, sempre crespos ou com cachos, e ele me perguntava: "Bonequita, qual a mais linda?" muitos doces e regalos ele entregava pra minha tia, e ela me dava, nunca me deu nada diretamente. Na minha fantasia de infância, eu entendia: nossos mundo eram muito diferentes. Pra mim, ele era um artista, algo inalcançável.Mas eu sabia.  O Ivo  ficava se pintando com os cosméticos coloridos, os lábios carnudos imensos, muito vermelhos, batons também da Argentina,  trocando perucas, escolhendo pulseiras e colares de jóias verdadeiras- parecidas com as da Elizabeth Taylor.  Mas quando saía à rua, voltavam roupas de homem.
Todos os grande políticos da época, todos os milionários que visitaram o Brasil,foram lá e mereceram um vestido novo.  Quando o Presidente Perón visitou o Cabaré do Ivo, o vestido foi de veludo grená, com bordados no decote e uns cortes de onde saiam tufos em plissé de tule, um de cada cor, o sapato dourado todo cheio de pedrarias, - tenho lembranças bem detalhadas,  pois o Ivo marcou essa  minha época de que tudo era motivo para fantasias...Como nos filmes das matinés, os musicais, Virgínia Lane - que também esteve fazendo suas danças por lá...
Meus irmãos e amigos - adolescentes na época, me diziam que eram "convidados" especiais, fora da hora dos adultos ( não admitia jovens na casa), para conhecerem o famoso "quarto do Ivo". Ele os chamava de "Guizinhos" - isso mesmo, sem o R, e oferecia "pessicola". Nem imagino o que mais. E as moças do Ivo pareciam bonecas, nenhuma falava mais do que o suficiente, a estrela era apenas ele. Quanto aos GUIZINHOS, sei de alguns que foi ele, o Ivo, quem pagou estudos na capital, hoje são profissionais bem reconhecidos, tenho até os nomes. Mas nunca direi, o Ivo era muito discreto.
Tá. E o que tem a ver com a Surfistinha?
Pois os pais botavam na rua a filha que "dava um mau passo". As gurias viam todas as portas fechadas, tias, avós, ninguém queria as "perdidas", algumas nem 15 anos tinham. Nem sei quantas
dessas meninas o Ivo acolheu, deu casa, comida, criou o bebê, encaminhou na vida. E mandava pra outros lugares numa situação de trabalho comum, nada de programas, melhor dizendo, não prostitutas. Quantas, já na prostituição, ele recolheu das ruas - cheias de doenças, fez tratamento de saúde, algumas se tornaram mães e donas-de-casa. Ele preferia trazer mulheres de fora, e mandava fazer exames: nenhuma mulher doente poderia trabalhar com ele. Trabalhar: era isso. Aquelas mulheres trabalhavam. Jovens e bonitas. As velhas, ficavam de ajudantes. Ou seja: Ele sabia que a mais antiga profissão do mundo é muito cruel quando a pessoa fica velha. E o futuro é, na maioria dos casos, triste. São poucos e poucas que conseguem se manter. Foi assim com ele. Começou a faltar dinheiro para sustentar as meninas que tirava das ruas e  longas filas de pobres à frente da casa, agora já na Treze de Maio, sem a pompa da casa cor-de-rosa, os pobres que faziam as refeições na casa dele, todos os dias tinha o almoço pra quem tivesse fome.
Morreu pobre, abandonado também por aqueles que ele ajudou e que estavam em condições financeiras muito, mas muito boas. E se tornou uma lenda. O túmulo dele, construído por amigos, tem até hoje as bonecas.Fiz um breve resumo, tem muita coisa a contar.
E o que tem a ver com a Surfistinha?  Não sei explicar. Tem um elo. Tem um elo perdido. Talvez o medo de que as meninas se sintam deslumbradas pelo sucesso de uma. UMA. A celebridade escolhe uma em milhões. Surfistinhas... Quantas estão por aí, amargando a exploração, sem mais um Ivo para salvá-las...

