Plaquinha Casa Festa |
Véspera de Santo Antonio. Já faz anos que não fazemos mais as provas. A gente chamava de PROVA, era um preparo da casa, com a melhor sala com tudo que fosse preciso para realizarmos AS provas: uma bacia grande, copo, água, papel...
Lá fora, um quintal grande ou pátio aberto, ou campo, a fogueira preparada, tinha fogueira todo mês de junho, Santo Antônio, São João dia 24, São Pedro, dia 29, Padroeiro do Rio Grande do Sul, mas no 12 de junho (década de 50), não era dia dos namorados, era o dia de PEDIR MARIDO pro Santo.
Moças, meninas moças, solteironas, todas se reuniam na casa da mãe mais dedicada a desencalhar as gurias. Avós, mães, madrinhas, tias, todas ajudavam a montar a cerimônia. Os pais ficavam na torcida, se a filha fosse uma desfrutável ou muito feia iriam ter problemas.
Quem se lembrar, me ajude, vou falar só das provas mais decisivas e impactantes. E tudo DE VERDADE, a coisa era séria. Quem não se casasse, teria que cuidar dos irmãos, dos sobrinhos, dos velhos da família, e ainda fazer os trabalhos de casa. Casar era ter a própria casa, mandar na vida, fazer sexo. Era uma festa! Muito riso, muita animação, segredos revelados, quem já beijou, tudo esquentando...
Então, as prometidas sentadas ao redor da mesa, as famílias preparando a festa, crianças enxotadas pra fora da casa,Santo Antônio, coitado, com toda a responsabilidade.
Mais ou menos assim:
- copo com metade de água, uma aliança de qualquer pessoa pendurada por um fio do próprio cabelo, pendurava dentro do copo, quase tocando na água; não podia mexer a mão, a coisa era meio sobrenatural, a aliança começava a balançar sozinha, e... quantas vezes a aliança batia no copo, eram os anos que faltavam para o casamento. Algumas devotas do Santo queriam morrer quando a aliança batia sem parar; mas como a moça ficava feliz quando davam duas ou três badaladas...O pior: quando a aliança ficava pendurada, sem se mexer...a criatura ficaria encalhada pro resto da vida!!!E ninguém roubava no jogo. Mas muito engraçado.
- uma bacia grande com água, um barquinho de papel pronto para navegar na bacia, e ao redor, por dentro, colados, papéis com o nome das casadoiras. Fazia um redemoinho na água, e, dentro do barquinho de papel o nome de um dos grandes partidos da cidade, conhecido pelo grupo, desde um garanhão lindão até o mais transparentes ou infeliz dos mortais. O barquinho iria parar num dos nomes. O pior ou melhor é que acontecia o casamento...
- num pedacinho de papel, escrevia o nome do desejado marido, enrolava bem e enfiava dentro de uma laranja:essa laranja ia pra cima da casa. Ficava toda noite lá. Na manhã de Santo Antônio, ia pegar a laranja, devidamente molhada pelo sereno ou geada da noite: se estivesse intacta, nada feito; se amanhecesse aberta, casamento na certa.
- copo com o dedo de todas, nomes dos rapazes colocados ao redor da mesa, alguns pontos de interrogação, falava-se o nome da moça casadoira, o copo escolhia.Interrogação era quando o pretendente ainda não tinha aparecido...Parecia o jogo do copo de hoje, quem sabe, esse jogo surgiu por causa desse desafio junino.
- Segurar a vela pingando na água da bacia: formava uma letra, a letra DO AMADO! E aparecia! Não tinha como roubar...
E lá fora ficavam os guris,os moços, pretendentes e candidatos,nervosos, fumando e bebendo, esquentando a fogueira, esperando que o Santo resolvesse a vida deles...
E o Santo, coitado, todas as mães colocavam Santo Antônio em lugares estranhos, e enquanto a filha não casasse, o Santo ficaria preso, sem vela e sem oração.
Mas como era bom quando dentro da casa a função terminava,era uma gritaria, mocinhas enlouquecidas e alvoroçadas, moços ansiosos já aquecidos, todo mundo ao redor da fogueira, tinha música, dança, muito amendoim e quentão com e sem álcool, muito chimarrão passando de mão em mão, e as mãos passando.
...Pois o namoro vai ser sempre uma conquista e uma surpresa.
Por mais que mudem as atitudes, continuam as escolhas.
Ontem vi a live do Fabio Junior, hoje tenho a live do Luã Santana. Puro amor. Pois namorar é bom.E não adianta querer só virtual. Vou parar por aqui... Santo Antônio é terrível!