MINHA VIDA É UM PALCO

MINHA VIDA É UM PALCO
Somos como atores neste palco que é o mundo, as cenas são os dias e noites, e o roteiro quem escreve é a VIDA!A vida depois dos 60. É começar novo, novos horizontes, um mundo diferente e muito mais LEVE! A gente está sempre começando, sempre aprendendo...E aos 60 anos, a gente nasce de novo! A minha Infância da Maturidade! COMO SERÁ NOS 70?Na minha ADOLESCÊNCIA da Maturidade...CHEGUEI! Cheguei chegando imaginando a vida toda...70 ANOS! BÓRA LÁ QUE A VIDA TÁ PASSANDO!!!E até uma PANDEMIA!Nunca pensei ...De repente, ficar presa em casa, sozinha. Se sair, o CORONA VÍRUS pega. Horrível todo mundo sem se tocar.

sábado, 30 de abril de 2011

MÃO INGLESA

Em dias que tudo remete ao  mundo britânico, com o casamento do príncipe e da plebeia ( como esse termo parece pejorativo, como se ela tivesse um defeito horroroso: plebeia, feminino de plebeu,no Aurélio significa  peão, pé-de-poeira) então, o príncipe casou com uma pé-de-poeira, imaginem a Catherine, uma pé-de-poeira...Mas não é sobre o casamento, é sobre dirigir um carro com o volante à direita... Trânsito de mão-inglesa, as ruas e estradas toda com o carro na direita...Foi assim comigo, na Austrália,Sydney, Dee Why Beach,  meu filho deixou o carro para eu buscar minha neta na escola. Fez comigo antes o trajeto duas vezes e disse " Te vira, Mama" e foram trabalhar.

Eu fiquei olhando a Honda. Como se fosse um ET. O horário de saída da escola era às 3 da tarde. Dava uns 10 minutos da casa. Eu, sozinha com o carro tudo do avesso,  mudar as marchas com a minha mão esquerda, sinalizava para dobrar na esquina e o limpador de parabrisa enlouquecia. "Cuidado com os carros, eles virão sempre à tua direita" - mas o pior eram os carros estacionados à esquerda, tão pertinho... Que confiança na Mama; se meu filho soubesse que eu estava tendo um infarto! Liguei a chave. Eram 2 horas.´Eu queria chegar antes de os outros pais avós etc e estacionar com espaço. Rezei nem sei quantos padresnossosavesmariassalverainhas.Consegui chegar à escola, me cuidando muito mais na "road about", que é a  rótula no Brasil, lá, com 4 entradas(ou saídas),eu sempre me perco, entrada preferencial pra eles, se estou dentro a preferencial é minha, mas saio sempre onde não é pra sair - MY GOD - como estou confusa, mas era assim que eu me sentia. Peguei a guria minha neta, pequenina, Luisa, THE FIRST, 5 anos, linda, pulando e se despedindo dos colegas, tudo de cabeça amarela, chapéus,os uniformes australianos são lindos! E a minha neta era a mais linda de todas as crianças! Consegui chegar com ela no carro. 
 "Vovó, você não sabe nada" quando eu não conseguia ajustar o cinto de segurança do banco traseiro. E entrei no carro pela esquerda - que mico, realmente, disfarcei, peguei qualquer coisa, saí, bati a porta, circulei o carro, lá vou eu do avesso.  Entrei no carro, tudo muito devagar para o pessoal sair primeiro,saída de escola de criança é igual no mundo inteiro, só que lá ninguém estaciona onde não deve. E se for vovó, tem preferência. Com o caminho livre, saí. "Seja o que Deus quiser! "
Chegamos na "road about", aquela roda cheia de entradas e saídas. Eu precisava acertar A SAÍDA!
"Minha neta, me diz quando é pra dobrar pra tua casa, tá?"
-Vovó Gádis,eu diz que você não sabe nada.
Aquela voz maravilhosa de criança, falando português com o sotaque inglês e o verbo na 3ª pessoa sempre.Consegui sair da roda depois de milhões de voltas, andei alguns metros e falei pra ela, lá atrás, brincando com uns joguinhos: "Luisa, esta é a rua da tua casa?"
- Vovó Gádis,  eu fala pra você, eu não sabe, eu é quiança.
Sem dúvida. Voltei pelo mesmo caminho, tomei vergonha na cara, entrei na rótula e fui na intuição do já-visto. ACERTEI! Depois dessa, aprendi. Eu é adulto. Eu não sabe nada. Com que carinho eu tenho essa lembrança no meu coração...
"Eu não sabe isso, eu é quiança!" Que lógica incrível.
E eu sou a ´Vovó-Coruja-que-Não-sabe-Nada mais feliz do mundo, com essa carinha de sapeca de minha THE FIRST! 

