MINHA VIDA É UM PALCO

MINHA VIDA É UM PALCO
Somos como atores neste palco que é o mundo, as cenas são os dias e noites, e o roteiro quem escreve é a VIDA!A vida depois dos 60. É começar novo, novos horizontes, um mundo diferente e muito mais LEVE! A gente está sempre começando, sempre aprendendo...E aos 60 anos, a gente nasce de novo! A minha Infância da Maturidade! COMO SERÁ NOS 70?Na minha ADOLESCÊNCIA da Maturidade...CHEGUEI! Cheguei chegando imaginando a vida toda...70 ANOS! BÓRA LÁ QUE A VIDA TÁ PASSANDO!!!E até uma PANDEMIA!Nunca pensei ...De repente, ficar presa em casa, sozinha. Se sair, o CORONA VÍRUS pega. Horrível todo mundo sem se tocar.

sábado, 15 de outubro de 2022

PROFESSOR: Um dia qualquer

 

                                                                                                                       

Lolipink

- Mãe, teu nome está em uns quantos carros por aí...

Meu filho chegara da FURG, e me surpreendeu com isso. Eu tinha chegado há menos de um ano para trabalhar na escola estadual do Cassino, balneário. Agora, estava de candidata à diretora? Como? Um texto voou agora. 

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Num dia qualquer, eu fiquei na sala da Dona Terezinha, no Círculo Operário, uma escola mantida por entidades filantrópicas em Uruguaiana.

Minha primeira escola, eu devia estar em transe, meu sonho era ir pra escola. Não havia Jardim de Infância, entrava direto na 1ª série. 1955.

Minhas histórias com cadernos, lápis, livros começaram ali. Podiam ter começado antes, mas meus irmãos mais velhos não deixavam eu pegar o material deles. Material escolar era caderno, lápis e borracha. Numa pasta, daquelas que tem uma aba. E se arrancasse folha, apanhava da mãe. 

5 professoras. Dorilda,  e uma diretora D. Edith, até a 5ª série.

Comendador Bermudez era o patrono, ou dono, eu achava. Foi minha primeira fase, a estreia, eu me sentia uma estrela num cinema de sucesso, posso dizer que o colégio foi meu mundo das respostas.

Fui para o Ginásio no Instituto União. Escola particular, Metodista, minha segunda estreia num filme que passou muito rápido. Professores que marcaram a fase intermediária para um curso científico e uma Escola Normal, não consigo nomear todos, os professores foram fantásticos, sabem aquele candidato a presidente? Cada professor que entrava, era um discurso que eu aplaudia. Acho que não tive professor ruim. Até o seu Jonas, da disciplina, era legal, sisudo como todo cuidador  devia ser. E um reitor americano, Wilbur Smith, muito Metodista, gravata e camisa branca de manga curta, parecia o dono do mundo. Mas o dono do mundo era meu pai.

D. Diva Zadra, D. Lilia Guimarães, professoras com mais de 60 anos de magistério, mais duas dezenas que não consigo nomear todos aqui. A disciplina era prioridade. Isso me ajudou a segurar minha vontade de mudar o mundo. E de namorar o homem que viria ser meu marido, pai dos meus filhos, jogador de basquete,da família fundadora do União. 

Professora. Foi assim que me formei, na Escola Normal do Instituto União. Colegas que até hoje nos encontramos. 55 anos histórias, desde minha formatura. Depois, Filosofia, Jornalismo, cursos maravilhosos e abandonados para seguir o marido e filhos. Letras, esse concluí e voltei a lecionar, no Nossa Senhora do Horto e voltei ao União professora e também professora dos meus filhos neste colégio, o que me deu uma  compreensão maior da diferença de mãe para professora: a professora tinha que exigir dos meus filhos na escola igual aos outros alunos, com liberdade de expressão, como eu tentava passar; e a mãe, em casa, exigir mais  dos filhos para responderem às obrigações, com regras e com liberdade. 

Trabalhei com professores fantásticos, que faziam a felicidade ou o terror dos alunos. E ENSINAVAM muito.  O aluno precisava saber para a vida, mens sana in corpore sano. Ciências, Humanas, Mente e Corpo. Simples, assim. Arte, esportes, palcos, viagens, laboratórios, Olimpíadas, muita convivência, foi uma ERA DE DESCOBERTAS.  