segunda-feira, 21 de março de 2011

MUITA AREIA PRO CAMINHÃOZINHO DO OBAMA

Isso foi a Mirinha que me escreveu por e-mail:
"Presidente dos States no Brasil. Nunca imaginei que num governo do PT um presidente norte-americano fosse tão bem recebido. Também, se fosse governo de qualquer partido da direita( aliás, um monte deles estão no atual governo, não é?) voltando: se o PT fosse oposição, não teria sido essa tranquilidade. O Lula estaria de megafone gritando CAPITALISTA SELVAGEM! Os MST, CUT e todos sindicatos com faixas GO OUT, o Obama nem teria tido coragem de vir aqui.  Mas, a presidente é vermelha, todo mundo bem educado recebendo o maior representante do capitalismo DO MUNDO. E trouxe até a SOGRA! As filhas, a madrinha das filhas, a esposa. Corajoso, esse Obama. Mas quem fez o maior sucesso não foi ele não, mesmo esbanjando carisma, aquele jeitinho carinhoso, um sorriso tri,as roupas sobrando num corpicho magrela,  as palavras sob medida pra não incomodar ninguém, não foi ele a estrela. Quem roubou a cena foi a Michele. Um baita mulherão, desculpe, mas tenho que dizer assim,  pois ela é muito grande, linda, educada, elegante, culta, trocando roupas para delírio dos fotógrafos, discreta no Palácio, ao lado da presidente Dilma - que tinha uma echarpe-estola com cores africanas ou indígenas ou indianas para dar um tchan no vestidinho vermelho - e a dama americana bem prateada com um cabelo muito espichado, que a deixou ainda mais vistosa - culminou quando Michele vestiu uma saia rodada com as cores do Olodum, foi demais, agora sou the best fã da Michele. Sabia que ela é vegetariana? Com toda aquela saúde, ninguém diz que ela não come carne vermelha. Só o Obama. Pois... povo brasileiro não deixa passar nada... comentário cada vez que ela - a Michele, já estamos todos bem íntimos - aparecia:
 "Mas é muita areia pro caminhãozinho do Barac...Por isso que as calças dele estão dançando, coitado, tem que dar conta de tudo..."
Taí pra vocês verem como a Mirinha acompanhou a visita do Presidente dos USA ao Brazil!
Será que ela tem razão?
Eu já acho que o Obama tem um charme todo especial, os olhares, os gestos, tudo tão perfeito... É. Os marketeiros americanos devem ter aprendido com os nossos.Ele é bem um norte-americano de Hollywood.
Mas que ela parece brasileira, parece!

sexta-feira, 18 de março de 2011

UMA TRAGÉDIA ENGOLE A OUTRA

Ontem, na mesa do bar, amigos conversando. Entre uma coca, uma Polar ou Brahma ou Skol,  xis salada ou xis filé ou torrada ou nada, comentei minha preocupação com São Lourenço. Tanta gente perdeu tudo, a cidade é um montão de ruínas, lixo, lama, até o calçadão não existe mais. E só se fala no Japão, a tragédia do terremoto-tsunami e agora a radiação - como se uma bomba nuclear estourasse no Sol Nascente. E São Lourenço? E as cidades do Paraná? Sem falar em tantos outros desatres neste imenso país, de repente quase esquecido por Deus. O Mano ( codinome) falou uma coisa que me deixou pensando: " UMA TRAGÉDIA ENGOLE A OUTRA". A do Japão é maior.
Entendo. Realmente, é uma tragédia sem proporções. Mas ainda tem uma coisa me incomodando.
Quantos milhões de pessoas no Japão, quantas mil em São Lourenço...Proporcionalmente, seria x ou y? Tem diferença para quem perdeu tudo? Ou a TV procura a tragédia mais famosa? Quem vai dar mais audiência? Somos tão pequenos e indefesos frente às tragédias...a resposta  para minhas indagações internas veio ali, na hora. Foi o Mano, ele mesmo, que resolveu minha equação sentimental:
- Alguém disse que o Japão vai reconstruir tudo o que foi devastado antes mesmo de o Brasil se preparar para a Copa. Eles estão preparados.
Mas nós, não. Nem acreditamos se alguém disser que vem um tsunami por dentro dos molhes da barra.
Acho melhor pedir outra Brahma.

