Awebic autossabotagem |
Mario Quintana. Sempre atual. O homem, esse eterno mascarado.
Ele dizia que quando o homem descobriu a própria nudez, inventou a máscara. Para esconder-se da vergonha de ser. Amarrou um pedaço de couro para cobrir suas vergonhas, aqueles primatas.
Depositphotos |
O homem, esse ser fantasiado.
Como se não bastasse a aparência externa de um visual para externar as diferenças, o homem quis descobrir o outro pela comunicação. Sinal de fumaça, impulsos elétricos, ondas sonoras, sons e imagens.
Surgiu o telefone, o homem ficou deslumbrado ao falar sem ter que se mostrar ao interlocutor.
O imenso mundo se transformou numa aldeia global. A lua dos namorados pisoteada pelo homem virou uma bola azul. Veio o computador, e com o Skype e o Orkut, os amigos foram chegando pela tela instantânea de qualquer lugar do Planeta Terra. A carta contando novidades de longe, a foto da família, essa carta tão individual, com essa foto tão íntima, deixaram a distância do tempo para o quase agora: O Face revelou não apenas a imagem, mas a imagem que é preciso pra se definir na rede social, verdade e mentira, realidade e ilusão, o computador entrou no celular e aqui estamos na mão e no olhar, revelando até as intimidades que poderão se tornar públicas num simples click. Paisagens, festas, viagens, a necessidade de postar, postar, postar. E as máscaras cada vez mais apelativas na incrível necessidade de se mostrar, não basta ser, tem que parecer.
Foi aí... Deu um blecaute.
mascarada Pinterest timbublr |
Apocalipse, peste, praga, guerra, solidão. É esta pandemia, um vírus que os homens carregam e disseminam, viaja pelo Planeta e entra sem avisar nos corpos pelo contato carnal, pelo beijo e pelo afago. Como viver sem?
Condenado ao isolamento físico, o homem sozinho não precisa de máscaras. Postar o quê? Melhor uma live, chamar pessoas também confinadas para o quadradinho da tela e clicar.
A emoção do postar, postar, postar foi substituída pelo vídeo imediato. Sua casa, seu quarto, sua mesa com comida, suas roupas da cintura pra cima, às vezes pego em flagrante íntimo consigo mesmo escabelado,com a cara natural num momento em que não queria aparecer. Sem máscara. Sem obrigação de aparentar para a sociedade.
Afinal, tem uma pandemia. Não tem reunião com amigos. Saco cheio. Mente vazia. Vontade zero. Não pode fugir pra casa da mamãe. Mamãe também está isolada.
. . .
Sorte do homem que tem comunicação virtual,ele sempre quis descobrir como se comunicar de longe. Conseguiu. Agora pode. Máscaras caem a todo momento.Pra que comprar roupas? Por que ostentar as jóias?E a bolsa de 5 mil, qual a necessidade?
Sem abraço, sem beijo, sem aperto de mão.
Basta Google Meet, Zoom, Messenger, Skype, Whatts - whatts, o supremo companheiro, o maior acompanhante neste verdadeiro vazio existencial.
POIS o homem de agora não quer mais isolamento. Não quer mais ficar na frente do computador. E dizer que só fazia isso...
Agora quer gente tocável, palpável, agarrável.
E para ir pra vida lá fora, vai usar máscara pra se defender da morte. De novo.
O homem, esse eterno mascarado.
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