Sindicalista do SINPRO/RS, fiz greve das escolas particulares por um plano salarial , contra o SINEPE, um desafio numa sociedade conservadora e numa época de ditadura. Ninguém foi demitido e conseguimos um avanço. Dias em que a gente brigava, doesse em quem doesse, aprendi o que é política na carne. 

A FAFIUR, minha Faculdade de Letras, da PUC, outras pessoas, eu era aluna, como é bom ser aluna, professores mais que bons, amadureci muito na profissão com os exemplos. Meus colegas que são meus amigos. 


 Filosofia sempre foi uma busca pra mim, Fantasia é preciso na vida, Português e Literatura entram direitinho no Sonho por um mundo melhor e Sentimentos alimentados pela realidade.  Aluno é aluno, está esperando um professor que entre na sala e dê seu show. Professor coloca seus problemas na bolsa em seus  minutos e horas e dias de fama. Professor, hora aula trabalhada, às vezes, 15 por dia, em escolas diferentes.  Literatura tinha uma aula só por turma, tinha mais de 600 alunos numa semana. Em Português, havia as redações. E minha família sempre sob controle, tinha que manter "as rédeas" de tudo. Agora era viúva, sem o companheiro da vida, o grande amor, tinha os filhos pra colocar no PLANETA TERRA. 


Entrei no Estado, uma realidade diferente. Outros tempos, a entrada da internet, como trazer a nova onda para dentro da sala, só com giz e quadro? Te vira...

Fui para o E E Dom Hermeto, Literatura, Ensino Médio à noite, e E E  Roberval Beheregaray,Ensino Médio, Português.  Meu mundo revirou. Precisava aprender a ser um professor de escola pública. Acho que consegui. Meus alunos gostavam das minhas aulas.Eu acho.E meus colegas eram demais de queridos. Então, pela manhã, veio um contrato para a E.E.Romaguera Correa. Português , Ensino Fundamental. Deixei meu União e fiquei toda na Educação do Estado do Rio Grande do Sul. 60 horas. Pode? Naquela falta de professores de Português, o Estado contratou mais 20 horas. Uma viúva precisava mais segurança? Era a mentalidade da época. Fui.Se perdi dinheiro, foi um rumo na profissão.    Profissão que me levou para Rio Grande. Destino? Sorte? Escolhas? Pois é... seguindo os filhos pra Universidade Federal, fui parar em Rio Grande, na E.E.Silva Gama, no Balneário Cassino. E estavam precisando de professor de Português e Literatura. Caiu bem na hora. Seria uma mudança de tudo.Em Uruguaiana, chorei para a 18ª me dar transferência, precisava alugar uma casa no Cassino, onde os três filhos moravam para estudar na Universidade Pública. Em Uruguaiana, 3 escolas precisariam de professor. Ninguém queria me largar. Foi então que recebi um abraço e entendi por que nós somos professores e não apenas empregados. Os Diretores e a Secretária de Educação entenderam a razão de eu precisar morar em Rio grande. 

Deixei Minha Uruguaiana, a grande família, os amigos, em menos de um mês estava morando no Cassino e trabalhando no Silva Gama. Tudo novo. Eu estava no Cassino, NA PRAIA !

Nessa nova fase de minha vida de professora, pude dar aulas enquanto tinha um mar me esperando no fim de semana. Adoro o mar. 
No Cassino, vivi um outro mundo. Simplicidade, beleza natural, pessoas que me receberam com braços abertos, uma comunidade que jamais vou esquecer. Sou grandemente agradecida a essa comunidade com a qual trabalhei e vivi grandes momentos de realização profissional.  Eu era fronteiriça, trazia um mar verde de pasto, agora tinha um de água.

Um dia, meu filho que estudava  Oceanologia na FURG, chegou admirado " Mãe, teu nome está em muito carros por aí, DIRETORA GLADIS".
E foi assim, de repente eu era diretora da maior escola estadual do balneário, a equipe de vice-diretores era poderosa, professores muito reconhecidos e um povo que queria mudança. Professores e funcionários, mesmo com salários defasados, fizeram a frente.
Mudamos. Trouxemos a comunidade pra dentro da escola, reformamos, pintamos, pregamos, todo mundo junto consegue até o impossível. 
Foram anos de realizações, de transformar a escola em evento, fazer com que os alunos gostassem de estar na escola, quermesses, bailes, jogos,banda, CPM forte, professores e funcionários, militares, políticos, a Autarquia (prefeitura) do Cassino sempre colaborando, comércio, não tenho como explicar tudo, seria um livro. Quem sabe. Até hoje, o CASSINO é meu paraíso, pelas belezas e pelas pessoas. AS GAIVOTAS continuam voando, algumas para muito longe, além do horizonte. Gratidão.

