Lembrei hoje dessa
história do anjo. Tenho muitos, e a Mirinha faz uma farra monstra de meus
anjos, “Tudo inventado”, ela diz. Até que aconteceu com ela.
Ficamos alojadas no
apê do filho e nora perto da Universidade Macquarie, onde trabalhavam. Depois
de um fim de semana turístico em família, ficamos só as duas “em casa”. Minhas pernas doíam, eu
só queria descansar. Mirinha me enlouquecendo:
- É bem coisa de
gente velha, ficar fechada com tudo pra ver. Bella, o ônibus passa na esquina,
olha no mapa, tem uma Queen nos esperando no centrão de Sydney.
- A gente vai e volta no mesmo ônibus.
Mirinha acha que
está no Brasil, quem sabe em Rio Grande ou Uruguaiana, tudo vai e volta assim,
fácil. Eu só queria dormir um pouco, esgotada. E ainda o fuso. Como é que
Mirinha fica inteira? Dez da manhã em Sydney. Dez da noite no Brasil. Dormi. E
Mirinha se mandou.
Mirinha tem mania de
shopping, aprendeu em Curitiba.
Seis da tarde. O
pessoal chegou do trabalho. Eu ainda desfusada. Cadê Mirinha, até agora, nada.
A gurizada a mil, happy hour esperando, eles nem aí pra Mirinha, eu tendo um
ataque de nervos.
Isso eu sei, sou coroa, não sou burra. Mas
a amiga nem fala inglês direito, e o Victória é uma perdição, e Sydney não é
Alegrete.
Quase sete da noite,
aparece Mirinha. Pegou um ônibus, ela se vira, fala, escreve,desenha e chega
lá, foi até ao The Queen Victoria Building, tem até as fotos da Rainha Victória
bem sentada na frente do shopping
e do shopping.
A Mirinha chegou 18.15 pm e
arrasou, toda alvoroçada, “Vocês nem imaginam o que aconteceu”. Inimaginável
claro.
- Desci do ônibus
bem na frente da Victória (nessas alturas, Mirinha já era íntima da rainha).
Passei odia entrando e saindo das lojas, comi Caesar Salad e bebi torneiras de
chopp.
Na volta, fui aonde tinha descido e os ônibus só iam, nenhum voltava. Perguntei para uma pessoa que me levou do outro lado do shopping da rainha, peguei um ônibus que me largou embaixo de um viaduto cheio de pubs, com lojas de aborígenes, milhões de gente com cabelos coloridos,
músicos na rua, parecia Woodstock alternativo
(Mirinha esteve em Woodstock em 1969, de hippie e tudo),
nenhum táxi passava lá, eu já estava chorando, quando uma senhora muito velhinha, muito mais velhinha que tu, Bella, me perguntou se eu estava lost, entendi bem o lost, eu disse yes, I am,
ela me deu um papel e uma caneta, mandou eu escrever pra onde eu queria ir, eu escrevi Macquarie University,
ela me levou até um ônibus muito estranho,cheio de desenhos como tatuagem, o único que parou perto daquela bagunça,
me entregou pro motorista e deu o papel pra ele ler, e ainda escreveu mais umas coisas que eu não vi...
O ônibus voltou até o shopping da Rainha Vitória, já estava fechado. Então o motorista deixou o estranho ônibus parado na rua, desceu e foi de mão comigo como se eu fosse uma criança, me entregou pra outro motorista de um ônibus normal, do outro lado do shopping e falou naquela língua deles, pela entonação vi que era muito sério, mostrei meus dólares, ele fez que não, disse GO e eu estou aqui.
Na volta, fui aonde tinha descido e os ônibus só iam, nenhum voltava. Perguntei para uma pessoa que me levou do outro lado do shopping da rainha, peguei um ônibus que me largou embaixo de um viaduto cheio de pubs, com lojas de aborígenes, milhões de gente com cabelos coloridos,
músicos na rua, parecia Woodstock alternativo
(Mirinha esteve em Woodstock em 1969, de hippie e tudo),
nenhum táxi passava lá, eu já estava chorando, quando uma senhora muito velhinha, muito mais velhinha que tu, Bella, me perguntou se eu estava lost, entendi bem o lost, eu disse yes, I am,
ela me deu um papel e uma caneta, mandou eu escrever pra onde eu queria ir, eu escrevi Macquarie University,
ela me levou até um ônibus muito estranho,cheio de desenhos como tatuagem, o único que parou perto daquela bagunça,
me entregou pro motorista e deu o papel pra ele ler, e ainda escreveu mais umas coisas que eu não vi...
O ônibus voltou até o shopping da Rainha Vitória, já estava fechado. Então o motorista deixou o estranho ônibus parado na rua, desceu e foi de mão comigo como se eu fosse uma criança, me entregou pra outro motorista de um ônibus normal, do outro lado do shopping e falou naquela língua deles, pela entonação vi que era muito sério, mostrei meus dólares, ele fez que não, disse GO e eu estou aqui.
Eu estava em choque,
a gurizada ria muito, a Mirinha olhou bem séria:
Ali dizia o
seguinte, já traduzido: “Por favor, leve esta moça até o ponto de ônibus e diga
ao motorista para levá-la até o seguinte endereço: Leisure Close 21/3, North
Ryde”a assinatura ilegível, parecia desenho.
- E eu nem dei o
endereço pra velhinha – jurou a Mirinha - o motorista não cobrou nada e me deixou
bem aqui na frente...
Não preciso dizer
que ninguém acreditou, embora o ônibus foi uma surpresa, naquela rua e naquele
endereço, o nosso. Mas a Mirinha tem o bilhete até hoje, para provar, colado no
álbum, que diz ser do Anjo de Sydney.
Eu tenho o meu Anjo
Branco. Já contei a história, o Anjo do Abraço.
Mirinha tem um Anjo
Colorido. Na Austrália.
Foi ela que me pediu pra contar essa história,
vai imprimir e colar ao lado do bilhete.
I believe in angels.
E eles aparecem quando menos se espera.
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