Há alguns anos, cheguei à descoberta única e intransferível que a TV era a janela do mundo. A notícia ali, viva. Antes era o jornal. Antes era o rádio. Antes era a carta. Antes, antes, sempre tem um antes. Se tem antes é porque tem depois...Depois surgiu a Internet e a tela do computador com o que eu escolhia neste admirável mundo novo. Depois chegou o WhattsUp e o mundo está na minha mão. Virou rotina. Foi então...tchan tchan tchan tchan...sentada em frente a minha janela, doentinha, privada da minha liberdade de ir e vir, descobri que minha janela me apresenta um mundo que é só meu, únicamente meu, exclusivamente meu.
Tenho uma árvore que se chama Quaresmeira e devia florescer na quaresma, mas dá flor todo o ano. Não é muito bonita, mas é a
minha Quaresmeira.Eu a
olho da minha janela e ela me olha lá de baixo.
Tem uma casinha de madeira estilo alemão ou polonês que resiste bravamente aos prédios que brotam como monstros famintos por todo lado, a casinha se encolhe cada vez mais apavorada.
Tem muitos ônibus da linha InterDois, grandes médios e pequenos que passam e dão uma paradinha bem na frente da minha janela, numa lombada que obriga todo carro a me cumprimentar, ou se sacodem desesperadamente quando não enxergam a lombada. Tem uma igreja onde saem e entram pessoas quase todo o dia, acho que vão pedir pra Deus não sei o quê, pode ser gasolina, pois todo mundo chega de carros que ficam enchendo a rua.
E os carros vão e vêm, todo o tempo, parecem formigas buscando alimento, se respeitam, um para e todos param...preto, branco, prata, vermelho, por que não tem listrado ou com bolinhas?Como os carros se respeitam e se obedecem, parecem seres humanos educados, ora param, ora dão sinal de luz, às vezes um grito quando dá um nervoso, todos um atrás do outro, vai e vem, essa organização não tem religião nem partido, ricos e pobres todos bem organizados,ninguém fura a fila, o único objetivo é seguir.
Bem na frente da minha janela tem um poste feio,emburrado, cheio de fios, e bem no alto, um morador que ficou sem árvore e invadiu o poste, o João-de-barro.
O João-de-barro fez sua casinha pra encarcerar sua amada, mas acho que não tem amada, pois está sempre sozinho, faz mais de ano, a porta continua aberta de frente pra mim. Há pouco tempo, outro João-de-barro começou uma casa bem do lado, está na metade. Os dois será que são João e Joana e resolveram morar sozinhos, cada um na sua casa?
às vezes, ficam os dois, um de cada lado, e só um entra na casa. O outro, coitado, a casa nunca termina.Ficou sem teto.Por quê não moram juntos? Quem sabe, algum dia...Estou de olho!
Na esquina, vejo uma casa de comida japonesa muito bonita, mas não deve ter dado lucro, pois tiveram que repartir com uma hamburgueria, nada a ver sushi com hamburguer, colocaram um parquinho infantil, talvez coloquem cachorro-quente, churrasquinho, porco assado, churros, pizza, sei lá, quem sabe estão mal de faturamento...Tem a farmácia do alemão que aprendeu com o pai a receitar remédio e conhece todo mundo da vila. Pois eu moro na Vila Izabel. Sou vileira, fico na janela espiando o mundo.
E os cachorros...De todas as raças e tamanhos, e que levam os donos a passear, pra conversar com outras pessoas, coitados; esses cães são muito inteligentes, são os donos das calçadas.
O mundo é muito interessante.
O mundo é um aprendizado eterno, e serve só para aqueles que tem sensibilidade e extrair o melhor dele :)
ResponderExcluir