Awebic-Autossabotagem espiritual |
Tem tudo em casa. NÃO!!! Falta fermento.Pedir pros filhos trazerem fermento, que abuso. Mas eu quero fazer sfiha agora.
Não sou doente, nem diabética sou mais. Joelhos doem às vezes, mas isso não é doença.Tenho 71 anos. Estou sem febre, sem tosse, fiz um monte de máscaras, lavei 553 vezes as mãos, gastei 3 litros de álcool gel, bem alimentada - até demais - nem rinite eu tenho, o que é marca registrada de Curitiba. Banho, cabelo com secador, brinco, batom não dá pois suja a máscara, perfume, roupa de passear, não levo bolsa,muito grande, o cartão vai no bolso. Acho que dá pra ir correndo no super (aqui em Curitiba é Mercado).Sou eu que dirijo, o Gordinho é só meu, tem álcool gel no carro. Desço no elevador apertando o botão com a ponta da chave. Rezo pra encontrar ninguém. E que não tenha muito carro lá.
No estacionamento do super procuro um lugar de não-idoso, pra não chamar atenção. Tem pouca gente nesse horário, Entro disfarçando, de máscara e óculos escuros, caminho toda empertigada, cuidando pra não renguear. Seguro o carrinho depois de lambuzar de álcool gel. Pouca gente, vou aproveitar e pegar cacetinho, manteiga, batatinha e cocazero . E fermento.
Tinha uns funcionários sem máscara repondo as gôndolas, uns clientes no açougue muito juntos, fui pro caixa com vontade de dar mais umas voltas, mas eu me comportei. Vou fazer uma reclamação. Como pode ter funcionários sem máscaras? E não tinha marcas de distanciamento no açougue.
Paguei as compras, passando álcool nas sacolas. Olhei a recepção. Vou reclamar.
Mas... Uma luz me acendeu, parei por segundo, e se?
E SE me disserem: - O QUE A SENHORA ESTÁ FAZENDO AQUI? Sabe que IDOSA é do grupo de risco?
Eu posso dizer:- Moço, o Trump tem 73 e faz essa bagunça no mundo, eu só vim pegar fermento.
Mas não disse nada. Meti o rabo entre as pernas e me mandei.
Cheguei em casa, tirei sapato na porta, tomei banho, nem fiz mais nada.
Não contei nada pra ninguém que fui ao super. Esse segredo vai pro inferno.
Me senti uma idosa sem vergonha. Safadinha.
Nunca mais.
Juro que nunca mais.