HYDROGINÁSTICA E SEXO

Cheguei à conclusão que, com certeza, Mirinha está com idéia fixa. Agora, inventou que "tudo que acontece é sexo ou motivado pelo sexo". Só Freud pode explicar. Imaginem, chegou da hidro toda alvoroçada, cabelo lambido, refulgindo cloro.
" Cada aluna do Caco - faz-de-conta que é esse o nome - passa a aula toda suspirando. Cada movimento que ele faz, é só aaaaaaaaahhhhhhhhhh! Tudo bem que Caco é um gato, saradão, tudo puro músculo, dá uma levantadinha no calção largo para poder dobrar os joelhos, as coxas aparecem, cabeludinhas, ele bem que poderia vir de sunga, mas não teria esse momento mágico".
- Mirinha, o que está acontecendo contigo, guria?
"E quando ele traz o espagueti, tem uma gordinha que quase chora quando segura a ponta e o Caco fica segurando a outra..."
- Acho que chega. Um dia, é na missa, agora, na hidro. O que mais?
" Tem um exercício que o Caco senta num banquinho, lá em cima, parece um deus grego, e as comuns mortais só olhando, abre-fecha( os braços), empurra e puxa( as pernas), e ele ainda tem uma voz, empurra-empurra-empurra..."
- Pra mim, deu, Mirinha. Tá ficando muito erótico. Que vão dizer de nós?
" Tudo é sexo, minha Bella! A moda vai e volta ao redor dos instintos. Acessórios, pinturas, músicas, comidas, cheiros, sabores, da cuia do chimarrão às casquinhas de sorvete, olha o formato dos desodorantes...É o primitivo apelo sexual, não muda desde os tempos das cavernas.  Então, pra que as gurias usam esses biquinininhos? Por que rebolam e passam as mãos trocentas vezes no cabelo? E os guris de hoje, com cabelinhos arrepiados, camisetas de decote V, as cuecas saindo da calça... Estão querendo..."
- Olha a foto, Mirinha. Só ele pode te entender...
" Meu Deus! Que olhada! A correntinha sugere...A mãozinha na cintura... o jeito de pegar o charuto...Um mistério, esse teu Freud!"

Resolvi encerrar aqui, antes que eu também seja contagiada...Preciso parar com essa mania de passar a mão nos cabelos...

