O Fórum Brasileiro de Segurança Pública acredita que possam ter ocorrido entre 136 mil e 476 mil casos de estupro no Brasil no ano passado.
A projeção mais ‘otimista’ está baseada em estudos internacionais, como o ‘National Crime Victimization Survey’, que aponta que apenas 35% das vítimas desse tipo de crime prestam queixa.
“É o crime que apresenta a maior taxa de subnotificação no mundo."
A vítima tem vergonha da exposição, tem ignorância de seus direitos, tem medo de ser julgada culpada - o que muitas vezes acontece.
Estatísticas, a cada 11 minutos uma mulher é violentada no Brasil.Falando assim, parece que tudo está longe da minha e da tua casa.
Uma mocinha sofreu um estupro coletivo. Com vídeo ilustrativo na internet. 33 homens. Vi na TV. Um dos estupradores rindo, o namorado da vítima abraçado no exibido.Como pode? Que motivação têm esses rapazes pra cometer um crime desses?
E se fosse minha aluna, minha vizinha, minha irmã, minha mãe, minha filha? Agora, DOEU!
A Literatura me ensina quase tudo o que sei da História dos homens. Ana Terra, personagem de "O Tempo e o Vento"de Érico Veríssimo, foi estuprada sucessivas vezes pelos bandidos castelhanos que invadiram a fazenda onde morava. Em "O Regresso",filme vencedor do Oscar, a índia é submetida ao instinto animalesco também de muitos homens. E nas guerras e prisões e festas, a mulher é a diversão dos desejos insanos.
Ontem, outra estatística dizia que os estupros são na maioria de autoria de namorado, parente, amigo.Em casa. Ainda mais grotesco: até com a conivência de outras mulheres.
Quando na direção de escola, da sala de aula, trouxeram-me uma adolescente revoltada. Não queria participar das atividades.Conversamos muito, ela me contou que o padrasto empurrava a porta do seu quarto todas as noites, ela estava apavorada, pediu-me não comunicar ao Conselho Tutelar, tinha vergonha. Chamei a mãe. Com muito cuidado, abordei o assunto. A mãe falou "a (Mocinha) botou corpo, fica usando shortinho, homem é homem". Mandou a filha para a casa da irmã que mandou trabalhar.A mãe ficou com o homem que era homem. A filha com 13 anos foi pra rua. Esse é um dos muitos casos que presenciei.(Soube de um final feliz: Aquela Mocinha casou, teve filhos,hoje é professora; a mãe continua com o homem que é homem e que bate nela). Quando os casos eram denunciados, poucas as mães que davam razão às filhas. Quando chamadas para testemunhar, sempre livravam o "homem é homem". Uma cultura de exaltação ao macho, ao instinto; tem pais que ensinam o filho, desde pequeno, a usar as mulheres.Um buraco de prazer. Não uma pessoa.
Discutimos em aula com nossa psicóloga que trabalha com crianças em situação de risco. Abusadas, quase todas, desde sempre. Meninas e meninos.É dolorido saber como o ser humano é um poço de insanidade. E que tem mais vítimas inocentes do que mostra a incerta e fria estatística.
Como o ser humano pode ser tão incompreensível? Nesta nossa cultura, a falta de educação, de limites, de controle sobre os instintos desperta a besta fera que se revela de forma incontrolável no indivíduo, como uma compulsão.Tipo "Cidade de Deus".
Mas quando existe uma atitude pensada, planejada, observando os padrões da sociedade, surge o perverso.O perverso incendeia o morador de rua. O perverso e a perversa planejam o assassinato dos pais. Perversos batem nos gays. O perverso conquista a vítima.O perverso é educado, o perverso é bonito, o perverso tem charme. Os perversos estão junto conosco. Dissimulados.
Os perversos estupram a amiga e divulgam um vídeo na internet para os outros perversos curtirem.E se satisfazem em ver quantos "clics".
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Parabéns pelo texto, pela colocação das palavras. Estupro está além do ator ser uma besta-fera, tarado ou perverso. Para nosso desgosto, ele é humano, e aí é que a dificuldade de incriminá-los aumenta. Em alguns casos (na maioria das vezes),tendem a ficar desapontados por terem a impressão de que não estão forçando a mulher quanto gostariam, aí eles serão, provavelmente, mais cruéis.
ResponderExcluirDe qualquer forma, uma eventual excitação da vítima por diversos fatores humanos e a conseqüente falta de marcas de violência sexual não provam de nenhuma maneira que não tenha havido estupro.
Ela trará consigo as marcas de uma violência hedionda, para sempre, e eles se vangloriarão entre seus pares como homens capazes de promover um ato cruel, atávico, troglodita.
Isto sem entrarmos ( e aqui seu texto foi magistral) na questão de uma gravidez por abuso sexual. estamos pisando em terreno perigoso. Quanto menos as pessoas respeitam as mulheres, mais valorizam o gozo de seus heróis viris e criminosos.
Além disto, o BO (boletim de ocorrência) policial não é (sic) uma condição necessária para que seja permitido interromper a gravidez produzida por estupro.
Temos um longo caminho pela frente em busca da paz.