sexta-feira, 29 de abril de 2011

TRAVESSIA SUICIDA

Caranguejos coloridos de Cuba

Nem tomei chá de cogumelos e milhares de caranguejos coloridos atravessando a estrada e, de vez em quando, um carro passando por cima deles, amassando as delicadas carcaças... nem sei em que lugar de Cuba, deu no Faustão. Mas, por que esse bichinhos têm que atravessar a estrada tão logo aí? Não sabem ir por outro lado?
Lembrei-me de certa vez que ía para o Uruguai, no retão de Sta Vitória, em plena Reserva do Taim, tartarugas e antas ou capivaras ou capinchos, atravessando a BR. Perguntei ao motorista, um oceanólogo, ecólogo, geneticista:- Por que eles atravessam a estrada, em pleno asfalto? Por que não ficam seguros em suas casaS, lagos, tocas?
Resposta: " E por que estás saindo de tua aconchegante casa para ires ao Uruguai, atravessando todo o Taim?"
É. Todos nós procuramos novos destinos. Alguns têm sorte. Depende de qual estrada têm que atravessar.
Alguns têm sorte. Outros ficam no caminho. 
Os caranguejos coloridos de Cuba saem das florestas à procura do mar para colocarem seus ovos na água e se perpetuarem. Um caminho sem barreiras, mesmo com estradas de asfalto, cidades, casas, hotéis, eles passam por tudo, num caminho que é deles desde que o mundo é mundo. Os homens que se meteram nesse caminho estão tentando fazer passarelas para os caranguejos, não para salvar os caranguejos, mas porque os caranguejos se reproduzem e passam por cima de tudo, e ele são muito mais do que os homens, num caminho milenar que não conhece barreiras. Eles jamais deixarão de migrar na época do amor. 
No Taim, capivaras ( capinchos-pra nós) tartarugas e outros vão atravessar a BR que invadiu seu território. Homens que procuram outras cidades, outros países - como eu - e que precisam de estradas. Sem passarelas para eles...
SALVE-SE QUEM PUDER!

NB: Na estrada mais antiga do RS, 734, CASSINO- RIO GRANDE - já é assim. São pessoas tentando atravessar para chegar na FURG, ou no BAR DO BETO, ou nas escolas, nos apartamentos...
Os carros, idem. Morrem pessoas. Ciclistas. Gente que quer chegar.
SALVEM-SE, SE PUDEREM!!!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

DIA DO TRABALHADOR ( AQUELE...)