quarta-feira, 16 de março de 2011

SEXO E MISSA

A Mirinha tem a mania de ficar observando as pessoas e delirando sobre o que elas são, o que vestem, o que pensam, o que fazem.
Ultimamente, inventou que as roupas definem as pessoas. Bobagem. Como se um jacaré na camiseta pólo( ainda tem acento?)diga que a pessoa é rica...ou que a plataforma do sapato indique a antiguidade...ainda bem que as Hawayanas não entraram na classificação, senão eu estaria ferrada!
Pois bem! Domingo, Mirinha foi à missa das seis da tarde, não tinha nada melhor a fazer. Não que estivesse triste com o chuvisco do tempo frio em pleno março, após um enterro de ossos sem ossos...
Entrou na Igreja com tudo... Até colar de Santarém, presente da filha...Bolsa da Austrália, presente do filho. Lenços de Curitiba, presente da outra filha. Mirinha é uma mulher "cool". Se achando. Me contou assim, naturalmente,será que está ficando taradinha? Ou é falta, mesmo?
- Tenho a mania de ficar observando as pessoas e imaginando como serão na intimidade ( eufemismo, isso,  " intimidade"). No banco da frente, um casal sessentão. Ele, com um jacaré na camiseta pólo( ainda tem acento? com certeza, tem ) ela, com uma bolsa Louis Vuiton ( seria do camelô? acho que não) detalhe: cada vez que senta-levante, eles se olhavam como se tivessem cometido o pecado original - ou melhor - uma sesta "daquelas", de todos os castelhanos;  devem ter feito todos os pecados, cada vez que senta-levanta eles se  roçavam, estou  delirando...mas se olhavam como se... ai, foi tão bom... eu estava quase tendo um troço, o padre falando que "Satanás tentou Jesus - Te atira, daí, guri, o teu pai vai mandar muitos anjos pra te agarrar." Mas Jesus não se atirou,o Satanás ficou com cara de bobo -  e a mulher olhava pro cara de camiseta de jacaré e ele deu uma olhada...quase me molhei, estava muito calor... empurra empurra, do meu lado, uma socialyte ou socyalite( nem sei como se escreve), também com uma bolsa nem-sei-de-quem, cabelo platinado chanel, cheirando chanel não-sei-que-número, me olhou como quem diz: sai pra lá que vai chegar o garanhão (me lembrei do romance  ), cheguei mais pro lado, a lindona se acomodou, sobrava um lugar ao lado dela, devia estar esperando O garanhão, mas chegou um velho barrigudo, com cara de pecuarista, mas não tinha bota, calça jeans das desbotadas de marca que nem pude ver...também com uma camiseta pólo( adorei usar o acento), com um jacaré, mas tinha um jeito de quem vinha da casa da amante,aquele jeito de "me atrasei, sou um homem muito importante, sua inútil" - nem olhava pro altar... e Jesus, coitado, nem se atirou do morro, e só vai ressurgir na Páscoa, e esse safado nem olha pra mulher platinada tão bonita... Será que ainda ele faz sexo com ela? Nem se olharam...Ele só fez HUMM quando chegou... e deu uma empurrada pra se acomodar no banco...será que ele vai comungar? ( comungar é comer a hóstia, que é o corpo do Senhor, tá?) Mas os braços dos caras da frente continuam se roçando ( não é rossando?) como se  quisessem se dar choques...e os olhares...Pois isso, aí, é na minha terra, " se comendo com ozóio"...Nem sei mais o que o padre está dizendo, está na hora do dízimo, pedi licença, passei pelos vizinhos e, com toda delicadeza,  finquei meu salto Luciana Gimenez no tênis do garanhão do meu lado,"Excuse me", que raiva, uma mulher tão linda e o safado nem deu o tratamento devido como o cara da minha frente...Ah, como aquela "siesta" deve ter sido...eu imaginando..."Pai Nosso...perdoai nossos pensamentos...mas eu não consigo evitar..."
Acho que Mirinha foi perdoada, uma coisa tão interessante na missa...
SEXO E MISSA: tudo a ver!

( esqueci de dizer que na missa das seis a maioria é da melhor idade. Melhor? )



