A vida começa aos 60 anos. ATUALIZANDO...a vida começa aos 74. Agora, já estou com 75. A pandemia do Corona Vírus passou. A COVID se transformou em doença, que precisamos tomar vacina todos os anos, o vírus se transformou em coisa igual sarampo. POR ENQUANTO, estou escrevendo, copiando crônicas que escrevi nesses tempos de estranheza numa realidade de idosa. QUANDO eu ficar velha, talvez não tenha vontade de escrever mais.
domingo, 11 de outubro de 2015
FAMÍLIA TENS? EU TAMBÉM!
imagem semfreiosblog
Domingo chuvento, chuva e vento.
BOM pra espichar, ler, dormir, fazer nada. Mas a Mirinha chegou assim como um cachorro escorraçado, mais quieta que guri cagado. Pelo clima todo, logo vi que a amiga estava muito, mas muito triste. Nem precisei perguntar - eu estava quase dormindo, tapadita com mi poncho - ela se jogou na cama e assim se quedou...
- Quer me dizer o que está acontecendo, Mirinha?
Nada. Eu ali, feliz da vida depois de um almoço chonho, que saudades dos churrascos no Cassino.
Primeiro foi um soluço, uma fungada. Depois, lágrimas silenciosas escorrendo pelos dois lados do rosto. Mais depois, a choradeira. Rios de lágrimas! Ugui, ugui, ugui, parecia guincho de porquinho novo.
- Quem morreu? - eu já estava me apavorando.
- EU - falou Mirinha - EU morri.
- Graças a Deus - murmurei, agora com medo do que estava por vir.
Só podia ser outra crise da idade, a psicóloga da Mirinha já explicou pra ela que depois dos sessenta é assim.
- Nunca mais vou visitar meus filhos, NUNCA mais!
De novo. Outra vez. Como sempre. Brigou com algum. Mirinha tem dois filhos pra mais de 40 e ainda dá bola pro que eles falam. Fiquei na minha, amanhã já esqueceu.
- Desta vez é sério. Voumimbora. Vou voltar pro meu sertão...
- Que sertão, Mirinha, no Rio Grande tem é pasto, açude, barragem...Me conta...
- Eu sou tratada como debilóide, meu filho deu pra me esnobar na frente de todo mundo, larga as patas todas, patada mais patada, não aguento mais...E eu não posso dizer nada, ele fica trifurioso, pensei que fosse me bater...Tão logo eu, que faço tudo pra eles... Pode, isso?
Não, não pode, pensei. Mesmo que a Mirinha tivesse feito algo grave, mãe é mãe, vaca é vaca. E a gente não ofende a mãe. Nem a da gente, nem a dos outros. Mãe é mãe. A Mirinha pode ter todos os defeitos, mas ela AMA aqueles marmanjos. E eu já vi uns desaforos muito feios. Com os estranhos, são uns amores, chiquérrimos, mas em casa é pura brutalidade. Mirinha criou os filhos cheios de vontades, eles se acham, depois que se casaram, piorou, tem as mulheres pra incentivar, aquilo de quanto mais tem, mais quer. Um quer ser melhor que o outro. Mas filho é filho, espírito de porco é de porco. Tem a genética: a família da Mirinha é complicada, vivem brigando, depois que o velho morreu e deixou umas casinhas de herança ninguém mais se entende, toda festa termina em baixaria.Já ouvi dizer que dinheiro gera ódio. De herança é pior. Acho que é por isso...
Eu SEI que toda família tem problemas. Eu SEI que cada um com com seus problemas. Mas ver minha amiga assim, tão logo a Mirinha, minha inspiração, ela não para de chorar, já molhou almofadas e travesseiros, eu não sei o que fazer. Vou chorar também.
...Isso me lembra de uma amiguinha querida da praia, minha confidente, eu achava que a família dela era perfeita e a minha não, porém ela me contou cada coisa sobre cunhada, irmãos, sogra, sobrinhos, tia, nunca imaginei...e arrematou "FAMÍLIA TENS? EU, TAMBÉM". Merecemos.
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