Tem dias e dias.Hoje é um daqueles que não se sabe o que fazer. Então, almoçar com uma amiga que há muito tempo não se vê, beber ao meio-dia, o que há tempo não se faz, comer muito mais do que se come ao meio-dia, bife à milanesa daqueles que só a mãe da gente fazia... Depois voltar pra casa e receber a visita de uma amiga que está com problemas na caixa do banheiro, igual à que se tem, dar a ela o endereço do único homem que conserta essa coisa,... Como é importante uma caixa d'água de banheiro, só se sabe quando tem problema. Por isso, prestes a chegar ao dia do trabalho -DIA DO TRABALHADOR -lembro-me do meu pai que nesse dia - 1º de MAIO - fazia um baita churrasco e dava uma cesta ( naqueles tempos não era básica, era completa) para todos os empregados. ADÃO ANTUNES BELLAGAMBA - o homem mais brabo e bondoso que conheci. Vem  aí o 1º de MAIO - DIA DO TRABALHADOR. Não se sente mais todo o cheiro de churrasco em toda a cidade. A costela gaúcha  agora se chama JANELA e é muito cara, a linguiça ainda era com trema...Hoje, nem todo trabalhador volta´pra casa sequer com uma cesta básica: mas com o ADÃO, eles, depois de um churras com tudo, iam para casa com um saco cheio de coisas, feijão, arroz, cobertores, casacos de lã, bonecas e autinhos, inclusive uma ovelha. E os filhos com todos os brinquedos e chocolates da Páscoa. Um simples agradecimento de um patrão que amava os empregados. Com todos os impropérios que dizia quando estava brabo,  esse Adão sentia que aqueles empregados não eram apenas uma mão-de-obra. Os empregados eram GENTE, com família, mãe, pai, mulher, filhos e sentimentos. Quase sempre de gratidão e carinho. Eu sentia isso.De ambas as partes.
Marchanteria Uruguaianensede Carnes Ltda. 34 açougues na cidade. 40 bois e 50 ovelhas abatidos por dia. E quem trabalhava no matadouro era muito GENTE!!
1º DE MAIO - DIA DO TRABALHADOR - ninguém fica mais pobre em fazer a festa de quem constrói este país. E um dia diferente é muito importante na vida de cada um. Por que não fazer a festa na segunda, ou no sábado? Eu farei.Homenagem ao Adão.
O TRABALHA - DOR  merece!!!!

domingo, 24 de abril de 2011

JESUS É O REI DA FESTA

Hoje tive um telefonema que me deixou tri-feliz. Meu neto me ligou, cantou uma canção de coelhinho que eu não conhecia. Ele tem 4 anos, fiquei pensando como entenderia a metáfora da Ressurreição, pra nós é tão difícil morrer e depois de 3 dias aparecer vivinho...Sofrer tanto pra salvar nós, os pecadores, para não irmos direto ao inferno ser cutucados pelo Diabo - tão moderno esse "cutucar", no Facebook todo mundo se cutuca...
Mas esse Polaco me explicou: "Vovó, Jesus é O CARA! No Natal ele nasce e todo mundo faz uma festa bem grande pra Ele, o Papai Noel enche a gente de presente. Depois, matam Ele, mas ele nasce de novo na Páscoa, então a gente faz outra festa bem grande, e vem o Coelho e traz muitos ovos de chocolate."
Fiquei encantada com a história, mas como todo adulto idiota, queria mais: " Mas...meu neto, quem é Jesus?"
- Ora, vovó, Jesus é o REI DA FESTA!
Satisfeitos? Eu fiquei.

FELIZ PÁSCOA, ressuscitou o Rei da Festa, é a Esperança enchendo os corações!