domingo, 13 de março de 2011

ENTERRO DOS OSSOS

Sábado depois do carnaval. A turma toda se´preparou para o "Enterro dos Ossos". Para quem não sabe, é a despedida da orgia que é o carnaval. Uma festa em que pierrôs e colombinas não dançam mais nos salões, mas vão para as ruas alegrar quem se dispõe a levar as cadeirinhas de praia para a avenida e participar de um desfile de blocos organizados por foliões que se agrupam para esse fim: dançar, cantar, divertir-se, espantar todos os fantasmas ou levá-los para a rua. Não é em todo o Brasil que isso acontece.
No Rio de Janeiro, o comércio transformou o carnaval numa grande empresa, tendo os turistas como os clientes principais e as celebridades para vender cerveja. E  é um teatro lindo de se ver. Talvez a maior festa de "carnival" do mundo!
Mas neste aqui, no sul do sul, o povo que está a fim cai na folia literalmente.
Mas... sempre tem alguém que não quer sair de casa, sábado, novela das 9, um saco! depois, desfile do Rio, o Roberto Carlos vai passar na Beija Flor, tem que esperar até madrugada.
Mirinha ( aquela das moscas que morrem em 20 horas!) está se preparando para comer uns picadinhos e sentar-se à frente da TV. Vai enterrar os ossos. Quem sabe, num copo de cerveja. Sabe que não vai aguentar até o Roberto passar.
 Buzinas em frente de casa. " Mirinha! Mirinha! Tamo indo pra avenida! Vem!"
Puxa, a gente nem pode ver TV, esses loucos estão sempre a mil! Olha, gente, vai chover!
 " Hei Mirinha, és de açúcar? Vamos, guria!"
Não adianta. Se eu não for vão ficar aí gritando, ainda bem que os vizinhos se foram, as aulas dos filhos já começaram. 
" Tamo tudo com uma cevas bem geladas, te mexe".
Mirinha desligou a TV, pegou o latão de BRAHMA- presente da outra filha que mora longe- encheu com as latinhas ( latões) que beberia na frente da TV e saiu. 
Tcharãrãrãrãrãrã...tarararatarararã...
Enterrar os ossos.
Enterrar as coisas ruins, boas, felizes, tristes...Tudo é carnaval neste país abençoado por Deus e bonito por natureza...
Agora, é esperar para que não chova, que a avenida floresça, que a gente se esbange, que logo amanheça, que a gente amorteça, que os mascarados se amem... - nem rimou!
" Vai passar, nesta avenida um samba popular...ai que vida boa, olerê..." Vãombora, pessoal! Que não esfrie a alegria, tão grande, tão necessária como o futebol pra este povo tão estrambótico, que chora e que ri, que vibra tanto com tão simples coisas,  e tão fantasiado de felicidade num carnaval.
E Mirinha saiu feliz, cantando o hino universal dos carnavalescos do Brasil:
"Mas é carnaval, não me diga mais quem é você
amanhã tudo volta ao normal
seja você que for
seja o que Deus quiser.
...
o que você pedir, eu lhe dou
seja você quem for
seja o que o que Deus quiser." 

sexta-feira, 11 de março de 2011

TSUNAMIS DE EGOÍSMO

Vejo na TV o grande problema do Japão, o terremoto, o tsunami, a destruição, o mundo todo voltado para o Japão, todas as TVs falando do Japão, Japão, Japão.
Mas eu estou tão preocupada com São Lourenço... Rio Grande do Sul.BRAZIL.
Em São Lourenço, aqui, RS, na Lagoa dos Patos, passando Pelotas, antes de Canguçu...As crianças brincavam dentro da lagoa, até 30 metros com a água pela cintura, muito seguro,a água como qualquer mãe ou pai ou vó quer... Quantas vezes fui lá com minha pequena amada família, acampamos na beira da lagoa, tudo tão bom, uma cidadezinha tão, mas tão simpática, temos grandes amigos lá, não sei o que aconteceu com eles, faz tempo que não nos vemos...estarão entre os desabrigados, nas escolas, nas igrejas, nos ginásios,as casas estarão embaixo dágua com as geladeiras, camas, caturritas, fotos, discos, livros...então olho as imagens, as pessoas dizendo que perderam tudo, aqui, bem pertinho...será que sou egoísta em não sentir o mesmo pelo Japão? afinal, o tsunami de lá - do Japão - foi um tsunami do mar, uma imensa onda varrendo o mundo como se tivesse que atirar tudo de volta para a terra, mas o que aconteceu em São Lourenço foi um TSUNAMI DE RIO, de repente a água do rio que ía para a lagoa saiu de seu curso tranquilo e invadiu a cidade, a água simplesmente subiu e tudo se enterrou, ou melhor, mergulhou, imergiu, foi empurrado pra baixo da água, ou a água cobriu tudo como o leite de um fervedor que sobe na hora em que não estamos olhando...   Então, choro e quero levar meus colchões nunca usados, na espera das pessoas que nunca vieram,  minhas roupas que não uso há anos e que guardo para usar  nunca, sapatos que nunca mais usarei e estão aí, tão guardados, lençóis, edredons, travesseiros na espera das visitas que nunca virão. E se vierem, por certo daremos um jeito, depois, tão depois e eles estão sem nada agora!
Será que sou egoísta? Tanta gente precisando, aqui, em São Lourenço, no Japão...
Não entendo esse estranho sentimento de posse de coisas que não usamos e, se não usamos é porque não pecisamos e  que poderiam tão bem ser usadas por quem precisa.
O Japão é aqui. São Lourenço é muito mais aqui. Coragem!
São Francisco ficou nu. Nós não precisamos ficar nus.
Precisamos de um TSUNAMI dentro das nossas casas bem sequinhas.
Tem tanta gente esperando...no Japão...em São Lourenço...

