Nunca tive tempo para observar meus filhos pequenos fazerem as coisas de rotina. Anotar as palavras e frases e estórias do dia-a-dia. A minha rotina não permitia. Levantar todo mundo, todo mundo tomar café, todo mundo sair em cima da hora, escola, trabalho, essas coisas que fazem a vida. Nem me arrependo de nada, pois era necessário, hoje estão eles - os filhos - por aí, fazendo a mesma coisa. E sobra pra vó ter esse tempo sobrante, tão bem colocado pelo Papai-do-Céu, a vó que não tem mais o pique pra fazer tudo aquilo, e não precisa mais correr tanto, chegou a hora de ajudar o corre-corre dos filhos. Então, a filha com compromisso de trabalho, sobrou pra mim ter que pegar o neto na escola numa tarde e devolver no dia seguinte - um trabalho pra lá de prazeroso. E nesse outro dia, passamos no Mercadorama, eu e o neto, para comprar uma florzinha - a mãe estava de aniversário.
- Vovó, vamos combinar: é só uma florzinha! - ele já não quer mais saber de compras, já está muito grande, já tem 5 anos - CINCO!
- Tá, bom, mas vamos escolher uma bem baratinha - já fui avisando.
Ainda bem que as flores estavam novas, viçosas, o neto saiu direto às orquídeas.
- Essa não dá, é muito cara, e é muito exibida, qualquer coisa se quebra, é a mais cara...
- Vovó, ela parece que vai pra festa!
- Te falei...É muito chic e MUITO cara! mas olha pra lá...Tem que ser de até dez reais...
Depois de uma breve e muito bem orientada pesquisa, eis que o neto vê as violetas. 6,96. Bom! Muito bom!
- Qual a cor? perguntei.
O guri olhou, pegou algumas caixinhas, violetas vermelhas, amarelas, azuis, ele escolheu uma lilás. Por sinal, muito nova, cheia de brotinho.
- Por que essa? Perguntei.
- Está cheia de filhotinhos...Ele mostrou entre as florzinhas os brotinhos, ainda bem fechadinhos.
Saímos bem contentes, ele segurando a caixinha ornamentada com a violeta como se fosse um fino cristal. E assim foi na cadeirinha, no banco de trás, observando e perguntando e eu respondendo até o que não sabia sobre plantas, orquídeas e violetas. Na escola, avisei: "Não te esquece de dar a flor pra tua mãe, ela está de aniversário hoje". Quando minha filha foi, à tarde, buscar o guri,estava ele lá, com as violetas. Diz ela que ele foi até em casa com todo cuidado e deu algumas lições:
- Mamãe, você sabe? A orquídea é muito cara, nasce só depois de um ano, pode quebrar por qualquer coisa. Estas violetas são muito delicadas: precisam de água, mas bem pouquinho, se der muita água, vão morrer afogadas. Gostam muito de luz, mas não de sol forte, ficam muito queimadas. E precisam de ar, mas têm horror a vento. E tem mais: Olha só, quantos filhotinhos, vamos achar um lugar bem legal e cuidar bem deles!
Não sei bem se eu falei tudo isso. Mas é uma história pra mim. Uma lição: cuidado com as violetas e com o que se fala pra uma criança.
( Segunda-feira:Começando a semana com a doçura do mundo!)
A vida começa aos 60 anos. ATUALIZANDO...a vida começa aos 74. Agora, já estou com 75. A pandemia do Corona Vírus passou. A COVID se transformou em doença, que precisamos tomar vacina todos os anos, o vírus se transformou em coisa igual sarampo. POR ENQUANTO, estou escrevendo, copiando crônicas que escrevi nesses tempos de estranheza numa realidade de idosa. QUANDO eu ficar velha, talvez não tenha vontade de escrever mais.
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