sábado, 23 de abril de 2011

COMO É RUIM O BICHO HOMEM 2

Toda Sexta-feira Santa é a mesma coisa: O almoço é previamente combinado, os parentes viajam quilômetros para comer bacalhau ( ou é cação salgado?), bolinho de peixe, peixe à milanesa, camarão no arroz ou na massa, torta de batata com sardinha, batata doce e um monte de comidas muito gostosas. Não pode faltar o vinho, nem os pudins e ambrosias.~Quem sofre são as crianças, que não gostam de peixe e têm que comer ovo  frito e arroz ( que também é bom) e purê. Se a situação não anda muito boa, abre-se uma lata de sardinha, nem precisa ser Coqueiro, e está feita a festa. Isso mesmo: FESTA. A família se  junta, os parentes de longe já estão esparramados pelas casas, a orgia começa cedo. E já se programa o churrasco pra Domingo de Páscoa, pois na sexta não se come carne, é um sacrifício pela morte de Jesus.
E aí está a pergunta que todos fazem: se Jesus aparecesse hoje, será que fariam com ele toda a judiaria? ( judiaria não é um monte de judeus, judiaria nem sei se tem a ver com judeu, mas tem o mesmo radical JUD, londe de mim estar discriminando os judeus que mataram Jesus. No dicionário,  judiaria é castigar, molestar, fazer sofrer).Tá, mas a pergunta: Fariam ou não? Começa pela autoridade: O Pôncio Pilatos que devia julgar Jesus, lavou as mãos, "isso não é  comigo", bem assim como fazem hoje quando não querem se incomodar. O Pôncio levou Jesus, mostrou pro povo e disse: "Eis o homem", se fosse  na TV ele diria " Este é o cara!"
E o povo resolveu. " Mata, mata, mata!" Nem sabiam bem o que Ele tinha feito. Era o dia em que alguns bandidos eram perdoados e 3 deles eram crucificados. Dois ladrões e Ele, o fascínora que vivia ameaçando de pagar pecados, falando de deus, amor, paz, perdão, essas coisas. Um terrorista.Sem casa, entrou na cidade em cima de um burro.Nem era burro, era jumento. Fazendo algazara, um monte de gente atrás, cambada de vagabundos, diziam. E levaram o Cristo até a cruz, com os dois ladrões ladeando, pregaram os pés e as mãos, fizeram uma coroa de espinhos e enterraram na testa Dele até sair sangue,já corria sangue dos pés e das mãos. Arrancaram as vestes e fizeram um sorteio, quem pega o quê,brigando pelos trapos como nas heranças.Um pedaço de pano molhado em vinagre, na ponta de um pau, para Ele matar a sede. Até vinho com fel. E como sofreu! Já tinha sido tentado pelo Diabo, "pede pro teu pai te salvar", mas se Ele chamasse...Por que não chamou? Não podia. Entregaria os safados que estavam judiando Dele.. E Ele veio para salvar os homens dos homens. Maltrataram tanto a Criatura que Ele disse apenas " Pai, por que me abandonaste?"- e morreu. Essa foi a Sexta-feira Santa.
Bacalhau, sardinha e vinho. Festa.
COMO É RUIM O BICHO HOMEM!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

COMO É LONGE URUGUAIANA!



Alguém já disse isso. O problema é não deixar o peixe e o camarão derreter. Os bichos tem que estar bem congelados, enrola em jornal, amarra dentro dos plásticos do Guanabara, larga gelo por cima e ainda tem que dar lugar pra pôr uma latinhas de refri e garrafinhas com água. Ainda bem que não está muito calor, os sanduíches vão nos potes de sorvete Kibon( ou Nestlé, ou, dependendo do aperto, Tivially),bem perto de alguém que esteja disponível a passar para os outros - sempre na hora que esse alguém está dormindo e o motorista diz me dá um sanduíche ; papel higiênico é muito importante, embaixo do banco da frente, mais prático, já passamos muito aperto nesses anos - desde 1987, século passado, milênio passado,traz ovelha, costela e chibo de Libres e leva peixe e camarão. A cuia e a térmica indispensáveis, mas tem que ter  Nescafé, uma caneca e um vidrinho com açúcar e uma colherinha, caso dê muito sono e o co-piloto e o motorista precisarem de uma força. Me dá saudade de quando vinha com a Momonave ( a Belina Branca) cheia de gente, cachorro, azeitona e cebola de Libres, refri -  e não era latinha, não, era coca grande e copo plástico, galinha com farofa e pão, pastel de carne com ovo, sanduíche de cacetinho, manteiga ( maionese estraga) e presunto e queijo ( eu prefiro mortadela, mas sou a única, espero que um dia vocês se juntem a nós e o mundo será um só - isso é do John Lennon que também gostava de mortadela ), tijolinho, caramelos, até barrinhas de Neughebauer, mais um montão de carne de gado e de ovelha, que o avô açougueiro, o poderoso chefão,  fazia questão de mandar pros netos da Furg.
 Agora tem essa frescura que galinha com farofa é coisa brega, preferem chegar num posto de estrada e comprar cheeps para não atrasar. Porque é longe Uruguaiana.