quinta-feira, 10 de março de 2011

SOZINHA, MAS NÃO SOLITÁRIA

Ela foi chamada por uma amiga que estava muito triste. Mirinha era uma pessoa muito, muito alegre, onde entrava era como uma luz ou como uma banda de música ou como um palhaço: ela estava sempre de alto astral - para não dispensar o clichê. Uma pessoa feliz. Por isso que a amiga a chamou. Só que nesse dia Mirinha estava se sentindo muito, muito só. Nem a batucada da escola de samba na TV, nem a gritaria e o bumbo dos desfiles dos blocos de rua conseguiram tirar a tristeza de Mirinha. Estava realmente muito, muito só. Nada vivo em casa, agora. Minto: uma folhagem querendo água, algumas moscas - tinha nojo de moscas, ainda bem que vivem apenas 20 horas ( quem disse isso?). De novo o telefone:"Mirinha, vem pra cá, preciso de ti, estou tão solitária" - a amiga continuava chamando.
Mirinha passou mousse arrepiando o cabelo, um batom dourado da Avon, perfume de maracujá - presente da filha longe - pegou a batinha mais colorida, a calça modernosa, sandálias de tirinhas. Como um autômato ligou o alarme, fechou a porta, abriu o portão, tirou o carro, fechou o portão, foi até a casa da amiga, desviando dos mascarados da rua, dos homens vestidos de mulher - nem reparou nos vizinhos, acenando para ela, ela sempre cumprimentava todo mundo.
Estacionou na calçada da casa da amiga. " Mirinha chegou!" a amiga estava na porta, com mais outras pessoas fantasiadas - carnaval. Mirinha entrou, sacudindo os braços, cantando mamãe eu quero, o pessoal dizendo chegou quem faltava, a amiga estava agora muito feliz,  e Mirinha cantando, sorrindo, afinal, nem tudo que reluz é ouro. Não podia decepcionar a amiga, precisava ser a Mirinha de sempre, aquela que está sempre feliz. Estava só, muito só. Sozinha, mas não solitária.

quarta-feira, 2 de março de 2011

E-mail - Para a MANA: BARTHY e EU

Pensa que eu estou sempre sempre? Não, mesmo! Às vezes,  me dá uns deprê,
acho que nem sei se sou ou não sou, e também tenho saudades de meus irmãos, de meus anjinhos, de meus grandes amores...
A vida é assim, com todo mundo. não existe felicidade 100%.
Vê o cachorro, bem velhinho, ceguinho, surdinho, caminha tão pouquinho, sozinho, comendo pelas minhas mãos, eu preciso levantar, preciso ir ao mercado, estar ligada pra dar comida, água, banho com dermatite shampoo, esperando que morra...não tem mais chance de vida, está no fim, só levando...E ele precisa de mim, tanto... Ou sou eu que preciso dele? 
E eu, qualquer dia, fico assim...
Por enquanto, vou levando, preenchendo meus dias com coisas prazerosas, vendo meus filhos e netos fazerem o que já fiz para chegarem onde estou, tomara que em condições melhores.
A vida se renova, minha irmã, todos os dias. Só há dia porque há noite, só há saudade, porque houve o momento.
Então, vamos fazer momentos, antes que a luz acabe, antes que anoiteça, antes que o escuro acabe, antes que amanheça.
E quando amanhecer, tomara que a gente sinta falta do dia que se foi... isso quer dizer VIDA.
Carinhos
Mana