E agora, estou abismada com meu Rio Grande do Sul.
Há pouco mais de dois meses, eu chegava no Aeroporto de Porto Alegre, pegava o Aeromóvel e o Trensurb para chegar à Rodoviária e pegar um ônibus, para Uruguaiana, minha Cidade Natal; viajar olhando as indústrias, as pastagens, osbichos, cidades e campos do meu Estado, como sempre eu faço, paisagens que
me acalmam a saudade no coração.
Pois hoje tudo isso está embaixo d'água. É o que vejo nas reportagens da mídia local de lá. Impossível imaginar o Salgado Filho, tão lindo, novo, dizia PORTO ALEGRE AIRPORT, em letras prateadas.Nosso Aeroporto estava tão lindo, tudo novinho. Agora... As lojas, as áreas de embarque, desembarque, alimentação, os Free Shops, estacionamento, ruas, passarelas - tudo, tudo embaixo d'água. até aviões que não puderam sair antes da quantidade de água que estourou o Guaíba. A Estação Rodoviária, eu ainda tinha elogiado o espaço para os viajantes, vou ver a foto para colocar aqui. Tudo tudo, como um brinquedo, imerso dentro de uma grandiosa lagoa de água vermelha.
Alguns dias antes dessa tragédia na capital do Estado, eu chorava ao ver Candelária, uma cidade tão linda, virando uma barragem. Eu passei minha vida em Uruguaiana com enchentes do Rio Uruguai, grandes chuvas alagavam as cidades ribeirinhas, mas eram correntezas que passavam . Nunca vi uma cidade sumir. Agora, era aterrorizante. As chuvas derramavam água sem cessar, enxurradas, corredeiras, e os rios do Alto Taquari estavam com volumes de água nunca vistos. Eu tinha medo, aquilo que é bem egoísta, porque tenho irmã e família lá, um medo de que Santa Maria fosse alagada também. Os rios tão cantados em prosa e verso, se transformaram em dragões se espichando com línguas de água levando tudo. As pessoas fugiram como nos filmes de Terremotos, Maremotos, Tsunamis...A Vida em primeiro lugar. Foi uma corrida pra salvar AS PESSOAS. Temos cidades varridas pela água. E seus habitantes vivendo em abrigos públicos, em ginásios, escolas, nas casas de amigos, SÓ COM A ROUPA DO CORPO. Os Bombeiros com barcos salvando vidas. Voluntários em todo lugar ajudando para mandar provisões onde faltam. Hospitais embaixo d'água. Supermercados embaixo d'água. Água e comida e roupa para muitos milhares de pessoas, como? Um filme de guerra.
Jamais imaginaria que PORTO ALEGRE, a minha capital de juventude e eterna, o Guaíba com o mais lindo Pôr de Sol do mundo, tivesse toda a região central se transformada no LAGO GUAÍBA. Eu vi uma operação de GUERRA se formar no Brasil para defender o RS.
FILME DE TERROR. FILME DE HUMANIDADE.
Foi se formando uma IMENSA rede de solidariedade. Os VOLUNTÁRIOS apareceram, surgindo de todos os cantos do Estado e de fora dele. Abrigos para as pessoas. As crianças. Para os cães, gatos. Doações de comida, de roupas, colchões, cobertores. Exército, Marinha, Aeronáutica.
Casas, prédios, que não foram alagadas, mas sem luz, sem água, as condições de uma tragédia afeta todos.
Cidades do Rio Grande do Sul. desaparecerem. Simples. Desapareceram.
As doações chegando, falta tudo, voluntários fazendo a diferença. Imaginem. O Governo tentando focar no apoio a um povo que perdeu até a identidade. começar do zero. Vimos o Brasil preocupado com o o RS. Os militares fazendo pontes flutuantes onde antes havia gigantes de concreto e que as águas levaram.
Não podemos imaginar se podemos falar em futuro. O presente é imperioso. Sobreviver.
Sobreviver, agora é o imediato.Curitiba, 17 de maio de 2024.