  Mas como é bom comer galinha assada na viagem. Parar num posto de gasolina, fazer fila no banheiro ( não esquecer o papel), e fazer da capota ( capota é o telhado do carro) uma mesa com muitas coisas espalhadas, inclusive pano de prato pra limpar as mãos ( e a boca)...Só que agora as gurias - estão muito frescas, acham feio, que vão dizer, que a gente é relaxada...E até os guris entram nessa. Besteira.
Vou pra Uruguaiana no fim de semana, ver os pirilampos se multiplicando...
Amanhã não é fim de semana, mas é antevéspera de feriado, estou assando uma galinha e um quilo de linguiça, não quero nem saber, vai uma térmica de café ( não tomo chimas, prefiro cevas, mas não combina com direção, então, vai café passado que é BOM), umas galletas ( que dizem gajetas), e um baita isopor cheio de camarão e peixe do mar, enrolados em jornal, amarrados nas sacolas do Guanabara, umas barras de gelo que faz uma semana que estão no congelador, latinhas de coca zero e água com gás. No retão de Bagé - Livramento tem pouco posto, no primeiro já paro e faço um lanchinho, podem ficar babando... galinha assada, bolacha, linguiça e café ou coca...Se meus parceiros ficarem com vergonha, que não saiam do carro...
Mas como é longe Uruguaiana!

( Tenho certeza que eles não vão aguentar o cheirinho...São até bem capaz de colocar óculos escuros e boné...). Detalhe: Estou saindo do CASSINO, A MAIOR PRAIA DO MUNDO, mas esses meus parceiros de viagem saem de Pelotas...

Ah... ia me esquecendo, comprei um rádio pro auto que toca até CD, e vou levar Mano Lima, Porca Véia e outros do tipo, será que vão gostar?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

GRUSCHENKA

Era uma vez uma família comum com pai, mãe e filho e cachorro. Moravam numa casa que parecia um trem, uma porta e uma janela na frente, um corredor compriiiiiiido, as peças uma atrás - ou na frente - da outra. Tinha até uma piscina comppriiiiida no pátio compriiiido, ainda bem, pois o pai também era compriiiiido.Tinha um porão embaixo da última - ou primeira - peça, a cozinha. Uma escada e ali estava o porão, a porta embaixo da escada, um porão que tinha as paredes todas cobertas por latas vazias de Nanon. Nanom era um leite em pó, que o filho tinha tomado durante 18 meses, muito caro o Nanom, mas o filho era um bebezão lindo, a mãe desconfiou quando ele nasceu, parecia que não era filho dela e do marido, um bebê muito loiro, com olhos muito azuis, mais bonito que o filho da coruja. O pai quase se fundiu comprando leite em lata, a mãe não tinha. E agora, ela estava grávida, de novo, esperando pra todos os dias. Não sabia se seria outro guri ou uma guria, tomara que fosse, assim podia ficar por ali mesmo. A mãe tinha visto o filme " O Bebê de Rosemery" e tinha medo que nascesse um diabo. Mas não. Nasceu uma guria. Um outro susto: um bebê tão loiro quanto o primeiro, lindo, mas os olhos, uns olhos muito, muiiiiiiiiiito grandes, verdes, e ficava olhando para a mãe. Gruschenka. É a Gruschenka - falou a mãe. Foi um escândalo no quarto do hospital, no saguão, tias, avós, primos, todo mundo apavorado.Nunca tinham ouvido esse nome. Nem tinham lido "Os Irmãos Karamazov", de Dostoievsky.A mãe começou a ter um troço, pulava na cama como a menina do exorcista para ver se registravam a Gruschenka de Gruschenka, o pai até achava que estava possuída. Não adiantou nem o chilique. Decidido. A criança não se chamaria Gruschenka. A mãe teve que se conformar. Até que não foi ruim, mas puseram um nome na guria de olhão verde que ainda dá confusão: Denise? Marise? não, é Nize. Enize? Não, Nize. Viu? Se fosse Gruschenka, ninguém ia se confundir. Enfim...não é Gruschenka, mas é uma pessoa muito especial, filha, companheira, irmã irmã irmã...parceira, sensível, braba, mãe mãe mãe,  mulher, professora...13 de abril. O segundo maior presente da mulher que queria que a filha se chamasse Gruschenka.


