Simples assim. Morreu.
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Mirinha não queria ficar velha. Como meu irmão, lindo, querido, amado.Como Marylin, Amy, Ellis. Morreu bem assim, uma sexygenária jovem, uma adolescente.
Antes...
Mirinha foi numa excursão às Terras Santas, ao Vaticano e ao Tibet.Pela milésima vez. Nem sei quantas vezes Mirinha já foi por lá... Dizia que precisava esclarecer umas coisas. De repente, voltou pro Brasil e comprou ingressos para as Olimpíadas,semana passada, nada a ver, nem tinha falado nisso.
- Amiga, te entregaste aos cambistas? Que fortuna esses ingressos...
De última hora, decidiu, como sempre nunca pergunta a ninguém, e me disse que só assim para participar; pensei: "O dinheiro é dela, faz o que quiser."
Entre malas e lembrancinhas que trouxe das viagens que fez "pra esclarecer umas coisas", vários trajes típicos de cada lugar, muitos colares, terços,um Japa Mala,muitas contas, adereços, bordados. Já imaginava Mirinha um dia de monge, outro de profeta, até de Papa. Com todos os penduricalhos.
E para as Olimpíadas já estava com toda a roupa da Seleção Brasileira. Fanática pelo Brasil.
E foi assim, entre malas de chegada e malas de partida,que Mirinha sentou na poltrona, pegou a agenda, anotou o horário do voo para o Rio, e caiu para a frente.
Só eu e ela no meio da bagunça. Pensei que fosse labirintite. Ou uma das dramatizações, pra me assustar. Bebida, não era,ainda era cedo, a parentada estava chegando pra receber os presentes. Foi uma gritaria,ninguém sabia bem o que estava acontecendo, Mirinha recém chegara das viagens, e as Olimpíadas? Chama ambulância, médico, essas coisas. Mas eu já sabia.Era só olhar. Mirinha era vida. E agora...Um infarto daqueles, de acabar mesmo.Aquilo não era Mirinha. Apenas um corpo. A energia, a alma, o espírito, sei lá, já não estava ali.Não sei como, por que, tudo que era vivo acabou. Como pode? Assim, sem aviso.
Depois...
Como ela sempre pediu, como sempre escreveu, tinha até um quadro no quarto com as instruções:
"Cremação, cinzas no mar, nada de velas,nada de choro,muita música, bebida e comida."
Choque. Não dá pra acreditar. Nem para descrever.
Agora...
Não consigo parar de chorar. "Engole o choro", parece que estou ouvindo, sempre foi assim, livre. Nada para falar.
Agora...
Não tem mais Mirinha.
Só o vazio.
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