A vida começa aos 60 anos. ATUALIZANDO...a vida começa aos 74. Agora, já estou com 75. A pandemia do Corona Vírus passou. A COVID se transformou em doença, que precisamos tomar vacina todos os anos, o vírus se transformou em coisa igual sarampo. POR ENQUANTO, estou escrevendo, copiando crônicas que escrevi nesses tempos de estranheza numa realidade de idosa. QUANDO eu ficar velha, talvez não tenha vontade de escrever mais.
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
MENOPAUSA OU PAIXÃO?
Inspirada pelas bruxas nesta sexta-feira de Halloween, a Mirinha acho que fumou uns e passou toda a noite contando aventuras de professora. Ela, a Mirinha, professora. Cansada de nossos assuntos sobre teatro-livros-dieta, ela, a Mirinha, fantasiada de Mortiça, fez aquela rodinha básica de amigos e deixou todo mundo de cabelos em pé, gravei e taí a história:
- Eu estava entrando nos enta - quarenta aninhos - bem gata, tudo em cima, dava aula de Literatura, manhã e noite. De manhã, eram os aborrescentes, todos menores. Mas à noite, tinha uns gatinhos bem comestíveis, mas como professora (não sou eu que COMO professora, era eu em estado de professora, seus pervertidos), mantinha minha fama de viúva intocável.
Eu sempre entrava na sala de aula recitando poemas, o assunto era Romantismo, poetas do Mal do Século, eu me lembro muito bem, na turma 221, parecia que a gente entrava numa guerra, todos conversavam. Joguei os livros no chão, com estardalhaço, todos ficaram mudos, me olhando, e dramatizei os versos de Álvarez de Azevedo:
Afastei a janela, entrei medroso...
Palpitava-lhe o seio adormecido...
Fui beijá-la... roubei do seio dela
um bilhete que estava ali metido...
Oh! decerto... (pensei) é doce página
onde a alma derramou gentis amores;
são versos dela... que amanhã decerto
ela me enviará cheios de flores...
Os alunos aplaudiram, assobios, uuuuuuuus, pedi silêncio.
-Agora é a vez de vocês! Escrevam um bilhete para o SER AMADO, em versos! Imaginem em que lugar do corpo a amada ou o amado vai encontrar o bilhete ...
Quase todos fizeram a tarefa, entre risos e comentários irônicos ou sensuais ou amorosos. Passei em cada mesa para recolher os trabalhos. Um aluno daqueles quietinhos pegou a minha mão, olhou bem nos meus olhos com uns olhos verdes profundos que eu nunca notara. Um arrepio na minha coluna, fiquei mole, ele continuava me olhando como lendo minha alma...Um calorão e meu rosto ficou em chamas...peguei o bilhete, juntei aos outros e saí quase fugida da sala, "já volto"; ainda ouvi uma aluna falar "deve ser a menopausa, as mulheres ficam assim, fervendo".
Gente, sabem como é a química? A flechada do cupido? A paixão que explode?
Pois foi bem assim. Precisei de água gelada, como voltar à sala? Aqueles olhos verdes...Peguei o bilhete, como uma adolescente, tremendo... Era PRA MIM! "Professora, eu só penso em ti, só sonho contigo, me dá uma chance."Era mais ou menos isso. Os olhos verdes estavam numa face longa, num corpo de atleta, quase dois metros de altura, tímido, sempre no canto da sala, caladão...E escrevia muito mal, letra horrível, nada de acentos, pontuação péssima, mas aquela mão...os olhos...os músculos...ai, meu DEUS...
( nessa hora, nós, os ouvintes da história da Mirinha, também já estávamos quase em transe, a Lelê gritando, conta o resto, você voltou pra aula, Mirinha?)
Voltei (continuou a Mirinha).
Desta vez, entrei bem devagar, fui pro quadro e escrevi uns exercícios. Evitava olhar pro fundo da sala. Mas parecia um ímã - eu sabia que havia dois olhos verdes. Por sorte, o sinal tocou. Fim da aula. Saí correndo. Novamente a aluna dizia: "Não falei? É menopausa".
Era Paixão. Todas as noites eu entrava tremendo na sala. E eles estavam lá, de tocaia, dois olhos verdes, prontos pra me engolir. Eu já nem conseguia pensar...e cada vez, minhas aulas foram ficando mais emocionantes, versos picantes de Castro Alves,
" Afoga-me os suspiros, Marieta!
Oh surpresa! Oh! Palor! Oh! Pranto! Oh! Medo!
Ai! Noites de Romeu e Julieta!.."
- a turma toda estava apaixonada comigo, eu era um sucesso, alunos e alunas cada vez mais alucinados, todos no cio, um cheiro de erotismo no ar, eu me desmanchava em poesia...
Até que me topei com os olhos verdes no supermercado...ele pegou meu carrinho, tocando na minha mão, e falou "quer ajuda, professora?" Minhas pernas afrouxaram.
Olhei bem na cara dele, podia ser meu filho,era um aluno,e a minha ética?...eu estava sem chão, tremendo. "Quer uma ajuda?" Acho que falei obrigada. Wiliederson( era esse o nome dos olhos verdes) empurrou o carrinho de compras até meu carro, abri o porta-malas, ele colocou as sacolas,fechou a porta. Ficou me olhando.Fundo. A voz rouca(a dele) "Hoje à noite tem festa de Halloween no Floresta. Te espero lá." Assim, bem homem, e eu pensando que ele era apenas um garoto.
(PÔ, Mirinha, resume - a turma queria saber - deu ou não deu?)
A maior produção de bruxa da minha vida, comprei uma fantasia de bruxinha da Play Boy. Fui. Vi. Foi um dançar, apertar, soltar, beijar, esfregar...noite de bruxas. E resisti. Mas bem que foram as melhores horas da minha vida, na condição de bruxa. TRICK OR TREAT. Gostosuras ou travessuras. Fiquei só nas gostosuras. AH! Se arrependimento matasse...Travessuras seriam bem melhor...Wiliederson...como escrevia mal o Wiliederson...
(Coisas de Mirinha...quem duvida é louco)
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