quinta-feira, 7 de abril de 2011

COMO É RUIM O BICHO HOMEM

Uma coisa sacudiu quem estava acordando tarde hoje pela manhã, a mania de ligar a TV, um gesto automático, Ana Maria e o Louro José, mesmo que a gente não olhe. A loira espichada de óculos ( estaria com conjuntivite? ou seria outra plástica?) falava sobre uma doença de difícil diagnóstico, parecia AIDS, mas era outra doença. O cheiro do café recém passado espalhou-se pela casa, preparei o pão com margarina e paté - adoro paté de fígado - mas tudo ficou estático, como se um raio paralizante me atingisse. Eu não estava ouvindo o que a repórter-que-não-era-a-Ana estava falando. Não podia ser verdade. Seria sobre os Estados Unidos? Ou um novo filme? Ou um tiroteio na favela? Continuei paralisada, me negando a entender o que estava acontecendo. As imagens estavam ali, bem na frente dos meus olhos Talvez pior do que os aviões explodindo nas torres gêmeas, que foi mais menos no mesmo horário. Pessoas, muitas, em frente a uma escola, no Rio de Janeiro. Uma escola de Ensino Fundamental, alunos de 8 a 15, 16 anos. Um ex-aluno da escola - diz-que entrou para fazer uma pesquisa, muito comum em qualquer escola - um adolescente. Como qualquer adolescente. Abriu a porta de uma sala e atirou, balas e balas, bem nas crianças que pensaram que fosse uma brincadeira. Abriu outra e outra e outra e outra porta e atirou, atirou, atirou, imagino - não, não quero imaginar; me vejo na sala de aula,  quantas vezes, junto com alunos, quantas manhãs falamos sobre sentimentos, poemas, histórias, romances, sujeito, predicado, advérbio, vírgula.A porta se abre e um rapaz com um revólver atira. Para matar. E matou. MENINAS E MENINOS. Nunca mais voltarão para casa. Porque foram à escola, estudar. "Estudar para ser alguém no futuro". Não tem mais futuro.
Hoje é um dia de luto pra todos nós que acreditamos na educação. Que ensinamos aos jovens a acreditar no trabalho, no conhecimento, na justiça, no amor.
O que ensinamos para esse, que virou uma besta, um demônio, um assasino? Por que essa raiva, esse ódio da escola? Ou ele nasceu demônio? Como saber quem é o atirador?Como distinguir? O inimigo mora junto. O que tem dentro de uma mente doentia...como saber?
O bicho homem é o mais perigoso de todos os animais. Ele, esse bicho, é capaz de disfarçar, de fingir, de programar, de matar - quando tem no íntimo a maldade, a falta de amor ao próximo, o instinto incontrolável da fera que mora dentro...
Por quê?
Tristeza.Hoje é um dia de luto.