Assim, o DIA DO PROFESSOR me trouxe para este blog. Quem sabe, consigo sair de vez da pandemia e voltar para o que eu amo: escrever. 

O que é um professor? Eu sei.  


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

GATAS FUGINDO DA PANDEMIA

       No final de 2021, minha amiga Yeda realizou a celebração 
de Natal,já uma data no nosso calendário. Ela queria festejar
a nossa volta de portas abertas para nosso grupo de estudos, 
AS GATAS, e final do ano, voltamos à forma presencial, 
com todos os protocolos da pandemia. Fui encarregada de tentar resumir num texto o que foi esse tempo
em que ficamos isoladas, inicialmente imaginando ser alguma virose, mas o inimigo silencioso minou o mundo. Pessoas desconhecidas sofriam, hospitais como em tempo de guerra,pessoas gemendo por uma inspiração de ar que não mais lhe podia respirar. Imagens de caminhões frigoríficos com gente morta, não poder se despedir dos que saiam dos hospitais num caixão lacrado. Éramos proibidas pelos próprios filhos de sair de casa, nós, quase todas 60+, sexygenárias.  
Com a descoberta das vacinas, pudemos ter de novo a ESPERANÇA e a liberdade. 
E nosso grupo não se separou na pandemia: com a facilidade da tecnologia, entramos na fase virtual, reuniões de estudos por vídeo com  disciplina e horário, conseguimos dublar o isolamento obrigatório. Assim chegamos todas vivas na celebração do Natal 21, na casa da Neiva, que nos recebeu com pompa e carinho de PORTAS ABERTAS. A reflexão em cima de algumas palavras, que Yeda separou: MEDO ESPERANÇA ANGÚSTIA INCERTEZA FÉ IMPOTÊNCIA, direcionaram nossa celebração  com o nascimento de Jesus, a fuga para o Egito,  a perseguição de Herodes, e o retorno de Jesus a Nazaré; simbolicamente, o povo subjugado pelo poderoso(o vírus) e pela perseguição  da morte(a pandemia), e finalmente, a volta de Jesus(a vacina).A volta da ESPERANÇA.
Quem leu a Bíblia conhece a história. 
Quem viveu e vive a pandemia, sabe bem . 
As portas estão abertas, sim, mas tudo mudou; a
LUZ QUE ILUMINA é diferente, a INCERTEZA quanto o dia de amanhã ficou. Mesmo assim, tudo precisa  continuar. Nada substitui o abraço, o beijo, o toque, o sexo. Vai demorar um pouco para acabar com o vírus, mas já vimos que será possível: "Ah, o homem, esse eterno mascarado."
 
   
   
foto mascaras teatrales

 

           

 


                PORTAS ABERTAS

 

Parecia um filme de ficção. O que deveria ser apenas uma doença maligna na China, contagiou a Europa e chegou por terra,céu e mar inclusive no Brasil, trazendo a ameaça de morte a quem abrisse a porta da casa.

 O vírus estava lá. 

Um minúsculo vírus  trouxe a desconfiança de tudo que estivesse lá fora. Prisioneiros em casa, os idosos abreviavam a existência na Terra. 
O Planeta estava doente de morte. COVID.
Os cientistas conheceram a impotência frente ao tempo. Tempo perdido frente ao desconhecido. Hospitais cheios de pessoas precisando de ar. Pessoas morrendo sem ar. Surgem as máscaras, talvez ajude. Nunca tantos lavaram as mãos. O álcool era o líquido precioso.  
                                    Fechar tudo. 
Desconfiar do jornalista da TV, desconfiar do amigo que não usava máscara, mais a raiva e impaciência de sofrer com as incertezas das limitações e ignorâncias do ser humano.

