Lolipink |
- Mãe, teu nome está em uns quantos carros por aí...
Meu filho chegara da FURG, e me surpreendeu com isso. Eu tinha chegado há menos de um ano para trabalhar na escola estadual do Cassino, balneário. Agora, estava de candidata à diretora? Como? Um texto voou agora.
..............................................................................................
Num dia qualquer, eu fiquei na sala da Dona Terezinha, no Círculo Operário, uma escola mantida por entidades filantrópicas em Uruguaiana.
Minha primeira escola, eu devia estar em transe, meu sonho era ir pra escola. Não havia Jardim de Infância, entrava direto na 1ª série. 1955.
Minhas histórias com cadernos, lápis, livros começaram ali. Podiam ter começado antes, mas meus irmãos mais velhos não deixavam eu pegar o material deles. Material escolar era caderno, lápis e borracha. Numa pasta, daquelas que tem uma aba. E se arrancasse folha, apanhava da mãe.
5 professoras. Dorilda, e uma diretora D. Edith, até a 5ª série.
Comendador Bermudez era o patrono, ou dono, eu achava. Foi minha primeira fase, a estreia, eu me sentia uma estrela num cinema de sucesso, posso dizer que o colégio foi meu mundo das respostas.
Fui para o Ginásio no Instituto União. Escola particular, Metodista, minha segunda estreia num filme que passou muito rápido. Professores que marcaram a fase intermediária para um curso científico e uma Escola Normal, não consigo nomear todos, os professores foram fantásticos, sabem aquele candidato a presidente? Cada professor que entrava, era um discurso que eu aplaudia. Acho que não tive professor ruim. Até o seu Jonas, da disciplina, era legal, sisudo como todo cuidador devia ser. E um reitor americano, Wilbur Smith, muito Metodista, gravata e camisa branca de manga curta, parecia o dono do mundo. Mas o dono do mundo era meu pai.
D. Diva Zadra, D. Lilia Guimarães, professoras com mais de 60 anos de magistério, mais duas dezenas que não consigo nomear todos aqui. A disciplina era prioridade. Isso me ajudou a segurar minha vontade de mudar o mundo. E de namorar o homem que viria ser meu marido, pai dos meus filhos, jogador de basquete,da família fundadora do União.
Professora. Foi assim que me formei, na Escola Normal do Instituto União. Colegas que até hoje nos encontramos. 55 anos histórias, desde minha formatura. Depois, Filosofia, Jornalismo, cursos maravilhosos e abandonados para seguir o marido e filhos. Letras, esse concluí e voltei a lecionar, no Nossa Senhora do Horto e voltei ao União professora e também professora dos meus filhos neste colégio, o que me deu uma compreensão maior da diferença de mãe para professora: a professora tinha que exigir dos meus filhos na escola igual aos outros alunos, com liberdade de expressão, como eu tentava passar; e a mãe, em casa, exigir mais dos filhos para responderem às obrigações, com regras e com liberdade.
Trabalhei com professores fantásticos, que faziam a felicidade ou o terror dos alunos. E ENSINAVAM muito. O aluno precisava saber para a vida, mens sana in corpore sano. Ciências, Humanas, Mente e Corpo. Simples, assim. Arte, esportes, palcos, viagens, laboratórios, Olimpíadas, muita convivência, foi uma ERA DE DESCOBERTAS.
Sindicalista do SINPRO/RS, fiz greve das escolas particulares por um plano salarial , contra o SINEPE, um desafio numa sociedade conservadora e numa época de ditadura. Ninguém foi demitido e conseguimos um avanço. Dias em que a gente brigava, doesse em quem doesse, aprendi o que é política na carne.
A FAFIUR, minha Faculdade de Letras, da PUC, outras pessoas, eu era aluna, como é bom ser aluna, professores mais que bons, amadureci muito na profissão com os exemplos. Meus colegas que são meus amigos.
Filosofia sempre foi uma busca pra mim, Fantasia é preciso na vida, Português e Literatura entram direitinho no Sonho por um mundo melhor e Sentimentos alimentados pela realidade. Aluno é aluno, está esperando um professor que entre na sala e dê seu show. Professor coloca seus problemas na bolsa em seus minutos e horas e dias de fama. Professor, hora aula trabalhada, às vezes, 15 por dia, em escolas diferentes. Literatura tinha uma aula só por turma, tinha mais de 600 alunos numa semana. Em Português, havia as redações. E minha família sempre sob controle, tinha que manter "as rédeas" de tudo. Agora era viúva, sem o companheiro da vida, o grande amor, tinha os filhos pra colocar no PLANETA TERRA.
Entrei no Estado, uma realidade diferente. Outros tempos, a entrada da internet, como trazer a nova onda para dentro da sala, só com giz e quadro? Te vira...
Fui para o E E Dom Hermeto, Literatura, Ensino Médio à noite, e E E Roberval Beheregaray,Ensino Médio, Português. Meu mundo revirou. Precisava aprender a ser um professor de escola pública. Acho que consegui. Meus alunos gostavam das minhas aulas.Eu acho.E meus colegas eram demais de queridos. Então, pela manhã, veio um contrato para a E.E.Romaguera Correa. Português , Ensino Fundamental. Deixei meu União e fiquei toda na Educação do Estado do Rio Grande do Sul. 60 horas. Pode? Naquela falta de professores de Português, o Estado contratou mais 20 horas. Uma viúva precisava mais segurança? Era a mentalidade da época. Fui.Se perdi dinheiro, foi um rumo na profissão. Profissão que me levou para Rio Grande. Destino? Sorte? Escolhas? Pois é... seguindo os filhos pra Universidade Federal, fui parar em Rio Grande, na E.E.Silva Gama, no Balneário Cassino. E estavam precisando de professor de Português e Literatura. Caiu bem na hora. Seria uma mudança de tudo.Em Uruguaiana, chorei para a 18ª me dar transferência, precisava alugar uma casa no Cassino, onde os três filhos moravam para estudar na Universidade Pública. Em Uruguaiana, 3 escolas precisariam de professor. Ninguém queria me largar. Foi então que recebi um abraço e entendi por que nós somos professores e não apenas empregados. Os Diretores e a Secretária de Educação entenderam a razão de eu precisar morar em Rio grande.
Deixei Minha Uruguaiana, a grande família, os amigos, em menos de um mês estava morando no Cassino e trabalhando no Silva Gama. Tudo novo. Eu estava no Cassino, NA PRAIA !