No início, foi apenas um programa. Ir ao cinema é um passeio trivial. Não para nós, AS GATAS. Tarde de segunda, vamos ver BARBIE ? Eu não conhecia o Jockey Plaza. Éramos só 4. Bóra lá.
Gostamos de participar de eventos que reúnem as massas, seria futilidade um filme infantil? E a Barbie faria 50 anos? Estaria com dores e enrugada? Sempre com aquele corpo de miss? Cabelo loiro, olhos azuis, sapatinhos de salto? Com aquela casa linda que nem toda mãe consegue comprar para a filha...
Quem vai? Por que vai? Como, quando, onde? Um cinema não custa pouco, é hoje dentro de um templo de consumo, só uma praça de alimentação e uma loja com luzes e brilhos explodem o cartão de crédito. R$ 28,00 uma caixa repartida ao meio pra pipoca doce e pipoca salgada. Média.
Por que não esperar o filme na TV, na Net, no computador, ou no celular? Simples: Não podemos perder o movimento, o desfile de modas e neste, o cor de rosa dos sapatos às roupas, casacos, pompons, bolsas... É dia de BARBIE, a curiosidade do inédito é desconcertante.
Lá estávamos nós, num mar de gente feliz, a energia da BARBILÂNDIA contagiando, as vovós e amigas senhorinhas enfiadas numa caixa rosa, com balões rosa , tons de rosa e camiseta original de Barbie. Não tem como fugir do contexto.
Eu já vi muitas Barbies. Desde as primeiras, tenho duas gurias que ganharam bonecas e... A BARBIE. Muitas Barbies, mas cada uma era A Barbie. As amigas tinham Barbie. Nas festas, presente era Barbie. Natal, Barbie. Agora sou vovó e ainda compro Barbie. Algumas sobreviveram, outras ficavam sem roupas, tinham os cabelos cortados ou amados e copiados. Passados mais de 5 décadas, as Barbies, estão em todos os estilos, assumiram todas as profissões, raças, esportes; tem rainhas, princesas, gordas, astronautas, sereias, borboletas, cadeirantes, e surgiu um KEN para acompanhar a Barbie, e um Alan. Eles, também, assumiram papéis; salva vida, surfista, ciclista, todos que a Barbie precisa. Eles amam a Barbie.
Começa o filme no mundo perfeito, maravilhoso, cor de rosa com casas, clubes, lojas, mares, coqueiros, refrescos e copos, acessórios, o mundo da Barbie .
Não posso nem devo contar o filme. Mas deu muito pano pra manga. A BARBIE atravessa o portal pra dimensão real dos humanos. E fica chocada ao se deparar com as meninas que brincavam de Barbie e que agora estão sem tempo e condições para realizarem os sonhos.
Na expectativa de um filme infantil, ficamos com muitos assuntos para discutir. Estamos num momento muito delicado, qualquer opinião pode ser entendida como preconceito, falar de feminismo ou machismo seria discriminação, até a palavra fascista passou a ser estupidamente banal.
Com todo o cuidado de manter a sétima arte que é o cinema na sua função artística, exploramos o evento com todo o respeito às lembranças de cada Barbie com quem convivemos, e entre donuts, cafés, chopes, pipocas, doces e travessuras, ficamos observando fora da sala do cinema: roupas pretas, maquiagens pretas, saltos finos e altíssimos, roupas coloridas com muito rosa, roupas e corpos de Barbies (e pensar que fomos e usamos tudo isso), porque é importante ver alegria no mundo. Também.
Uma tarde que precisa ser contada aqui. Registrada sem medo de ser feliz. Cor de rosa.