ELE era completamente apaixonado e eu talvez tanto. E tinha o ciúme, essa coisa que que deixa a gente até envaidecida por ser assim, tão amada. Amor de adolescentes. Eu tinha apenas 14 anos, ele, 17. Um morenão de olhos verdes, quase dois metros de altura, um rosto perfeito, corpo de artista de cinema, e se dinheiro fosse diferencial, rico - seria o CEO dos cinquenta tons; todas as meninas da cidade queriam estar no meu lugar. Só que eu também desmontava corações: tinha medidas de miss e cara de boneca, atributos da época de sucesso, juventude rebelde e liberada.
Tinha tudo pra dar certo.
Até que apareceu a droga. Droga mesmo. Não um simples lança-perfume - que circulava livremente nas nossa noites de bailes. Era o pó de quem tinha grana, a cocaína que entrava às escondidas nos salões mais refinados de uma cidade de fronteira, com o contrabando fácil e os traficantes morando ao lado.
Amor com drogas não combina.
Eu sempre fui muito realista, ainda jovem, e sabia que é difícil um drogado deixar o vício. E eu queria ser feliz.
- Não dá mais. Não quero mais te namorar.
Falei bem assim, nós dois numa mesa do clube cheio de amigos.
ELE enterrou o cigarro na minha mão. O cigarro aceso.
Dei um grito de dor, todo mundo olhando sem saber. Até ELE ficou perdido, horrorizado com a estupidez do gesto.
Quem diz que mulher gosta de apanhar, é louco! Se existisse a Lei Maria da Penha, com certeza eu procurava. Doía de verdade, o belo virou fera. ELE chorava mais do que eu. Amigos divididos, sem saber o que fazer, sem entender. Eu sabia muito bem. Sem perdão. Nunca mais.
Todo o amor se esvaiu em trágicas lágrimas, sonhos destruídos.
Esquecer jamais, um cigarro em brasa enterrado na mão. Queimadura no coração. Podia ter sido tudo tão perfeito.
Marcas. Cocaína. Primeiro amor. Fim.
A vida começa aos 60 anos. ATUALIZANDO...a vida começa aos 74. Agora, já estou com 75. A pandemia do Corona Vírus passou. A COVID se transformou em doença, que precisamos tomar vacina todos os anos, o vírus se transformou em coisa igual sarampo. POR ENQUANTO, estou escrevendo, copiando crônicas que escrevi nesses tempos de estranheza numa realidade de idosa. QUANDO eu ficar velha, talvez não tenha vontade de escrever mais.
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