domingo, 3 de abril de 2011

DEZ-PEDIDAS

O ADEUS DA MIRINHA
Foi isso mesmo. Dez despedidas. A amiga da Mirinha se foi pro Alegrete. Não me perguntes onde fica o Alegrete. O Guri de Uruguaiana que é de Porto Alegre já traumatizou todo mundo com isso.  Dizem por lá que Uruguaiana é uma vila do Alegrete. Deixa assim. Pra eles ficarem bem faceiros, esclareço: Uruguaiana é onde inicia o Brasil.
Pois eu preciso falar das dez-pedidas. Cada mês uma amiga vai embora. E tem despedida. Mas essa que foi hoje, domingo, fez DEZ despedidas. Todas BOAS!!!Uma, foi um baile de carnaval no Cassino, na casa da Mirinha. Uma outra foi no Bolaxa ( assim mesmo, com X, não é erro de ortografia, é defeito de fabricação, desde o primeiro dia que deram o nome a esse bairro que fica na entrada do Cassino, Bolaxa é Bolaxa, do Arroio Bolaxa, um patrimônio ambiental -jantar na casa duma outra aposentada meio-uruguaia que convidou a turma para comer "micas". O que é? Uma bomba! O efeito  foi uma explosão! A receita: 14 cabeças ( cabeças, não dentes) de alho, carne, pão, azeite, pimenta,  frita, mistura, parecia uma tortilha, gostosa demais, PORÉM... até os vizinhos da Mirinha ouviram a artilharia noturna. Ainda bem que a Mirinha dorme sozinha.E assim foi, uma despedida atrás da outra, sempre acabando com abraços e lágrimas: " Vem me visitar, mi casa és tu casa" - essas coisas que a gente diz. De bolinhos de peixe a choripão ( salsichão com pão, para os inocentes ), com direito a jogo da verdade que ninguém se lembra o que falou...mas saiu cada verdade...A cada verdade, um brinde! Churras e cevas, de Mercedes Sosa a Pink Floyd, Chico e U2, Clara Nunes e Bob Marley... Um carreteiro de novo no Bolaxa, jantar na pizzaria no Cassinão,  e o Adeus no domingo. Estou escrevendo isto porque a Mirinha não para de falar. Quer deixar marcada a despedida. Até se vestiu de espanhola! Um Adeus dramático! Tomara que ninguém resolva ir embora por esses dias, Mirinha está esgualepada! Aliás, todas nós. Até breve, Liginha!

sábado, 2 de abril de 2011

ACADEMIA RIO-GRANDINA DE LETRAS - 30 ANOS

Quinta-feira aconteceu uma coisa muito emocionante comigo. A Glecy  Andrade, uma pessoa muito especial, dedicada ao trabalho comunitário no Cassino e na Querência - onde faz um trabalho com o Grupo de Mães - escritora, membro da ARL,  me convidou para os 30 anos da ARL e o lançamento da VI Coletânea - Ano 2011, da Academia. Primeira vez que participo de um evento com tantos escritores, pessoas que há anos se dedicam às letras, respirando arte literária, produzindo, prosa e poemas, escritores DE VERDADE. Eu, recém na minha primeira experiência literária, me senti  mergulhando num mar desconhecido, uma estrelinha bem pequenininha numa constelação assim,  como a Via Láctea. " Ora direis, ouvir estrelas...perdeste o senso...e eu te direi: amai para entendê-las, pois só quem ama é capaz de ouvir e entender estrelas." Que me perdoe Bilac por estraçalhar seu poema, mas foi bem assim que me senti.Ali, ao lado delas, as estrelas. Que honra. Que emoção. Como sou grata à Glecy, por me levar a participar dessa odisséia. Dos 19 escritores que publicaram na VI Coletânea, já os conheço todos: li tudo ontem e hoje. A alma transpassa papel e tinta. Esse povo riograndino que aprendi a admirar me deu um raro prazer: me senti quase uma escritora.