 

Era um  tempo perdido no medo e na incerteza do quando e se haveria salvação. Só não paravam as mortes. Quem conseguia um leito, também não sabia se era um adeus de condenado que nunca mais veria seus amores.

 

Deus, ó Deus, só em ti encontrar a Esperança. Na oração, buscar o vazio sem o aconchego de braços e abraços; na confiança, enxergar a luz através das janelas, pois o sol continuava a brilhar. Todos os dias.
 Confiança na ideia do SER:TEMOS TODO O TEMPO DO MUNDO! Todos os dias, quando acordo, agradeço a Deus pelo tempo que passou. E me preparo para a FESTA DA VIDA!

 

Enquanto a inteligência humana descobre as vacinas do combate ao coronavírus, e ESSA VACINA chega aos nossos corpos, um respiro de liberdade nos deixa abraçar nossos queridos, e nos faz sair para a rua, ver as pessoas passando, respirar mesmo com máscaras, e o   resto é a FÉ em Deus, que nos dá  todo o tempo do mundo. 
O tempo da CONFIANÇA .
                                      Beijar filhos, netos, receber amigos, agradecer e, finalmente, de PORTAS ABERTAS. 




Curitiba, 18 de dezembro de 2021.

 

sábado, 29 de janeiro de 2022

BOA NOITE

 

    Estamos em 2022. 

    Pra quem o mundo ia acabar em 1965, bota tempo nisso....

    Eu tinha certeza que morreria aos 17 anos. Avisei pra todos. Pros colegas, pros amigos. Minha melhor redação foi 1965, O Ano do Fim. Foi meio dramático, eu gostava de filmes, romances, poemas. 

    Era 18 de fevereiro de 1965.Até me despedi da família antes de dormir.  Toda a família jantando, o que era difícil juntar todo mundo, é que no outro dia era meu aniversário. 

   Anunciei pra família: Vou morrer. Adeus. Deixem que eu durma na eternidade, boa noite! 

   Meu pai ficou com aquele olhar de dúvida e fez que não ouviu. 

   Minha mãe disse bobagem da Gladis. 

   Só um irmão, o meu quase gêmeo Candido me deu um abraço e tchau e aproveitou pra fugir pela porta dos fundos pra fazer coisas proibidas pelas noites de Uruguaiana.

   Juro que me deitei bem compenetrada, de costas, mãos entrelaçadas, roupa branca, como se faz quando morre. 

   Assim acordei no dia seguinte, dia do meu aniversário, e vi que não tinha morrido. 

   Foi decepcionante.  

   Enfrentar o mundo, lembro que foi como se tivesse nascido sem ter escolhido nada. Sem ninguém. Chorei. Acho que chorei muito. Ninguém se preocupou por eu não ter morrido. 

   Foi a maior desilusão da minha vida. 

   Se eu tivesse morrido, todos estariam gritando, tenho certeza, escolhendo roupas e caixão lindos,  fechariam o comércio, encheriam a casa de amigos e parentes, meu noivo e família chorando, a escola suspenderia as aulas e os colegas iam tudo pra praça e pro velório e se abraçariam, os amigos, até quem não me conhecia ia vir curioso ver a mocinha que tinha morrido mocinha aos 17.

Mas não. Eu estava viva e ninguém se importou com isso. 

Se eu tivesse morrido, fariam uma pedra, colocariam minha foto de formatura e escreveriam  uma morte precoce, saudades eternas , coisas assim.

Mas eu estava viva. Nem alegria, nem tristeza. Minha vida não foi festejada por ninguém Nem por minha MÃE!!!Nem por meu PAI! Não me restou nada mais, a não ser levantar e entrar na rotina da vida. Coisa mais sem graça, meus 17 anos. Nem por você, nem por ninguém, eu me desfaço dos meus planos... 

Faz mais de 20.000 dias, desde os 17, que todas as noites me despeço do mundo. E mais de 26.000 dias, desde que nasci, que acordo tendo que enfrentar a vida.


É frustrante quando se tem uma expectativa de vida e as coisas não acontecem como a gente espera. Levei anos pra me recuperar da tragédia.

Na falta de algo mais interessante, vamos lá!!!


73 anos em fevereiro. Se me acordar. Será?

Então...Estou de novo, hoje, enfrentando mais este dia. Já falei Bom Dia?

Bom Dia. 

 BOM DIAAAAAA!!!!!!!