garabato |
É muito fácil falar sobre A CENSURA. Digamos que fosse uma redação de escola, isso seria uma orientação: Pergunte aos avós como era a censura na adolescência deles. Talvez o trabalho fosse assim:
A censura era para maiores de dezoito anos, no cinema tínhamos que apresentar a carteira de identidade para entrar, filme proibido era proibido.PROIBIDO PARA MENORES DE 18 anos. A gente ficava imaginando o que passaria na telona, procurava cartazes e ficava na imaginação.
Livros e revistas também tinham censura rigorosa. Às vezes um colega emprestava uma revista, se os pais descobrissem a coisa ficava preta!
Para ir à missa, vestidos não podiam ser decotados, havia véus para cobrir a cabeça, até que era bonito. Ir à missa era muito chic e, assim como no cinema, sempre tinha um moço ou uma moça para um flerte (flerte era "olhadinha"), olhares dos mais velhos sempre censurando...
Em casa, alguns temas eram censurados: não se falava sobre sexo; menstruação, camisinhas, partos, essas coisas, a gente ouvia escondido ou de amigos ou alguma tia muito avançada.Censura era coisa séria. Tão séria que era coisa feia comprar modess, os absorventes, as meninas pediam para mais velhas comprarem, parecia que o vendedor ia entrar nas intimidades. Os meninos tinham segredos para comprar camisinhas, que os pais achavam lindo, um sinal de masculinidade.
Censura era não falar à mesa nas refeições. Criança não se metia em conversa de adulto, de preferência, nem na sala ficava. Na escola, até o comprimento da saia era medido abaixo dos joelhos. A mini saia era coisa lá da Inglaterra. Teatro e miss era coisa de mulheres fáceis...Na verdade, a censura era mais com as meninas...
Política também tinha idade, começava no Grêmio Estudantil e os pais tinham muito medo que os filhos virassem comunistas. A gente ouvia coisas como "comunistas comem criancinhas", mas também muitos pais participaram das revoluções de Getúlio, Jango e Brizola. Foi aí que nós acordamos para outro tipo de censura: a censura política.
Com a LUA nos pés, Woodstok e Ditadura e The Wall e Tropicália, e Califórnias , Sexo Drogas e Rock'n Roll, a Censura foi para os jornais, rádio,teatro, cinema, escola, TV.
Isso poderia ser uma redação colegial, década de 60.
Atravessamos períodos de transformação e vimos a censura invadir nossa vida acompanhando a evolução das comunicações.
A censura foi bem conhecida quando se transformou em instrumento de cerceamento de liberdade. Falava-se muito dos russos, dos comunistas que matavam, aos capitalistas que compravam os países pobres - é tão fácil matar de fome! O mundo dividiu-se em direita e esquerda. O desejo irracional do ser humano de ter o poder de dominar o mundo criou formas de tortura e de aniquilamento, de simples fornos para queimar gente às das armas de destruição rápida como a bomba atômica, e lenta como as drogas - a mão que faz as armas faz os brinquedos das criancas, as drogas lîcitas e ilîcitas, a teoria da raça pura criou o racismo, o sexo deixou de ser uma exigência da natureza para se transformar em bandeiras, a religião não mais liberta, é mais uma censura e uma arma de terrorismo. Surgiu a internet e o mundo se transformou em uma aldeia global, o teu segredo vai se espalhar no mundo num clique na velocidade da luz. A Censura estava ameaçada.Ou transformou-se na maior arma de espionagem, já imaginada e registrada por George Orwel na obra *1984, onde a vigilância é onipresente para o Grande Irmão, que ironicamente ou intencionalmente será teatralizada num Big Brother e concretizada nas imagens universais do Whatsup, que tudo vê, que tudo pode, movida pelo superpoder de apenas um dedo de qualquer indivíduo - qualquer pessoa, em qualquer lugar DO PLANETA onde chegue um satélite. Eu sempre acredito na Arte e na Ciência, elas se completam. Em * Origem de Dan Brown o supercomputador responde as perguntas De onde vim?, Quem sou?, Para onde vou?, o computador que se cria e se destrói e que pode destruir tudo, eu já sei pra onde vou... Os filmes, os livros, as descobertas cientificas, o DNA e o Self, a instantaneidade da informação,ficam reduzidos a um bit.A Censura perdeu sua função. Não consegue mais ser uma arma social ou política.Impedir a primeira postagem. Quem for o primeiro é o herói. Poucas vezes para o bem - quase sempre para destruir, ridicularizar.
O Jornalismo está ferido. A reportagem, a notícia elaborada, pensada, investigada, real, perde longe para um simples instantâneo viralizado na internet.Ninguém mais sabe o que é verdade ou mentira.
Qualquer idiota pode montar uma foto ou alterar uma fala. O meu gesto de carinho pode virar um tapa, a minha ideia de liberdade pode se transformar em ofensa, parece que só o negativo consegue os cliques necessários para o sucesso.
O mundo se transformou numa turma de fofoqueiros de plantão.
A censura está desmoralizada.
- Essa seria uma a redação intelectual, analisando a Censura, hoje.
( Com licença, vou ver meu celular que está plin plin plin...Esse whats é a melhor coisa que me aconteceu, posso ver e saber tudo que acontece na família, na cidade, no universo. Em tempo real.Comunicação direta, sem intermediários.Eu escolho quem quero, o que eu quero Eu escolho meus amigos e inimigos. Meus grupos. Posso sair ou entrar na hora que quiser. . Sem censura. Censura nunca mais. Nunca imaginei que teria a instantaneidade da notícias SEM FILTROS E SEM CENSURA. Escolha. minhas escolhas.Minha ûnica responsabilidade.)
- Isso é um paradoxo.
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